Cerca de 78% do lixo presente no litoral nordestino advém da África, aponta estudo da UFC

Os cientistas recolheram mais de mil itens que, somados, chegaram a 9,7 quilos (kg)

14:41 | Nov. 13, 2024

Por: Luíza Vieira
O material recolhido foi submetido a uma auditoria de marca cujo o resultado confirmou que 7,5% do lixo advinha de países da África, 15,7% do Brasil e 5,8% de outras nações. (foto: Reprodução/ Guilherme Silva- UFC )

Uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade Federal do Ceará (UFC) constatou que cerca de 78% do lixo presente no litoral nordestino é proveniente do continente africano. Os resíduos plásticos que embasaram o estudo foram coletados nas praias de Jericoacoara, Praia do Futuro e Porto das Dunas, no ano de 2022.

Os cientistas recolheram mais de mil itens que, somados, chegaram a 9,7 quilos (kg). O material foi submetido a uma auditoria de marca cujo o resultado confirmou que 78,5% do lixo provinha de países da África, 15,7% do Brasil e 5,8% de outras nações.

O trajeto desses resíduos foi identificado por meio do software de modelagem OpenDrift, que simula as rotas de objetos transportados pelas correntes oceânicas. As simulações sinalizaram que os itens provavelmente tinham origem nas águas do rio Congo e, por meio das correntes do Atlântico, encalharam na costa brasileira.

Conforme o estudo, os estados brasileiros que mais recebem plásticos do Congo são os localizados entre Alagoas e Pará, o que incluiu, também, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão.

O aparecimento desse plástico estrangeiro nas praias brasileiras resulta em uma série de impactos ambientais e sociais negativos. Animais marinhos como as tartarugas, peixes e aves confundem os resíduos com alimentos, levando à ingestão de partículas que podem causar sufocamento ou envenenamento.

O plástico também é responsável pela liberação de substâncias tóxicas que prejudicam a qualidade da água e afetam os ecossistemas costeiros. O acúmulo do lixo também impacta diretamente a vida das comunidades que dependem do turismo e da pesca.

Os cientistas destacam a importância de tratar a poluição plástica como uma problemática global que necessita de colaboração internacional e políticas locais que incentivem à reciclagem e a redução de plásticos descartáveis.

“Mesmo que a poluição tenha origem em outros países, há estratégias locais eficazes que podem ajudar a reduzir seus impactos”, detalha Tommaso Giarrizzo, professor e pesquisador do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da UFC responsável pelo projeto.

O pesquisador reforça que o Brasil não dispõe de programas regulares e padronizados que monitorem o plástico nas praias brasileiras.

Os próximos passos da pesquisa buscam esclarecer se esse fenômeno de transporte de lixo é sazonal e envolve colaboração com outros estados para estabelecer um protocolo mais abrangente de monitoramento da poluição plástica na costa nordestina.