'Fungo negro': espécie que matou duas pessoas no Ceará em 2023 é identificada

'Fungo negro': espécie que matou duas pessoas no Ceará em 2023 é identificada

O fungo Saksenaea erythrospora foi o agente causador da mucormicose que vitimou duas pessoas no Vale do Jaguaribe; investigação aponta possível contaminação por uso compartilhado de seringa

A investigação epidemiológica iniciada em 2023 no Ceará, após a morte de duas pessoas com sintomas semelhantes de infecção fúngica, teve desfecho importante neste ano. Foi identificado que a espécie responsável pelos óbitos é o Saksenaea erythrospora, um fungo da ordem Mucorales, causador de mucormicose, conhecida popularmente como "fungo negro".

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As vítimas foram um homem de 51 anos, agricultor, e uma mulher de 48 anos, técnica de enfermagem, ambos moradores do mesmo município na região do Vale do Jaguaribe, a cerca de 312 km de Fortaleza.

Os dois casos ocorreram no mês de abril de 2023. As vítimas apresentaram lesões similares na pele e foram internadas na mesma unidade de saúde.

A semelhança dos quadros clínicos chamou a atenção das autoridades sanitárias e deu início a uma investigação epidemiológica, conduzida pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs).

Ao O POVO a assessora técnica do Cievs, Kamilla Carneiro, explicou que a investigação seguiu os protocolos usuais de vigilância, voltados para surtos e eventos incomuns. Segundo ela, desde o início já se suspeitava de uma infecção fúngica, posteriormente confirmada como mucormicose.

A espécie exata do fungo, no entanto, só foi determinada recentemente, após análises realizadas pelo Laboratório de Micologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Trata-se de uma espécie rara, inédita até então em casos registrados no Brasil.

'Fungo negro': o que é e como evitar a infecção

A mucormicose é uma infecção causada por fungos presentes no ambiente, especialmente em solos e matéria orgânica em decomposição. Normalmente, acomete pessoas imunossuprimidas, mas também pode ocorrer por trauma direto na pele, o que, segundo a investigação, é a hipótese mais provável nos casos do Ceará.

Suspeita-se que tenha havido compartilhamento de uma seringa contaminada entre os pacientes, fator que teria facilitado a inoculação direta do fungo. No entanto, Kamilla ressalta que essa é uma hipótese epidemiológica e não uma conclusão definitiva.

Por não se tratar de uma doença de notificação obrigatória, não há dados consolidados sobre a ocorrência da mucormicose no Brasil, o que dificulta traçar um panorama nacional da infecção.

Apesar disso, casos isolados são documentados em artigos científicos e na literatura médica. Durante a pandemia de Covid-19, a doença ganhou visibilidade por acometer pacientes graves, principalmente na Índia.

Kamilla também reforça a importância de cuidados básicos para prevenir esse tipo de infecção, como o uso de medicamentos injetáveis em ambientes estéreis e o não compartilhamento de seringas.

“Preparar medicamentos em local limpo e adequado, preferencialmente em ambiente hospitalar, é fundamental para evitar esse tipo de contaminação”, informou.

A descoberta da espécie Saksenaea erythrospora como agente causador desses casos será publicada em artigo científico, que atualmente está em fase de revisão.

A publicação trará detalhes do estudo laboratorial e poderá contribuir com o conhecimento médico e científico sobre infecções fúngicas raras no país.

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