Mãe acusada de tentativa de homicídio por defender a filha de abuso sexual é absolvida após 11 anos

A mãe foi acusada de tentativa de homicídio pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) e o julgamento só ocorreu no dia 28 de novembro de 2024, 11 anos depois

09:51 | Dez. 10, 2024

Por: Alexia Vieira
Defensoria Pública do Ceará atuou no caso para garantir a absolvição da mãe (foto: Divulgação/ DPCE)

Mulher que foi acusada de tentativa de homicídio há 11 anos foi absolvida por júri popular. Ela teve a inocência reconhecida após provar que agiu em defesa da filha, que foi abusada sexualmente.

Segundo a Defensoria Pública do Ceará (DPCE), que realizou a defesa da mulher, o caso ocorreu em junho de 2013. A mulher fazia faxina na casa de um homem que permitia a entrada de mulheres em situação de prostituição para uso de drogas no local.

No dia do crime, a faxineira precisou levar a filha para o trabalho, pois não tinha com quem deixar a menina, que na época tinha três anos. Quando tomava banho após o serviço, ouviu o choro da criança. Ao sair do banheiro, viu a menina ferida e com sinais de violência sexual.

“Uma dessas mulheres que o homem permitia que frequentassem a casa para consumir drogas cometeu o abuso sexual. A mãe, vendo a filha naquela situação, reagiu com duas facadas na agressora. Foi uma reação desesperada diante do sofrimento extremo da filha”, explica o defensor público Vagner Júnior, que atuou no caso.

Júri popular de maioria feminina reconheceu a necessidade de absolvição

A mãe foi acusada de tentativa de homicídio pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) e o julgamento só ocorreu no dia 28 de novembro de 2024, 11 anos depois.

A estratégia da defesa foi destacar como o tempo do processo impactou a família de forma negativa, causando um trauma psicológico tanto na filha quanto na mãe. A mulher é a única responsável financeira por cinco filhos.

“Em 11 anos de processo, ela já foi punida pela vida”, lamenta o defensor Rafael Piaia, que também atuou na sessão do júri popular.

Outra estratégia essencial para provar a inocência da mãe da garota foi a composição do júri. Seis dos sete jurados eram mulheres.

“A sensibilidade delas foi crucial. Elas puderam se colocar no lugar da acusada, entendendo o que é a dor de uma mãe ao ver a filha sofrer uma violência tão grave”, avalia Piaia.

O MPCE ainda pediu a reavaliação do crime para uma lesão corporal grave, mas a Defensoria continuou argumentando pela absolvição. “Punir essa mãe seria ignorar o que ela enfrentou e ainda enfrenta”, reforça Vagner Júnior.