Operação contra GDE prende mais de 80 pessoas e revela como tribunal do crime funciona

Operação contra GDE prende mais de 80 pessoas e revela como tribunal do crime funciona

Investigados atuavam como lideranças e no tráfico de drogas, além de integrarem o setor de disciplina da organização, responsável por punições internas com agressões físicas e mortes

Mais de 80 pessoas membros da facção cearense Guardiões do Estado (GDE) foram presas ao longo da operação ‘Purgation’, que chegou à 13ª fase nesta sexta-feira, 21. Na nova etapa, a Polícia Civil do Ceará (PC-CE) cumpriu 11 mandados de prisão, sendo sete em unidades prisionais e quatro de alvos em liberdade nos municípios de Fortaleza, Maracanaú, Tauá e Quixadá.

Entre as 84 pessoas presas na operação, um seria apontado como 'conselheiro' da facção cearense, que tinha papel de alto escalão na organização. Além da captura dos membros, a investigação também revelou a existência e detalhes da atuação do tribunal do crime — setor de ‘disciplina’, principalmente em atuação no município de Tauá, no sertão de Inhamuns.

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De acordo com o delegado regional de Tauá, Danilo Távora, o setor de ‘disciplina’ da facção é responsável por julgar e punir membros do grupo por diversas infrações, desde o não pagamento de uma taxa acima de R$ 100 mensal chamada de ‘caixinha’ até traição, conhecido como ‘rasgar a camisa’. No local, são utilizados métodos violentos como agressões físicas, que eram filmadas no tempo de pelo menos três minutos.

“Cada integrante tem que pagar uma quantia mensal para a organização criminosa. Alguns não conseguiam pagar, três meses sem pagar, e eles recebiam uma punição”, disse o delegado. As agressões eram feitas por outros integrantes e, por vezes, eram obrigados a realizar as agressões, que eram gravadas e mandadas para um líder do grupo.

“Eles tinham que ver se realmente foi feita a punição, que era para uma maneira de coagir para que não tivesse mais esse tipo de punição”, comenta. Além do não pagamento dos valores, as punições também estariam relacionadas à droga que sumiam, condutas proibidas ou possíveis traições. O delegado também comenta que as punições eram, às vezes, divididas, e a última punição era o decreto de morte.

A investigação aponta outros detalhes de condutas nas quais os membros eram submetidos ao tribunal. “Às vezes também tem um furto de bairros que não podia furtar em certos bairros ou, às vezes, alguém passava alguma informação para outra pessoa que não podia”, detalha Távora sobre a série de situações que os líderes da facção definiam qual era o tipo de punição.

Entre hierarquias abaixo do conselheiro estão os cargos nomeados de “legionários”, ‘STG’ e ‘STF’, sendo esse o primeiro na hierarquia da facção. No setor, o delegado explica que um ou mais líderes definem qual vai ser a punição. A partir dessa punição, eles chamam os integrantes. “Às vezes, o cara [membro] não quer ir porque, às vezes, é um amigo, mas é obrigado que senão ele que recebe a punição”, explica o delegado.

Investigação revela quatro mortes e uma tentativa de homicídio no tribunal

A investigação da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) constatou que quatro pessoas foram mortas e uma teria sido alvo de uma tentativa de homicídio no tribunal do crime da GDE. A investigação teve início em outubro de 2023 a partir da morte de uma mulher no tribunal. O homicídio foi registrado no município de Tauá.

Além de identificar integrantes da facção, a operação investiga casos de tráfico de drogas e tentativas de homicídio nos municípios de Quixadá, Quixelô e Tauá. “Essa última fase é só quem integra organização criminosa. Só vai terminar quando a gente conseguir tirar o último integrante da organização criminosa aqui do estado”, explica Danilo.

Além das 84 prisões, sendo uma delas em flagrante por crime ambiental e de maus-tratos a animais após uma rinha de galo, também foram cumpridos 130 mandados de busca e apreensão, com apreensão de celulares, carros e motos, utilizadas nos crimes de homicídio e tráfico de drogas. As ações policiais são coordenadas por equipes do Departamento de Polícia Judiciária do Interior Sul (DPJI Sul).

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