Doenças Diarreicas Agudas: Ceará registra 367 mil casos em 2024, o maior número em 10 anos

Em 2024, o Ceará registrou mais de 367 mil casos de Doenças Diarreicas Agudas, um aumento de 53,71% em relação a 2023. Já Fortaleza registrou um aumento de 21%

O Ceará registrou mais de 367 mil casos de Doenças Diarreicas Agudas (DDAs) em 2024, de acordo com dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). O número representa um aumento de aproximadamente 53,71% em relação aos casos registrados em 2023, quando foram contabilizados 239 mil casos.

Quando analisamos a série histórica dos últimos da doença no Ceará, 2024 apresenta o maior acumulado de casos dos últimos dez anos. Entre as faixas etárias afetadas destaca-se o de crianças de 1 a 4 anos, consideradas vulneráveis a desenvolver casos graves. Em 2024, o grupo contabilizou sozinho mais de 55 mil ocorrências.

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As doenças diarreicas agudas são caracterizadas pelo aumento da frequência de evacuações líquidas ou semilíquidas por mais de 24 horas. Embora, em sua maioria, sejam autolimitadas e duram menos de uma semana, podem apresentar sintomas como febre, mal-estar e vômitos, elevando o risco de desidratação.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as diarreias agudas são a principal causa de morbimortalidade infantil em crianças menores de um ano e a segunda em crianças com menos de cinco anos. A cada ano, cerca de 500 mil óbitos infantis são registrados globalmente em decorrência da doença.

Em contraste com o alto índice registrado neste ano no Estado, os menores números de casos da doença foram registrados em 2020 (200.387 casos) e 2021 (142.944 casos).

Série históricas de casos de DDA no Ceará:

2014 - 236.252 casos e 26 surtos
2015 - 232.352 casos e 12 surtos
2016 - 309.218 casos e 29 surtos
2017 - 317.843 casos e 26 surtos
2018 - 306.965 casos e 27 surtos
2019 - 309.313 casos e 22 surtos
2020 - 200.387 casos e 11 surtos
2021 - 142.944 casos e 12 surtos
2022 - 227.398 casos e 18 surtos
2023 - 239.021 casos e 27 surtos
2024 - 367.400 casos e 36 surtos

Fonte: Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa)

O orientador da Célula de Vigilância e Prevenção de Doenças da Sesa, Carlos Garcia, afirma que os casos de diarreia aguda têm aumentado após o controle da pandemia de Covid-19, atingindo números semelhantes aos registrados até 2019.

“Durante a pandemia, muitas pessoas com diarreia evitavam procurar assistência médica devido ao medo de se expor ao risco de contágio. Além disso, houve um aumento na higiene pessoal, especialmente na lavagem das mãos e com o uso de álcool em gel, o que contribuiu para a redução de casos de doenças”, aponta o representante.

Os municípios com maiores índices de casos de DDA foram Fortaleza (26.334 casos), Sobral (25.511 casos) e São Gonçalo do Amarante (13.058 casos). Carlos Garcia destaca que, além da densidade populacional, os altos índices se devem à melhoria na notificação das doenças.

“Em Fortaleza é elevado porque, por ser uma capital, há mais notificações, mais controle e mais atenção aos surtos. Isso está relacionado à qualidade da informação, pois, em cidades menores, a doença pode ser subnotificada devido à menor procura por assistência e à falta de notificação. O mesmo ocorre em outros municípios, como Sobral, que apesar de ser menor, tem maior acesso à rede de cuidados”, explica.

Em 2024, conforme a Sesa, as semanas epidemiológicas de 6 a 15, que vão de fevereiro a abril, registraram o maior número de casos.

O período coincide com a quadra chuvosa no Ceará, quando o contato com águas de alagamentos é mais comum, facilitando a exposição a microrganismos danosos. Além disso, o aumento da aglomeração em ambientes fechados favorece a transmissão de vírus.

Diarreias Agudas aumentam em 21% em Fortaleza

Já em Fortaleza, os casos de Doenças Diarreicas Agudas (DDA) aumentaram 21% nos últimos anos, passando de 21 mil em 2023 para 26 mil em 2024. No entanto, ao analisarmos a última década, é possível perceber um cenário de redução no número de casos.

De 2014 a 2021, o índice caiu de 47.322 para 10.651, uma redução superior a 77% ao longo de sete anos. A partir de 2022 houve uma nova alta nos casos, mas os números ainda não atingiram os níveis pré-pandemia.

Série históricas de casos de DDA em Fortaleza:

2014: 47.322 casos
2015: 44.929 casos
2016: 43.054 casos
2017: 41.249 casos
2018: 36.517 casos
2019: 35.735 casos
2020: 17.782 casos
2021: 10.651 casos
2022: 15.979 casos
2023: 21.751 casos
2024: 26.334 casos

Fonte: Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS).

Assim como no cenário estadual, a faixa etária mais afetada atualmente é a de 1 a 4 anos, com 3.904 casos registrados no ano passado. Um dos que sofreram com os sintomas da doença foi Caliel Ravi, de apenas dois anos. Conforme explicou a mãe, Camila Silva, 35, moradora do bairro Barra do Ceará, em Fortaleza, o episódio ocorreu no último mês de agosto.

“Eu percebi que o olho dele ficou amarelado, e ele começou a recusar comida e só queria ficar deitado, dormindo. Depois disso, começaram os sintomas de diarreia. Eu tentei cuidar dele em casa, comprei soro, mas não adiantou porque ele ficou muito desidratado”, conta.

Mãe de outros filhos, Camila explica que um dos mais velhos, de 11 anos, também teve sintomas semelhantes, mas menos graves. Ela passou uma noite e dois dias tentando cuidar de Caliel em casa, mas o quadro só piorava.

“Então resolvi levá-lo à UPA. Ele tomou soro e remédio na veia, mas não chegou a ser internado”. A mãe lembra que, na unidade de saúde, havia muitos pacientes, principalmente crianças, com os mesmos sintomas.

“Quando fomos liberados, continuei o tratamento em casa com remédio, soro e suco de goiaba, que foi o que a doutora recomendou. Passei cinco dias cuidando dele assim, até que ele foi melhorando”, relata.

DDAs: Como tratar e se prevenir?

Segundo Christiane Leite, professora de Pediatria da Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em Gastroenterologia, as diarreias agudas são, na maioria das vezes, causadas por infecções virais ou bacterianas.

“Diversos fatores contribuem para o aumento das DDAs, como condições sanitárias inadequadas, que afetam especialmente as classes sociais mais pobres, e maior exposição a ambientes com pouca higienização. A alimentação inadequada; a redução das taxas de aleitamento materno e a baixa cobertura vacinal também desempenham um papel importante”, aponta.

Christiane Leite destaca que a prevenção é o principal caminho para combater as DDAs. As estratégias incluem:

  • Higiene: Lavar as mãos com frequência, garantir o acesso à água potável e evitar alimentos de procedência duvidosa ou mau higienizados.
  • Vacinação: A vacina contra o Rotavírus previne casos graves da doença. Outras vacinas, como a tríplice viral, protegem as mucosas e fortalecem a imunidade das crianças.
  • Aleitamento materno: Além de proteger contra infecções gastrointestinais, o aleitamento fortalece a imunidade infantil.
  • Educação alimentar: Evitar alimentos ultraprocessados e promover uma dieta equilibrada.

A maioria dos casos de DDAs não exige tratamento específico, com a hidratação sendo o principal foco. Contudo, crianças e idosos devem ser avaliados em uma unidade de saúde caso os sintomas não melhorem em 1 ou 2 dias ou se os episódios de diarreia forem recorrentes.

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