Vizinhos se salvam de alagamento no bairro Autran Nunes
Em nota, a Defesa Civil de Fortaleza informou que recebeu um chamado na Avenida da Liberdade e que uma equipe irá ao local para avaliar a situação das residências afetadas
Enquanto alguns aproveitam o último dia de folia do Carnaval 2025, os moradores do bairro Autran Nunes, em Fortaleza, enfrentam sérios problemas devido às fortes chuvas que atingiram a região na madrugada de terça-feira, 4. O transbordamento do Rio Maranguapinho causou alagamentos nas residências, alterando completamente a rotina da comunidade.
Alagamentos causam destruição nas casas
A equipe de reportagem do O POVO visitou a localidade e constatou que as águas do rio, já bastante cheias, invadiram as casas e destruíram móveis. A situação é ainda mais crítica devido ao acúmulo de lixo e à vegetação densa no leito do rio, que impedem o escoamento adequado da água. As ruas Quatro, Caetano Silva e Daniel de Castro, na região, também enfrentam o mesmo problema.
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Moradores relatam perdas materiais e desespero
Maria Lúcia Bernardes Soares, de 64 anos, doméstica, acordou às 4 horas da manhã com a chuva intensa. Juntamente com o irmão Francisco José Bernardes Soares, de 56 anos, massagista do Ceará Sporting Clube, e o sobrinho Francisco Jonas Bernardo Soares, de 35 anos, repositor de mercadorias, ela lutou para salvar os pertences da casa. “Eu queria uma indenização”, diz Maria Lúcia, que ainda não sabe se teve algum item danificado.
Francisco José, que estava voltando do Carnaval na Mocinha, no dia 3, encontrou a casa destruída e, apesar do cansaço, precisou se preparar para trabalhar no dia seguinte. “Sentimento de desespero. Aqui eu já fiz o guarda-roupa e a cama de alvenaria, porque senão ia ser embora”, lamenta.
Ana Célia Silva Souza, de 55 anos, monitora de acabamentos de camisaria, e seu esposo Francisco Antônio Vieira da Silva, de 59 anos, encarregado de manutenção, enfrentam sérias dificuldades devido aos danos. Ana Célia, que sofre de hérnias de disco e bursite, e Francisco Antônio, com diabetes, perderam vários móveis, incluindo a máquina de lavar e dois armários. “A gente não tem mais força nem saúde para estar levantando móveis”, desabafa Francisco Antônio, que cobra medidas urgentes para resolver o problema.
Eles relatam que, apesar de o carro ter sido salvo ao ser transferido para outra garagem, a situação é insustentável. “Se o pessoal não fizer um trabalho, uma conscientização dos açudes e fazer uma limpeza no rio, vamos viver o resto da vida desse jeito. A vontade da gente é sair daqui”, completa Francisco.
Causas do transbordamento
Moradores apontam que o problema está relacionado à abertura abrupta das comportas de açudes na parte superior do Rio Maranguapinho, o que provoca o transbordamento rápido das águas. Antigamente, os alagamentos se limitavam às garagens, mas, atualmente, as casas são invadidas, causando destruição. “Eu já tenho problema na coluna, levantar um sofá desse é um sofrimento. A glicose vai lá pra cima. Você vê suas coisas boiando na água, fica nervoso, não tem o que fazer”, desabafa Francisco.
Medidas solicitadas pela comunidade
Os moradores exigem a manutenção do rio e o controle mais eficaz da liberação das águas. Sem essas ações, afirmam que a situação continuará insustentável e, possivelmente, inviabilizará até a venda dos imóveis afetados. Francisco relata que, em muitos casos, as famílias trabalham apenas para repor o que perderam. “Nem termina de pagar uma coisa e já tem que comprar outra”, diz ele, lembrando que o guarda-roupa destruído no ano passado foi substituído por um novo, comprado apenas no ano seguinte.
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Segundo Ana Célia, os alagamentos têm se intensificado nos últimos anos. Ela prevê que, em 2025, a situação será ainda pior. “Uma hora essas casas não vão aguentar. A estrutura enfraquece com tanta água. Quando tiver acidente, vão querer fazer alguma coisa. Hoje a gente acordou às 4 horas da manhã, com gente batendo no portão avisando que a água estava subindo”, alerta.
Posicionamento da Defesa Civil
Em nota, a Defesa Civil de Fortaleza informou que está com cinco equipes em operação em diversas áreas da cidade, avaliando a situação das comunidades afetadas, como as situadas ao longo do Canal do Genibaú. A chuva intensa e a maré alta, combinadas com a sangria do Rio Maranguapinho, foram fatores que contribuíram para o transbordamento.
A Defesa Civil comunicou que, embora não tenha ocorrido alagamentos nas ruas Caetano Silva e Daniel de Castro, a situação está sendo monitorada. As equipes estão priorizando os atendimentos conforme a gravidade das ocorrências e orientam que a população acione o Ciops, pelo telefone 190, em caso de risco.