Tratamento da Doença de Parkinson pode ser realizado em unidades da rede Sesa

Atualmente, seis hospitais da rede Sesa oferece atendimento em doenças neurodegenerativas de forma regulada

Pessoas diagnosticadas com Doença de Parkinson podem ter acesso ao tratamento em todas as unidades hospitalares da rede estadual de saúde (Sesa) que dispõem de neurologistas. Para ter acesso aos serviços prestados pelos hospitais, contudo, o paciente deve ir a um dos 134 Postos de Saúde de Fortaleza. Na unidade será solicitada e agendada uma consulta com especialista.

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Atualmente, seis hospitais da rede Sesa oferece atendimento em doenças neurodegenerativas de forma regulada, conforme o Sistema de Informação Hospitalar/ DataSus, são eles:

  • Hospital Geral de Fortaleza
  • Hospital Geral Dr Waldemar Alcântara
  • Hospital Dr César Cals
  • Hospital Regional Norte
  • Hospital Regional Sertão Central
  • Hospital Regional Norte

O Parkinson é uma doença degenerativa, crônica e progressiva do sistema nervoso central. O fator responsável por causar a enfermidade é a redução da dopamina, substância que auxilia na realização de movimentos voluntários do corpo. Devido a decadência desse neurotransmissor, o controle motor do paciente fica prejudicado.

Recentemente, O POVO lançou o filme “Os dias de Sofia”, que acompanha a rotina do designer Bruno Dias, diagnosticado com Doença de Parkinson aos 26 anos de idade. O filme está disponível na plataforma de streaming do O POVO.

Entre janeiro e outubro deste ano, 1.766 pessoas foram atendidas nos Postos de Saúde de Fortaleza, com Parkinson e/ou com suspeita do distúrbio. O quantitativo foi disponibilizado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e representa um aumento em comparação ao ano passado, quando foram registrados 1.720 atendimentos nesta vertente.

O HGF atende, atualmente, 260 pacientes com Doença de Parkinson no ambulatório especializado.

Além do HGF, outras unidades vinculadas à Sesa realizam consulta ambulatorial de forma regulada, dentre elas:

  • 19 policlínicas estaduais
  • Hospital Regional Norte
  • Hospital Regional Sertão Central
  • Hospital Regional Cariri

“A Saúde do Ceará também disponibiliza o atendimento por meio da rede conveniada, estabelecida pela Política Estadual de Incentivo Hospitalar, que visa ampliar o acesso da população aos serviços de saúde”, reitera a pasta.

A chefe do Serviço de Neurologia do HGF, Fernanda Maia, explica que a faixa etária dos pacientes com a enfermidade é variável, mas que a doença aumenta à medida que as pessoas vão ficando mais idosas.

“O grupo feminino, inicialmente, não tem tanta doença de Parkinson perto dos 40 anos mas, à medida que essas faixas etárias vão subindo, as mulheres acabam tendo uma frequência de doença semelhante à dos homens. É importante deixar claro que os homens podem ter mais”, reitera.

O professor adjunto do Departamento de Medicina Clínica e neurologista do Hospital Universitário Walter Cantídio, Pedro Braga Neto, detalha que a Doença de Parkinson possui, comumente, três etapas: avaliação neurológica, diagnóstico diferencial e tratamento.

“Dos três sinais cardinais, ou seja, aqueles essenciais da doença, o único que é imprescindível no diagnóstico da Doença de Parkinson é a bradicinesia, lentidão dos movimentos. Para ser diagnosticado, o paciente precisa apresentar a bradicinesia mais um dos outros dois sintomas: tremor ou rigidez”, detalha.

O especialista acrescenta que, na maioria dos casos, os pacientes não apresentam os três sintomas e que, apesar do tremor ser uma característica comum nas pessoas com Parkinson, cerca de 30% dos pacientes não apresentam este sinal.

Fernanda Maia, pontua que o tratamento da Doença de Parkinson é sintomático, ou seja, atua para aliviar os sintomas, não uma terapia de cura da enfermidade.

O tratamento varia de acordo com as necessidades e características de cada paciente. O procedimento considera fatores como estágio da doença, sintomatologia, ocorrência de efeitos colaterais, idade do paciente, medicamentos em uso e seu custo.

Os fármacos são disponibilizados no Sistema Único de Saúde (SUS). De janeiro a outubro deste ano, conforme a SMS, 532.700 unidades de medicamento em comprimidos e/ou drágeas para tratamento do Parkinson foram entregues aos usuários portadores da doença.

O neurologista, Pedro Braga Neto, cita que o medicamento mais utilizado no tratamento do Parkinson é o Levodopa, que eleva a quantidade de dopamina no corpo do paciente.

“O que tem dentro do comprimido é a substância chamada Levodopa, que é convertida em dopamina no cérebro, repondo o que está faltando. É o medicamento mais eficaz e mais usado nos pacientes”, destaca.

Braga explica que em alguns casos é necessário aumentar a frequência de ingestão dos fármacos, fazendo com que o paciente apresente complicações, como movimentos involuntários, por exemplo. Este tipo de efeito colateral pode ser evitado por meio de cirurgias, que reduzem a quantidade de medicamentos orais ingeridos pelo paciente.

