Ceará realiza mais de 2 mil transplantes em 2024 e bate recorde de 26 anos
Ceará registrou o maior número de transplantes de órgãos e tecidos de sua história, com 2.029 procedimentos. O Estado também lidera o ranking nacional de transplantes de córneaO Ceará realizou em 2024 o maior número de transplantes de órgãos e tecidos da história do Estado. De acordo com a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), foram realizados um total de 2.029 procedimentos, entre transplantes de rim, fígado, pulmão, pâncreas, coração, medula óssea, córnea e válvulas cardíacas.
Em 1998, ano em que as operações começaram a ser realizadas no Estado, foram feitos cerca de 173 procedimentos. Ao longo de 26 anos, o volume de transplantes no Ceará cresceu quase 12 vezes, um aumento de aproximadamente 1.073%.
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O último recorde no número de transplantes no Ceará ocorreu em 2016, quando foram realizados 1.874 procedimentos. Já em relação ao ano passado, quando foram realizados 1.726 transplantes em hospitais estaduais, houve um aumento de aproximadamente 17,5%.
Em contrapartida, o ano de 2020 apresenta o menor número de transplantes realizados desde 2011, com apenas 1.122 procedimentos. Conforme a Sesa, isso reflete o impacto da pandemia da Covid-19.
Série histórica de transplantes de órgãos e tecidos no Ceará (1998 - 2024)
1998: 173
1999: 190
2000: 272
2001: 202
2002: 296
2003: 420
2004: 559
2005: 519
2006: 446
2007: 654
2008: 742
2009: 760
2010: 872
2011: 1.295
2012: 1.269
2013: 1.361
2014: 1.399
2015: 1.430
2016: 1.874
2017: 1.519
2018: 1.536
2019: 1.616
2020: 1.122
2021: 1.521
2022: 1.675
2023: 1.726
2024: 2.029
Fonte: Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa)
Eliana Régia Barbosa, orientadora da célula do Sistema Estadual de Transplantes (Cetra), ressaltou a importância da marca também para o sistema de saúde nacional. “Os transplantes salvam e proporcionam qualidade de vida não apenas para cearenses, mas também para brasileiros de outros estados que, diante dos nossos resultados, procuram o Ceará para realizar seus transplantes”, comenta.
Os procedimentos mais realizados em 2024 foram os transplantes de córnea, com 1.329 realizados. Além disso, foram 252 transplantes de fígado, superando o recorde de 229 procedimentos em 2019. Os transplantes cardíacos também bateram um recorde, com 35 procedimentos concretizados.
Transplantes realizados no Ceará em 2024:
Córnea: 1.329
Fígado: 252
Rim: 239
Medula Óssea: 155
Coração: 35
Esclera (tecido que reveste o globo ocular): 13
Rim/Pâncreas: 3
Pulmão: 3
Fonte: Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa)
Ceará lidera o ranking de transplantes de córnea por habitantes
De acordo com o mais recente Registro Brasileiro de Transplantes, entre janeiro e setembro de 2024, o Ceará lidera o ranking de transplantes de córnea por milhão de habitantes, com 963 procedimentos realizados [atualmente são 1.329]. Isso corresponde a 146 transplantes de córnea por milhão de habitantes.
Coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do HGF, Márcia Vitorino explica que as principais causas de transplante de córnea são enfermidades como ceratocone, ceratopatia bolhosa, úlceras de córnea, distrofias e, em casos de urgência, lesões como queimaduras.
“O transplante de córnea devolve a visão ao paciente, permitindo que ele retome uma vida normal. As crianças e adultos vão melhorar a qualidade de vida e podem ser acompanhados ao longo da vida. Já os idosos, ao recuperar a visão, readquirem a independência. Então o impacto é muito significativo”, diz.
O transplante é indicado apenas para doenças que afetam diretamente a córnea, não sendo recomendado para outras condições oculares.
Biólogo cearense recupera a visão após transplante
Uma das pessoas que teve a vida transformada pelo transplante de córnea foi o biólogo Sanjay Veiga, 39, morador de Fortaleza. Em 2019, ele foi surpreendido por um fungo que contaminou seu olho esquerdo. O diagnóstico foi de ceratite fúngica. “O fungo cobriu minha córnea inteira. Era como se tivesse um algodão em cima dela, visualmente falando, e a dor era sem tamanho”, ele lembra.
Biólogo e mestre em Ciências Veterinárias, Sanjay dedica-se ao registro de espécies e à preservação da fauna cearense. A única solução para sua condição era o transplante de córnea, caso contrário, perderia a visão do olho esquerdo. “O que colocaria em risco o que eu mais amo fazer: observar a natureza”, relata.
Diante dos custos elevados do tratamento em hospitais particulares, Sanjay buscou ajuda no Sistema Único de Saúde (SUS) e conseguiu ser acompanhado no Hospital Geral de Fortaleza (HGF). Ele conta que, três dias após o diagnóstico, o transplante foi realizado. A recuperação ocorreu sem complicações.
“Graças à doação, eu pude retornar à minha missão de proteger a natureza. Espero que a pessoa que fez essa doação, onde quer que esteja, se sinta orgulhosa do trabalho que ela me permitiu continuar. Que outras pessoas também possam receber essa mesma oportunidade de renascer através de um transplante."
Como ocorre a doação e o transplante de órgãos
Para ampliar a captação, os órgãos podem ser provenientes de pacientes da Capital, do interior do Ceará e até de outros estados.
“A logística envolve uma operação complexa e sincronizada entre equipes transplantadoras e centrais de transplante para garantir que o órgão chegue a Fortaleza em tempo hábil. Para isso, a Casa Civil e a Ciopaer disponibilizam aeronaves 24h, permitindo o transporte rápido de equipes e órgãos”, explica o cirurgião hepático do HGF, Emmanuel Nogueira.
A doação de órgãos pode ser feita em vida ou após o óbito. Em vida, é permitida apenas para órgãos duplos ou cuja retirada não comprometa a saúde ou a integridade do doador. Após a morte, exige-se o diagnóstico de morte encefálica ou, em alguns casos, após parada cardíaca.
O Dr. Emmanuel Nogueira ressalta a segurança dos procedimentos de transplantes. “O preparo dos doadores segue um protocolo rígido com normas internacionais, garantindo a segurança em todas as etapas, desde o diagnóstico de morte encefálica até exames laboratoriais para evitar a transmissão de doenças ao receptor.”
Para doar órgãos e tecidos, basta comunicar o desejo à família, pois são os familiares que autorizam a doação.
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