Acaraú de luto após morte de enfermeira e professora vítimas de feminicídio
Valdian de Sousa Melcaco, 28, foi impedido de aproximar-se da ex-companheira Kelry Veríssimo, 24, por meio de medida protetiva, mas invadiu a residência da família e matou a enfermeira e a mãe dela a facadas. O sogro sobreviveu e está internado. Prefeitura de Acaraú decretou três dias de lutoUm caso de duplo feminicídio, na cidade de Acaraú, a 233 quilômetros de Fortaleza, destruiu uma família
inteira e deixou a cidade de 63.556 habitantes de luto. Valdian de Sousa Melcaco, de 28 anos, descumpriu uma medida protetiva que o proibia de se aproximar da ex-companheira, a enfermeira Kelry Veríssimo, de 24 anos. No domingo, às 5 horas, ele pulou o muro da residência e matou a mãe de suas duas filhas a facadas.
A mãe de Kelry, a professora Maria de Jesus Veríssimo, de 47 anos, interveio para tentar impedir a morte da filha, mas também foi esfaqueada. O pai de Kelry tentou defender as duas e foi lesionado. As informações são da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). A família toda foi encaminhada ao hospital, mas Maria de Jesus e Kelry não sobreviveram. O pai está internado. Valdian sofreu tentativa de linchamento por meio dos moradores e está hospitalizado sob escolta da Polícia Militar, que o prendeu em flagrante.
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A tragédia aconteceu sob o olhar de uma criança de apenas seis anos de idade, que presenciou tudo. A cidade decretou luto oficial a partir de ontem, por três dias, em razão da morte das duas servidoras públicas do município. Os corpos de mãe e filha foram velados juntos em uma igreja na zona rural e, na frente da unidade de saúde onde estava internado o agressor, as pessoas aglomeravam-se. Com o intuito de que não houvesse invasão no hospital, houve reforço policial e, posteriormente, ele foi transferido.
Segundo a Polícia, Valdian não aceitava o fim do relacionamento. Há duas semanas, ele insistia em comentar nas redes sociais da ex-companheira afirmando que a amava e pedia a volta do casal. Mandava mensagens com "Te amo" e escreveu dezenas de frases em fotografias publicadas em 2021, 2018 e do começo do relacionamento dos dois. "Vamos ser feliz novamente uma chance pra (SIC) vida que vamos estabelecer pra (siC) nossas filhas", dizia.
Kelry pediu por uma medida protetiva contra Valdian, que foi concedida. Na quinta-feira, 25, ele teria recebido a visita do oficial de Justiça para notificá-lo que estava proibido de se aproximar da ex companheira. Após 72 horas, ele descumpriu a decisão e causou uma tragédia.
De acordo com apuração do O POVO com uma fonte da Polícia Civil, a medida protetiva pedida pela vítima foi feita por meio de um advogado que buscou o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e o Ministério Público do Ceará (MPCE). A vítima tinha receio de comparecer à Delegacia e, por isso, a Polícia Civil não foi procurada. Também não consta Boletim de Ocorrência (B.O) sobre o caso. "Ela tinha receio de ir à delegacia denunciar por medo e optou por fazer dessa forma. A própria conduta dela de não ir à delegacia já presume o medo que tinha do companheiro", relatou a fonte. Amigos e parentes lamentam a morte de mãe e filha
A vítima era pós graduada em Saúde Pública com ênfase em Saúde da Família. Era mãe de duas meninas e muito querida em Acaraú. Em uma publicação, nas redes sociais, uma colega comentou: "Minha amiga de faculdade, sempre de bem com a vida. Não consigo acreditar em tamanha brutalidade com alguém de coração enorme. Deus receba você e sua mãe", comentou uma amiga de Kelry.
Muitos alunos e professores também lamentaram a morte da professora Maria Veríssimo: "Lamentável.
Uma guerreira. Trabalhei sete anos com ela. Sempre foi uma mulher exemplar. Meus sentimentos a
família e amigos", relatou.
O velório acontecia na igreja da localidade de Cauassú, zona rural de Acaraú, onde a vítima morava. O sepultamento também seria no cemitério da mesma localidade.
24 mulheres foram vítimas de feminicídio no Ceará nos primeiros 10 meses de 2021
24 mulheres foram vítimas de crime de feminicídio no Ceará nos primeiros 10 meses de 2021. Em 16 destes casos, houve a prisão dos suspeitos. Em 2020, também foram registrados 24 casos de feminicídio, no período dos 10 primeiros meses. Nesse intervalo, 13 suspeitos foram detidos.
As informações são fornecidas pela Gerência de Estatística e Geoprocessamento (Geesp) da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), vinculada à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social.
Entre janeiro de 2018 e outubro de 2021, período de quase três anos, foram 115 mulheres vítimas de feminicídio no Ceará. Entre janeiro e dezembro, em 2018, foram 30 casos, em todo o ano de 2019, 34 mulheres foram mortas, em 2020 o núero teve uma queda para 27 e nos 10 primeiros meses de 2021, o índice está em 24.
Em 2021, os números da estatística mostram que,dos 24 casos de feminicídio, foram cinco em Fortaleza, um na Região Metropolitana, 10 no Interior Norte e oito no Interior Sul. O Interior Norte, que concentra o maior índice de morte de mulheres vítimas da violência doméstica, representa 41% dos casos, deste fazem parte as Áreas Integradas de Segurança (AIS) 14, 15, 16 E 17.
