Preso suspeito de chefiar facção em Maracanaú responderá em liberdade
Investigação diz que Carlos Alberto Portela, conhecido como Beto 2, está ligado a guerra entre facções, mas Justiça apontou que não houve apreensões que corroborassem com a acusação
O homem preso na última quinta-feira, 23, suspeito de ser chefe de uma organização criminosa que age em Maracanaú e em Pacatuba (na Região Metropolitana de Fortaleza) obteve a liberdade provisória na sexta-feira, 24.
O juiz responsável pela audiência de custódia disse não haver indícios de que Carlos Alberto Portela, conhecido como Beto 2, de 50 anos, chefia ou mesmo integra a facção criminosa Comando Vermelho (CV).
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“Em que pese a indicação de relatórios de inteligência da delegacia especializada (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas — Draco) em questão apontando o autuado como líder do grupo criminosa ‘CV’, verifico que não houve a apreensão de qualquer elemento indiciário que possa corroborar o presente auto de prisão em flagrante”, afirmou o juiz Victor Nogueira Pinho.
“Ao compulsar as circunstâncias subjetivas do autuado, verifico que o custodiado possui residência fixa, emprego lícito, além de ser pessoa tecnicamente primária, sem antecedentes criminais, de modo que não há os requisitos para decretação da prisão, haja vista a ausência dos requisitos do art. 311 e art. 312 do CPP (Código de Processo Penal)”.
O próprio Carlos Alberto negou, em depoimento, participar de qualquer organização criminosa. Ele foi preso em um sítio, no bairro Pavuna (em Pacatuba), onde também estavam diversos outros homens armados.
Conforme a Draco, esses homens eram faccionados e atuavam na “contenção” de Carlos Alberto. Quatro deles foram presos em flagrante pela Polícia Militar na manhã de quinta, mas outros suspeitos conseguiram fugir.
Carlos Alberto disse que os homens haviam sido enviados por ordem de Anastácio Ferreira Paiva, o “Doze” ou “Paulim Maluco”, apontado como uma das principais lideranças do CV no Estado e que está escondido na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ).
Conforme afirmou Carlos Alberto, os “seguranças” foram enviados após ele ser vítima de duas tentativas de homicídio.
Doze teria entrado em contato com ele oferecendo a ajuda, pois, conforme disse o suspeito, o faccionado “gostava muito” do filho dele, identificado como Paulo Roberto Ferreira Portela. Carlos Alberto disse não ter tido escolha senão aceitar a oferta.
Paulo Roberto foi assassinado em 27 de dezembro na Unidade Prisional Professor Clodoaldo Pinto (UP-Itaitinga2), na RMF, por detentos ligados à GDE. Um outro filho de Carlos Alberto, Paulo Alexsandro Ferreira Portela também está preso suspeito de integrar organização criminosa.
Suspeitos teriam "rasgado camisa" de facção, aponta a Draco
A Draco aponta que pai e filhos têm ligação direta com a criminalidade em bairros como Pajuçara, Jardim Bandeirantes e Pavuna. A investigação aponta que eles “rasgaram a camisa” da GDE e passaram a integrar o CV e, com isso, tiveram a morte decretada pelos antigos aliados. Há até mesmo publicações em redes sociais ameaçando Beto 2 de morte.
Ainda de acordo com a Draco, um denunciante afirmou que Carlos Alberto se tornou inimigo da GDE após ordenar um crime em que um homem foi morto e outras três pessoas foram baleadas, em uma residência localizada no Jardim Bandeirantes, no último dia 11 de dezembro. Esse crime “trouxe à tona a fúria” dos integrantes da GDE na região, aponta a Draco.
Carlos Alberto nega envolvimento com a tentativa de chacina e o inquérito que investiga o caso segue em andamento sem indiciamentos até o momento. Ele também nunca foi condenado por nenhum crime.
Em 2017, ele foi preso por posse irregular de arma de fogo de uso permitido, mas solto logo em seguida e o processo judicial ainda não foi julgado. Em 2021, ação da própria Draco cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Carlos Alberto, mas não foram encontradas provas contra ele — os filhos dele, porém, foram denunciados e condenados.
Por outro lado, denúncias anônimas, datadas entre 2015 e 2023, apontam Carlos Alberto como tendo envolvimento em tráfico de drogas.
Câmara Municipal de Maracanaú se posiciona sobre prisão
Carlos Alberto disse em depoimento que é dono de um frigorífico e que ainda trabalha como assessor parlamentar do vereador de Maracanaú Cristiano de Almeida Lima, que, hoje é Secretário Especial de Relações Institucionais do município.
Por meio de nota, a Câmara Municipal de Maracanaú negou a informação, dizendo que o nome dele não consta na lista de funcionários da Casa. Veja o texto na íntegra:
A Câmara Municipal de Maracanaú vem a público esclarecer que o senhor Carlos Alberto Portela não exerce a função de assessor parlamentar nesta Casa Legislativa, não faz parte do quadro de colaboradores da Câmara e, portanto, seu nome não consta na relação de servidores presente no relatório de transição da legislatura passada.
Diante das informações veiculadas recentemente, reforçamos nosso compromisso com a transparência e a veracidade dos dados funcionais desta instituição.
Maracanaú, 28 de Janeiro de 2025
Câmara Municipal de Maracanaú
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