Hanseníase: com mais de mil casos em 2024 no Ceará, doença pode ser agravada por diagnóstico tardio
Neste mês, a campanha Janeiro Roxo busca orientar a população em relação aos sintomas e tratamentos da doença
19:03 | Jan. 08, 2025
O Ceará registrou 1.102 casos de hanseníase em 2024. O número é menor do que os identificados em 2023, mas segue a média de casos anuais da última década no Estado. A doença, que ainda é considerada um problema de saúde pública no Brasil, pode ser curada e tem tratamento simples e gratuito. No entanto, a procura tardia pelo diagnóstico pode resultar em sequelas incapacitantes.
A hanseníase é rodeada de estigmas devido ao histórico de exclusão que pessoas infectadas eram impostas. Com os tratamentos disponíveis atualmente, a administração de um antibiótico específico para a doença por seis meses a um ano pode ser suficiente para atingir a cura.
O remédio é oferecido em postos de saúde. A transmissão também pode ser interrompida ainda no início do tratamento, sem necessidade de isolamento do paciente.
Apesar do contágio ocorrer por meio do contato com secreções e gotículas de saliva de uma pessoa infectada pela bactéria causadora da hanseníase (Mycobacterium Leprae) e ainda sem tratamento, é preciso um tempo prolongado de convivência para contrair a doença.
“A contaminação é lenta. Não é, por exemplo, como o vírus Influenza, que é a gripe, que você tem contato com a pessoa e logo já desenvolve. Não, você precisa ter um contato mais prolongado para realmente você vir a desenvolver”, explica Carlos Garcia, coordenador da Célula de Vigilância e Prevenção de Doenças Transmissíveis e Não Transmissíveis (Cevep) da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
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O desafio de chegar ao diagnóstico da hanseníase
O sucesso do tratamento, a garantia de uma vida sem sequelas e a diminuição da transmissão depende de um diagnóstico rápido. E é neste aspecto que existe um dos principais gargalos no combate à doença: a falta de informação e o preconceito.
“Se ela é diagnosticada de uma forma precoce, no início da doença, a pessoa vai fazer o tratamento e vai ficar sem nenhuma sequela. Os pacientes que apresentam sequelas em geral, posso até dizer que quase 100%, são aqueles que demoraram a procurar um diagnóstico e, por isso, a doença evoluiu”, explica a dermatologista Araci Pontes.
Araci é diretora do Centro de Referência em Dermatologia Dona Libânia (Cderm), um dos equipamentos de referência no tratamento das sequelas de hanseníase no Ceará.
Ela explica que em média 10% dos pacientes já chegam ao diagnóstico com alguma sequela, como a perda de sensibilidade e de força nas mãos ou nos pés.
Pessoas mais vulneráveis socioeconomicamente são as mais afetadas pela hanseníase. Isso é resultado da falta de informação, acesso à saúde e condições precárias de vida. Em 2024, 22,78% dos pacientes com a doença no Ceará (251) só tinham estudado até o ensino fundamental I.
“Isso está muito relacionado a questões de moradia. Se você tem moradias insalubres com muitas pessoas que residem naquele mesmo ambiente, muitas vezes ambientes que não tem ventilação adequada, isso favorece a transmissão de qualquer doença infecciosa que é transmitida pela via aérea. A gente viu isso na Covid-19”, diz Araci.
Doença lenta e silenciosa: saiba identificar sintomas de hanseníase
Carlos Garcia explica que a hanseníase nem sempre vai se manifestar logo após o paciente ser contaminado. “A hanseníase é uma doença lenta, em que você tem um longo período para ter a contaminação e um longo período também para o início dos sintomas”, diz.
Essa característica também é considerada um dos desafios para o diagnóstico.
Os principais sintomas da doença são manchas dormentes, com falta de sensibilidade à temperatura e ao tato. “Também há associada uma diminuição na quantidade de pelos naquelas manchas”, explica Araci. Ela afirma que as marcas podem ser brancas ou avermelhadas.
Existem pacientes que não apresentam manchas, mas dormência nas mãos e nos pés. Além disso, inchaço nas orelhas, vigas na pele, fisgadas no corpo e problemas de coordenação motora devem ser pontos de atenção.