Veja quais são os municípios de cada AIS:
AIS 14: Alcântaras, Barroquinha, Camocim, Cariré, Carnaubal, Chaval, Coreaú, Croatá, Forquilha, Frecheirinha, Graça, Granja, Groaíras, Guaraciaba do Norte, Ibiapina, Martinópole, Massapê, Meruoca, Moraújo, Mucambo, Pacujá, Santana do Acaraú, São Benedito, Senador Sá, Sobral, Tianguá, Ubajara, Uruoca e Viçosa do Ceará.
AIS 15: Acarape, Aracoiaba, Aratuba, Barreira, Baturité, Boa Viagem, Canindé, Capistrano, Caridade, Guaramiranga, Itapiúna, Itatira, Madalena, Mulungu, Ocara, Pacoti, Palmácia, Paramoti e Redenção.
AIS 16: Ararendá, Catunda, Crateús, Hidrolândia, Independência, Ipaporanga, Ipu, Ipueiras, Monsenhor Tabosa, Nova Russas, Novo Oriente, Pires Ferreira, Poranga, Reriutaba, Santa Quitéria, Tamboril e Varjota.
AIS 17: Acaraú, Amontada, Apuiarés, Bela Cruz, Cruz, General Sampaio, Irauçuba, Itapajé, Itapipoca, Itarema, Jijoca de Jericoacoara, Marco, Miraíma, Morrinhos, Pentecoste, Tejuçuoca, Tururu, Umirim e Uruburetama.
Entenda como denunciar casos de violência:
Na reportagem de Mirla Nobre, publicada no dia 14 de julho, há uma lista para buscar ajuda em casos de violência doméstica e explica quais os fatores que inibem as denúncias das mulheres contra os agressores.
Veja como buscar ajuda:
Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180
Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza (DDM-FOR)
Rua Teles de Souza, s/n - Couto Fernandes
Contatos: (85) 3108- 2950 / 3108-2952
Delegacia de Defesa da Mulher de Caucaia (DDM-C)
Rua Porcina Leite, 113 - Parque Soledade
Contato: (85) 3101-7926
Delegacia de Defesa da Mulher de Maracanaú (DDM-M)
Rua Padre José Holanda do Vale, 1961 (Altos) - Piratininga
Contato: 3371-7835
Delegacia de Defesa da Mulher de Pacatuba (DDM-PAC)
Rua Marginal Nordeste, 836 - Jereissati III
Contatos: 3384-5820 / 3384-4203
Delegacia de Defesa da Mulher do Crato (DDM-CR)
Rua Coronel Secundo, 216 - Pimenta
Contato: (88) 3102-1250
Delegacia de Defesa da Mulher de Icó (DDM-ICÓ)
Rua Padre José Alves de Macêdo, 963 - Loteamento José Barreto
Contato: (88) 3561-5551
Delegacia de Defesa da Mulher de Iguatu (DDM-I)
Rua Monsenhor Coelho, s/n - Centro
Contato: (88) 3581-9454
Delegacia de Defesa da Mulher de Juazeiro do Norte (DDM-JN)
Rua Joaquim Mansinho, s/n - Santa Teresa
Contato: (88) 3102-1102
Delegacia de Defesa da Mulher de Sobral (DDM-S)
Av. Lúcia Sabóia, 358 - Centro
Contato: (88) 3677-4282
Delegacia de Defesa da Mulher de Quixadá (DDM-Q)
Rua Jesus Maria José, 2255 - Jardim dos Monólitos
Contato: (88) 3412-8082
Casa da Mulher Brasileira
A Casa da Mulher Brasileira é referência no Ceará no apoio e assistência social, psicológica, jurídica e econômica às mulheres em situação de violência. Gerida pelo Estado, o equipamento acolhe e oferece novas perspectivas a mulheres em situação de violência por meio de suporte humanizado, com foco na capacitação profissional e no empoderamento feminino.
Telefones para informações e denúncias:
Recepção: (85) 3108.2992 / 3108.2931 – Plantão 24h
Delegacia de Defesa da Mulher: (85) 3108.2950 – Plantão 24h, sete dias por semana
Centro Estadual de Referência e Apoio à Mulher: (85) 3108.2966 - segunda a quinta, 8h às 17h
Defensoria Pública: (85) 3108.2986 / segunda a sexta, 8h às 17h
Ministério Público: (85) 3108. 2940 / 3108.2941, segunda a sexta , 8h às 16h
Juizado: (85) 3108.2971 – segunda a sexta, 8h às 17h
Casos de feminicídio que chocaram o Ceará
No dia 14 de janeiro de 2021 a gestante Efigênia Soares, de 28 anos, foi encontrada morta. Ela teve o corpo queimado e enrolado em um colchão. A vítima era estudante de Fisioterapia e havia desaparecido um dia antes. A Polícia Civil descobriu que Efigênia foi morta pelo companheiro dela, Wando Cordeiro Vasconcelos, de 35 anos, que não aceitava a gravidez.
Stefhani Brito Cruz foi morta em janeiro de 2018 pelo ex-companheiro Alberto Nobre Calixto Filho. Ele foi preso em fevereiro de 2019 no Pará pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O corpo de Stefhani foi encontrado às margens da Lagoa da Libânia, no Mondubim, no primeiro dia do ano. A jovem estava com as duas pernas quebradas e apresentava hematomas e outros sinais de tortura. Imagens do autor do crime com a vítima na motocicleta, possivelmente morta, circularam na Internet.
Adriana Moura Pessoa de Carvalho Moraes, de 39 anos, e a filha de oito meses, Jade Pessoa de Carvalho Moraes, foram mortas a tiros na madrugada do dia 23 de agosto de 2015 em uma casa de veraneio no município de Paracuru. O autor do crime era o companheiro de Adriana e pai de Jade, Marcelo Barberena Moraes.
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