O que é intoxicação alimentar e como prevenir

Os principais sintomas são mal estar, vômito, diarreia, dor abdominal e febre. Geralmente, os sinais aparecem entre seis ou 36 horas após a ingestão do alimento contaminado

16:22 | Jan. 09, 2025

Por: Luíza Vieira
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 07-01-2024: Visita ao posto de saude Lineu Juca na Barra do Ceará (Foto: Samuel Setubal/ O Povo) (foto: Samuel Setubal)

Na tarde do primeiro dia do ano, o professor de matemática, Álef Bittencourt, 26, passou por um episódio de intoxicação alimentar por causa de uma feijoada consumida durante um almoço em família no município de Maranguape, distante 26km de Fortaleza.

“Depois do almoço, por volta das 16h, acordei me sentindo mal, com ânsia de vômito e dor no corpo, começando na barriga. Vomitei, pelo menos, dez vezes, tomei um luftal porque achava que eram gases”, relata.

O caso do professor se assemelha ao de outras 600 milhões de pessoas que adoecem por causa de intoxicação alimentar ao redor do mundo. Deste total, 420 mil morrem anualmente pelo agravamento das doenças, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Os principais sintomas são mal estar, vômito, diarreia, dor abdominal e febre. Geralmente, os sinais aparecem entre seis ou 36 horas após a ingestão do alimento contaminado.

A professora adjunta e pesquisadora do Departamento de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará (UFC), Larissa Morais, destaca que o processo de intoxicação decorre da ingestão de alimentos contendo toxinas previamente produzidas durante o crescimento de microrganismos em alimentos.

“Geralmente essas toxinas não possuem odor nem sabor e a intoxicação pode ocorrer mesmo que as bactérias produtoras não estejam mais presentes no alimento, pois muitas vezes pode-se destruir o microrganismo mas a toxina não ser inativada”, complementa Larissa.

De acordo com o médico infectologista do Hospital Regional Vale do Jaguaribe, Francisco José Cândido, o principal meio para evitar intoxicação é a higienização correta dos produtos, especialmente frutas, legumes e verduras.

“A principal prevenção é a higienização correta de mãos e alimentos, além de evitar a ingestão de alimentos não armazenados de forma correta”, pontua.

A intoxicação alimentar também pode ser influenciada pelas altas temperaturas. Isso porque o calor favorece a proliferação de fungos e bactérias, acelerando, dessa forma, o processo de decomposição dos alimentos, em especial os mal acondicionados. Portanto, Cândido destaca a importância de “manter a conservação correta dos alimentos”.

Perecíveis são mais suscetíveis ao risco de causar intoxicação alimentar, especialmente ovos, carnes, leite e derivados. Isso porque os micróbios de alimentos crus- como carne bovina, aves e frutos do mar- que não são mantidos separados podem contaminar outros se não forem armazenados adequadamente.

As principais fontes de transmissão são as carnes de boi e de porco, água não filtrada, contato com fezes contaminadas, leite não pasteurizado ou por contaminação cruzada (quando as moscas que levam as bactérias de um alimento para outro).

Nesta vertente, Larissa menciona que alimentos embutidos e enlatados também são propícios a causar intoxicação alimentar, visto que são suscetíveis a produzir uma bactéria chamada Clostridium botulinum. Esta bactéria, mesmo se ingerida em pouca quantidade, pode causar envenenamento grave em poucas horas.

“Cada toxina possui características específicas, em relação a forma de produção pelo microrganismo, possibilidade de inativação e sintomas causados após consumo”, complementa.

O infectologista José Francisco Cândido faz um alerta sobre a compra de alimentos próximo à data de vencimento. Ele destaca que os consumidores podem adquirir o produto, “desde que estejam bem armazenados e sem sinais grosseiros de contaminação ou perda da integridade”.

É recomendado, também, que os consumidores estejam atentos à temperatura de armazenamento dos alimentos, isso porque a intoxicação alimentar pode ser influenciada pela condição.

“A temperatura de armazenamento depende do tipo de alimento, estando associada às suas características próprias, ao tipo de tratamento de conservação utilizado, tipo de embalagem, entre outros”, citou Larissa.

A engenheira pontua que o consumidor deve seguir as orientações previstas nas embalagens de cada alimento. No caso de alimentos manipulados ou preparados, é necessário atentar-se principalmente à temperatura de preparo e ao abuso da temperatura ambiente após o preparo.

“Algumas pessoas deixam o alimento por horas fora da geladeira, propiciando o crescimento das bactérias e a produção de toxinas, no caso de bactérias produtoras de toxinas”, exemplifica.

Alimentos refrigerados, conforme o infectologista José Francisco, devem estar a -18ºC ou menos. Já aqueles mantidos em temperatura ambiente devem ser armazenados em locais frescos e secos, geralmente entre 15ºC e 25ºC.

Entre janeiro e dezembro de 2024, a Secretaria de Saúde de Fortaleza (SMS) registrou 126 casos de intoxicação alimentar nos 134 postos de atenção básica do município. Ainda conforme a pasta, as unidades não registraram nenhum óbito no período.

Tratamento

A intoxicação alimentar é tratada, geralmente, por meio da ingestão de líquidos. O consumo evita um quadro de desidratação que pode ser causado pelos vômitos e diarreia. É por meio da ingestão de líquido que as toxinas produzidas pelos microrganismos são eliminadas.

Água, chás, sucos de frutas naturais, água de coco, sais de reidratação oral ou bebidas isotônicas são alguns dos exemplos de líquidos que podem ser consumidos diariamente pelo paciente.

É necessário também que o repouso seja acrescido à lista de tratamento da intoxicação alimentar. Isso porque o organismo precisa poupar a energia devido à perda de líquidos e nutrientes.

No decorrer da diminuição dos sintomas, deve-se consumir alimentos leves e de fácil ingestão. Isso pode evitar o agravamento dos sintomas. Canja de galinha, purê de batata, creme de legumes ou peixe cozido são alguns dos exemplos.

Infecção x intoxicação alimentar

A divergência entre infecção e intoxicação alimentar reside na origem da doença. A infecção é causada pelo crescimento de microrganismos no intestino após a ingestão de um alimento que contenha células deles. Já na intoxicação não ocorre a ingestão de microrganismos, mas sim de toxinas produzidas por eles enquanto estavam no alimento.

“Geralmente os sintomas das intoxicações alimentares se manifestam assim que a toxina chega ao aparelho intestinal”, explica a professora adjunta e pesquisadora do Departamento de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará (UFC), Larissa Morais.

Os sintomas de infecção alimentar demoram mais a aparecer, geralmente leva horas ou dias, pois o organismo precisa de tempo para reagir à multiplicação. Já os sinais de intoxicação alimentar levam minutos ou poucas horas para se manifestar, isso porque as toxinas causam efeitos mais imediatos.

Para tratar da infecção, o médico pode prescrever o uso de antibióticos ou apenas medidas de suporte, como hidratação. No caso da intoxicação, o tratamento consiste em neutralizar ou eliminar a toxina, com suporte médico imediato em casos graves.