Caso da mãe acusada de matar filho com veneno no sorvete completa 10 anos
Após 10 anos do caso Cristiane Renata Coelho segue presa após condenação da JustiçaO caso de Cristiane Renata Coelho Severino, mãe acusada de matar o filho com veneno no sorvete, na noite de 10 de novembro de 2014, completa dez anos no domingo, 10. O crime gerou repercussão nacional pela reviravolta nas investigações. Cristiane tornou-se ré e foi condenada a 32 anos de prisão após envenenar o filho Lewdo Ricardo Bezerra Severino e o marido, o subtenente do Exército Brasileiro, Francileudo Bezerra. A criança morreu e o companheiro de Cristiane foi internado e ficou em coma, mas sobreviveu.
Cristiane segue presa e obteve na Justiça a transferência para o cumprimento da pena em uma unidade no Recife (PE).
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Na época do crime, internado, o subtenente teve a prisão decretada e apontado como o autor do crime após mensagens, supostamente escritas por Francileudo, no próprio perfil do Facebook. As mensagens faziam acreditar que o militar teria tentado matar a esposa e o filho e em seguida tentado o suicídio. O teor da mensagem de despedida, a forma de escrita, além de outros fatores causaram estranhamento no delegado responsável pela investigação, Wilder Brito.
As controvérsias do caso aumentaram a medida que o perfil do subtenente, que estava internado, foi excluído. O delegado descobriu que o aparelho celular de Francileudo, à época em coma, estava sob a posse de Cristiane. Indagada, a mulher negou ter a senha do marido, no entanto, para excluir os perfis seria necessária a senha. Essa foi uma das primeiras de muitas contradições.
Depois de sair do coma, Francileudo negou ter envenado o filho e a tentativa de homicídio contra a companheira. Ele também desmentiu a versão de que teria tentado suicídio e a autoria da mensagem nas redes sociais. O subtenente passou a ser acompanhado pelo advogado Walmir Medeiros. Após receber alta o militar prestou depoimento e concedia entrevistas apontando Cristiane como a autora do crime.
O casal tinha dois filhos autistas, o menino Lewdinho, de nove anos de idade, não sobreviveu. As perícias realizadas mostraram que veneno do tipo "chumbinho" foi colocado no sorvete oferecido para a criança. Já o pai teria ingerido a substância em um vinho.
A rotina de Francileudo e da esposa em Fortaleza era do marido ir trabalhar, deixar as crianças na escola e também buscar. Já Cristiane ficava em casa durante o dia. As pesquisas no computador do casal foram identificadas pela Perícia, que constatou buscas por veneno. Essas pesquisas foram realizadas em horários que Francileudo estava fora de casa.
Foram realizadas reconstituições do crime. Cristiane passou a ser acompanhada pelo advogado Paulo Quezado. Ela não concedia entrevistas e permanecia fora do Estado do Ceará, em casa de familiares, onde passou a morar com o filho mais velho do casal.
Um mandado de prisão foi expedido pela Justiça e, após ser detida, Cristiane foi encaminhada para o Presídio feminino Auri Moura Costa. O inquérito do caso teve mais de mil páginas, que incluíam os 50 mil arquivos recuperados de aparelhos celulares.
"Não é suficiente", diz Francileudo sobre sentença
"Não foi suficiente. Você tirar a vida de uma pessoa e ser condenado a 32 anos e pouco. Ela tinha que ficar presa o resto da vida. Não matou se defendendo, mas por maldade e ambição", comenta Francileudo Bezerra, em entrevista concedida ao O POVO.
Francileudo faz uma crítica a legislação, que permite a progressão de pena e relata que, depois de algum tempo, Cristiane poderá passar o dia fora da unidade prisional e voltar para dormir. "Não acho que seja justo", destaca.
O militar entrou para a reserva e agora se dedica exclusivamente ao filho, que faz acompanhamento médico, terapia ocupacional. Como o filho é autista não-verbal, Francileudo ressalta que tem a missão de deixar o filho o mais preparado suficiente para quando "partir".
O militar destacou o trabalho do delegado Wilder Brito e do advogado Walmir Medeiros, que atuaram na época e que perceberam que o subtenente era vítima, não acusado.
Ponto de vista: repórter relembra cobertura jornalística
Na noite do dia 10 de novembro de 2014 a Polícia foi acionada para uma ocorrência relacionada a um subtenente que, supostamente, tentou contra a vida da companheira e do filho. A criança, o menino Lewdo Ricardo, autista, de nove anos, morreu. O militar teria tentado contra a própria vida, mas foi socorrido a uma unidade hospitalar.
Aparentemente um caso de violência doméstica, em uma residência no Dias Macedo, em Fortaleza. Em uma mensagem no Facebook, de suposta autoria de Francileudo, ele se despedia.
Praticamente um caso concluído, se não fosse por um detalhe: o delegado Wilder Brito, na época titular do 16º Distrito Policial, estranhou a mensagem deixada nas redes sociais. No dia seguinte, com o subtenente inconsciente, a mensagem foi editada. O militar havia sido autuado em flagrante em coma.
Francileudo saiu do coma e iniciou um longo período de tratamento. As cicatrizes não permaneceram apenas no corpo, mas na alma. Internado, ele soube que havia perdido o filho de apenas nove anos de idade, que fora incriminado pela própria companheira e que era considerado o autor da ação.
No jornalismo é comum que se questione tudo. Então nesse crime não foi diferente. Começamos a acompanhar o caso e, consequentemente se deparar, quase que diariamente com Francileudo, após a alta hospitalar, e com Cristiane. Houve uma reviravolta no crime e o subtenente passou a ser vítima e Cristiane a principal suspeita.
O subtenente sempre fez questão de conversar com a imprensa. Cristiane evitava as perguntas. Foram duas reconstituições do crime, a imprensa por horas na calçada. Eram faixas, os moradores, a vizinhança, a família do subtenente, todos acreditavam na inocência de Francileudo. E sim, o militar demonstrava ser genuníno o sofrimento de perder o filho e a preocupação com a outra criança do casal.
Nunca vi uma cena tão emocionante como a de Francileudo no Aeroporto de Fortaleza, segurando a mão do filho sobrevivente, voltando com ele de Recife, após obter a guarda do menino.
No fórum, durante as audiências, a mãe e o pai de Francileudo pareciam cansados, mas nunca desacreditados do filho. Acompanhamos todos os personagens daquela história, que parecia uma ficção.
A Perícia Forense, minunciosamente, montou o quebra-cabeças, que incluía as pesquisas de de Cristiane por envenenamento, a coleta dos vestígios, a extração de dados do aparelho celular. A investigação do delegado, o trabalho da defesa, por meio do advogado Walmir Medeiros. A imprensa acompanhava cada passo da história.
Um ano depois, em entrevista, foi impossível conter as lágrimas quando Francileudo descreveu o nascimento de Lewdinho e a promessa de protegê-lo sempre. Quem imaginava, dizia o militar, "que quem devia protegê-lo seria capaz de levá-lo a morte?"
São dez anos deste caso. Caso estivesse vivo, o garoto seria um rapaz, aos 19 anos de idade. Cristiane foi condenada pela Justiça e cumpre pena em regime fechado.
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