Construções históricas têm danos irreversíveis devido ao aquecimento global, aponta pesquisa

Pesquisa da UFC apontou uma deterioração em patrimônios históricos de Aracati. Novas análises serão feitas nos municípios de Sobral e Viçosa do Ceará (CE), Recife (PE), Ouro Preto (MG) e Rio de Janeiro (RJ)

09:40 | Nov. 21, 2024

Por: Bárbara Mirele
Entre os anos de 2050 e 2100 há uma previsão de elevação da faixa de temperatura para 41 graus (foto: Divulgação/Universidade Federal do Ceará (UFC))

Construções históricas das cidades correm o risco de desaparecer devido ao aquecimento global, é o que aponta um estudo desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Experiência Digital do Instituto de Arquitetura e Urbanismo e Design da UFC. O local escolhido nesta primeira etapa foi o centro histórico de Aracati, a 147,1 km de Fortaleza, para análise dos impactos do aquecimento global sobre a Igreja do Nosso Senhor do Bonfim. 

O estudo concluiu que a ilha de calor verificada no local resulta em um estresse térmico nas edificações, acelerando o desgaste estrutural, e foi feito em parceria com o Laboratório de Reabilitação e Durabilidade das Construções (LAREB) do Campus da UFC em Russas.

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Segundo informações da Agência UFC, entre os anos de 2050 e 2100 há uma previsão de elevação da faixa de temperatura para 41 graus. Os cientistas projetam uma elevação de 400% nas movimentações térmicas na alvenaria na Igreja do Nosso Senhor do Bonfim, em comparação aos níveis atuais. As mudanças deverão provocar um aumento das fissuras nestas e em outras construções do município.

Próximas etapas do projeto preveem levantamentos de outros centros históricos de municípios do Ceará: Sobral e Viçosa do Ceará, e outros municípios do Brasil: Recife (PE), Ouro Preto (MG) e Rio de Janeiro (RJ).

Segundo Esequiel Mesquita, coordenador do estudo, construções de alvenaria são as mais vulneráveis às mudanças climáticas. As consequências podem ser sentidas em outras construções históricas em todo o Brasil.

Degradação em construções requer mais esforços para manutenção

Ainda de acordo com a pesquisa, a alta temperatura deve causar uma degradação generalizada em construções históricas em território nacional. Por isso, mais esforços na manutenção são requeridos. Com elevação de custos e necessidade de reparos cada vez mais frequentes, Esequiel alerta que “isso não é sustentável de nenhum ponto de vista”.

Segundo ele, intervenções urbanas são fundamentais para a suavização dos danos aos patrimônios e promovem a melhoria da qualidade de vida nas cidades.

Alguns exemplos de intervenções são implantação de áreas verdes, adoção de revestimentos termo eficientes e implantação de estruturas para passagem dos ventos.

O pesquisador aponta que no estudo foi possível identificar trechos de ruas no município de Aracati em que a temperatura varia até 3 ºC, em poucos metros de um ponto para o outro.

“Isso traz o questionamento de como as cidades podem contribuir para a gestão das temperaturas locais e mitigar esses avanços de temperatura. Se isso não for feito, haverá regiões muito mais quentes do que outras”.

A Igreja do Nosso Senhor do Bonfim, escolhida como primeiro lugar a ser avaliado, foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2001.

O local religioso chegou a marca de 250 anos neste ano de 2024, sendo considerada uma das construções mais antigas do município.

Ainda conforme a Agência UFC, a nova metodologia de investigação envolveu a coleta de informações da igreja e de seu entorno, bem como parâmetros ambientais: concentração de CO₂, umidade relativa, temperatura e condição do ar, para previsão do nível de degradação.

Esequiel explica que com os processos de levantamento por drone, é possível ter acesso a informações atualizadas e mais detalhadas sobre a volumetria do centro histórico e seus revestimentos. “Essas informações são importantes porque influenciam a temperatura local”, explica.