A neurologista Fernanda Maia específica que a principal cirurgia para tratar a doença é o uso da Estimulação Cerebral Profunda (DBS), que consiste na implantação de um dispositivo que emite corrente elétrica ligado a um marca-passo localizado no tórax do paciente. Por meio de um mecanismo de transmissão, o marca-passo é regulado para encaminhar maior ou menor quantidade de energia para determinadas partes do cérebro.

“Quando chega no ponto do paciente fazer a cirurgia, geralmente ele tem mais de cinco anos de doença e ele é um candidato a estimulação cerebral profunda dos dois lados”, destaca Fernanda.

O tratamento via procedimento cirúrgico tem uma janela terapêutica, portanto, o paciente não consegue realizar a cirurgia em qualquer período da vida do paciente com Parkinson.

“Ele (paciente) tem um momento preciso de indicação e, se passar muito tempo, ele começa a ter complicações que não permite fazer a cirurgia”, prossegue o neurologista Pedro Braga.

“Infelizmente, a nível público do SUS no Ceará, a gente está tendo muita dificuldade na questão do tratamento cirúrgico. O Hospital das Clínicas ainda não tem essa cirurgia. A nossa esperança é que o HGF consiga fornecer essa cirurgia com frequência”. .

Além das terapias medicamentosas, ambos os especialistas consultados para a reportagem destacam a importância da prática de atividades físicas, que atuam na suavização dos sintomas do Parkinson.

Sintomas do Parkinson

Os principais sintomas apresentados são tremores, lentidão motora, rigidez nas articulações e desequilíbrio. O Parkinson ainda não tem cura e o tratamento inclui acompanhamento multiprofissional com medicamentos, fisioterapia, fonoaudiologia, suportes psicológicos e nutricional e atividade física, que pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Em alguns casos, o procedimento cirúrgico é recomendado.

O Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais frequente no mundo, ficando atrás apenas do Alzheimer, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além dos sintomas motores, o Parkinson pode provocar alterações intestinais, do sono, do humor e urgência urinária.

Ainda conforme a OMS, cerca de quatro milhões de pessoas no mundo vivem com a enfermidade, destas, cerca de 200 mil estão no Brasil.

Foi em 2020, após quedas e problemas de mobilidades frequentes, que Fernando Said, 68, começou a notar os sintomas do Parkinson.

“O diagnóstico se deu em 2021, não foi fácil. Em 2019 ele tinha acabado de cancelar o plano de saúde devido ao valor, que havia aumentado muito”, explica a filha de Said, Carol Barros, 36.

A arquiteta relata que em 2019, antes do diagnóstico, o pai havia recebido o resultado de alguns exames que indicavam algum problema cardíaco. Fernando chegou a fazer procedimentos de cateterismo, contudo, nessa etapa os sintomas ficaram mais críticos.

“Em 2020, algum médico de uma outra área sem relação comentou que ele parecia ter Parkinson, daí começou aqui a busca por médicos e realização de exames. Não conseguimos vaga e encaminhamento nenhum a partir do posto, não tinha vaga em canto nenhum”, acrescenta Carol.

Para chegar ao diagnóstico, Said precisou ser consultado por dois médicos de hospitais particulares. O segundo profissional encaminhou o paciente para realizar os exames específicos, mas resolveu fazer um teste: receitou um medicamento e, se Said respondesse positivamente ao fármaco, era porque tinha Parkinson. E assim se deu o diagnóstico inicial.

“Por nossa iniciativa, ele (Said) conseguiu passar por um hospital particular em 2021, que foi uma experiência excelente mas limitada quanto ao tempo de duração e, como a doença é degenerativa, depois de algum tempo ele voltou a regredir na melhoria do que tinha alcançado”, seguiu Carol.

De acordo com a arquiteta, o preço médio das consultas particulares era de R$200. Um dos medicamentos que Said deixou de receber no mês passado teve de ser comprado, para isso, a família desembolsou R$ 300 em uma caixa com 30 comprimidos. Por dia, o paciente ingeria três cápsulas, contudo, após consulta realizada em novembro, a dose teve que aumentar para quatro comprimidos ao dia.

Said Barros passou a ser acompanhado pelo SUS, por meio de policlínica onde realiza consultas quadrimestrais que duram, em média, 40 minutos. Os atendimentos, conforme a arquiteta, dependem da quantidade de vagas disponibilizadas.

“O acompanhamento só foi possível a partir de 2022, na Policlínica do Siqueira, bem longe da nossa casa.Tivemos uma consulta agora em novembro mas a última foi em abril, por exemplo, era para o retorno ter acontecido em agosto”, pontua.

Por meio de encaminhamento médico, o paciente chegou a fazer fisioterapia, acupuntura e fonoaudiologia na própria policlínica. Contudo, Carol detalha que na última consulta foi repassada a informação de que as terapias não seriam mais disponibilizadas,

“Disseram que precisam voltar a passar primeiro pelo posto de saúde, cuja resposta para qualquer solicitação é de que nunca tem vagas abertas. O problema principal é que está existindo uma rotatividade muito grande de médicos, já fomos a várias primeiras consultas, já trocamos umas 4 vezes de médico desde a primeira consulta”, finaliza.

Diante da necessidade de promover a sensibilização e a compreensão sobre a doença, a OMS estabeleceu que o Dia Mundial da Doença de Parkinson seria celebrado no dia 11 de abril. O destaque ao tema também auxilia na redução do estigma associado e na criação de uma comunidade de apoio e solidariedade aos pacientes.

 

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