Apps e inseticidas residuais: conheça as novas tecnologias usadas no CE contra o mosquito da dengue
Formações são realizadas em municípios do Estado para adoção de novas técnicas. Estratégias que antes estavam em fase de avaliação se tornaram políticas públicasNão deixar água acumulada em pneus, garrafas, tampas, vasos ou comedouros de pets já são técnicas conhecidas da população para impedir a reprodução do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika. Somado a isso, o Ceará utiliza tecnologias para monitorar e eliminar os insetos.
Uma delas é a ovitrampa. O dispositivo consiste em uma “armadilha” feita em um vaso com um líquido que atrai a fêmea do mosquito. Os ovos postos no recipiente são recolhidos para análise laboratorial semanalmente e passam por uma contagem.
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A partir disso, é possível mensurar a presença do Aedes em uma região específica e, com isso, direcionar as ações de controle do mosquito. O método já é antigo, mas ganhou um aplicativo para compilação de dados desenvolvido pela Fiocruz, Cefet-RJ e Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com o Ministério da Saúde (MS).
De acordo com Carla Freitas, articuladora do Grupo Técnico de Controle Vetorial das Arboviroses da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), o app Conta Ovos traz gráficos e informações mais precisas.
Em 2024, 11 municípios do Estado trabalharam com as ovitrampas incorporando o app: Varjota, Ipu, Sobral, Viçosa do Ceará, Icapuí, Canindé, Horizonte, Itaitinga, Brejo Santo, Juazeiro do Norte e Jaguaruana.
As cidades foram escolhidas para o ano avaliativo com base em critérios epidemiológicos (número de casos de arboviroses) e entomológicos (presença dos mosquitos).
“Os municípios que trabalharam com ela nesse ano ficaram muito empolgados, porque é relativamente acessível. Uma ferramenta barata e traz muita sensibilidade aos dados. A gente consegue complementar outros tipos de monitoramento, ter uma visão bem oportuna e assertiva de onde estão as áreas mais críticas”, explica Carla.
Já em 2025, o Estado busca expandir o uso da metodologia para outros municípios, tendo recebido 3.500 kits de ovitrampas do Ministério da Saúde. O app, que antes passava por pesquisas, agora é adotado como política pública no Brasil.
Assim como o Conta Ovos, outras políticas que antes estavam em fase de teste devem ser expandidas no País, conforme Rivaldo Venâncio da Cunha, secretário adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do MS.
Algumas delas ainda não tem previsão para serem utilizadas no Ceará, como a liberação de insetos estéreis em áreas indígenas e a fábrica de Biofábrica de Aedes com Wolbachia (bactéria que impede o desenvolvimento dos vírus das arboviroses nos mosquitos), que ainda está sendo construída no Eusébio.
Técnicas que utilizam larvicidas e inseticidas
As Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDLs) também entram no rol de tecnologias que serão distribuídas no Ceará. Durante a fase de pesquisa, elas chegaram a ser implementadas em Fortaleza, no bairro Joaquim Távora.
Uma outra forma de armadilha, as EDLs são recipientes que funcionam como criadouros impregnados com larvicida. Ao pousar no recipiente, as micropartículas do larvicida aderem ao corpo das fêmeas do mosquito.
Como elas visitam muitos criadouros para colocar ovos, o larvicida acaba sendo disseminado, contaminando a água de outros recipientes. Com isso, o desenvolvimento das larvas é interferido e elas podem não chegar à fase adulta. A ideia é espalhar as EDLs em locais com alta densidade populacional.
“Nós vamos colocá-la em todas as maiores cidades do país, inclusive aí no Ceará. O Ministério da Saúde vai distribuir as estações disseminadoras e os refis com os larvicidas. E caberá ao município, sob a coordenação estadual, instalar essas armadilhas nos bairros onde tem maiores índices de infestação”, afirma Rivaldo.
A Borrifação residual intradomiciliar (BRI-Aedes) é outra estratégia de controle do mosquito que passará a ser política pública. Em nota técnica publicada no dia 7 de janeiro deste ano, a Sesa define como a técnica será utilizada no Ceará, os cuidados na aplicação e monitoramento.
A técnica consiste na aplicação de inseticida residual nas paredes internas de imóveis onde há grande circulação de pessoas durante o dia, como escolas, abrigos, estações de metrô, prédios públicos, entre outros.
Por ter uma ação prolongada, o produto fixa na parede de concreto e é eficaz contra o mosquito que eventualmente pousa na superfície. A BRI pode promover ainda a repelência dos vetores, evitando que eles fiquem no interior do imóvel.
Carla explica que o critério para escolher as cidades que vão trabalhar com a técnica prioritariamente também será o número de casos e o número de infestação de mosquitos. No fim de 2024 foram realizados treinamentos e a implantação deve iniciar a partir deste janeiro.
“Tem todo um critério epidemiológico que a gente tem que seguir. Inclusive porque com uso de inseticida a gente tem que ter a maior parcimônia possível”, afirma. O MS garante que a técnica é segura à população, animais domésticos e meio ambiente.
Para funcionar, técnicas precisam do engajamento da população
As técnicas só funcionam se a população se engajar também no combate ao mosquito. É o que defende Josete Malheiro Tavares, coordenador de Vigilância em Saúde de Fortaleza.
“Para a população, sempre tem aquela sensação de que quanto tem um carro fumacê, está resolvendo o problema. Na verdade, é utilizar uma arma pesada num momento crítico para cortar a transmissão. Mas se não mantiver os cuidados com recipientes que acumulam água, duas semanas depois volta o risco de proliferação”, explica.
Para ele, esse é o grande desafio: o envolvimento da população no combate ao vetor. “Não é só uma questão de aplicar tecnologia para eliminar o mosquito”, afirma. É preciso avançar no ponto de vista das medidas individuais também, como a limpeza de quintais, calhas, vedação de caixas d'água e eliminação de criadouros.