Praias do Ceará são afetadas por poluentes plásticos oriundos da África, aponta estudo da UFC
Os poluentes de origem africana foram encontrados nas praias de Jericoacoara, Porto das Dunas, em Aquiraz, e Praia do Futuro, em FortalezaGrande parte do lixo plástico presente nas praias da costa semiárida do Ceará são provenientes do continente africano, principalmente da República Democrática do Congo, segundo uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade Federal do Ceará (UFC), publicada no dia 27 de setembro. Dos mais de mil itens plásticos analisados no estudo, realizado em 2022, 78,5% dos plásticos vieram da África, enquanto 15,7% eram de origem brasileira.
Os poluentes de origem africana foram encontrados nas praias de Jericoacoara, Porto das Dunas, em Aquiraz, e Praia do Futuro, em Fortaleza. “Os resíduos foram transportados por correntes oceânicas, o que demonstra a dimensão global do problema da poluição plástica”, ressalta Tommaso Giarrizzo, professor do Instituto de Ciências do Mar da UFC (Labomar) e um dos autores do estudo.
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“A pesquisa mostrou que, independentemente do nível de desenvolvimento ou uso das praias — desde áreas mais urbanas até zonas de conservação —, todas foram significativamente impactadas pela chegada de plásticos estrangeiros”, adiciona.
Os plásticos foram rastreados por meio de simulações numéricas com o modelo OpenDrift e, apesar da grande porcentagem de poluentes oriundos da África, resíduos de outras regiões também afetam o litoral do estado. “Aproximadamente 5,8% dos itens plásticos analisados vieram de países do Oriente e da Europa, como Índia, Emirados Árabes Unidos, China, Itália e Alemanha”, cita Tommaso.
“Esses achados reforçam que a poluição plástica que atinge o litoral brasileiro é um problema global, com múltiplas fontes internacionais contribuindo para o acúmulo de resíduos nas praias”, destaca.
Animação mostra a movimentação dos plásticos até a costa do NE brasileiro, veja:
Poder público e cientistas precisam se alinhar para solucionar a situação
Para solucionar a situação, Tommaso acredita que ações integradas, que combinem pesquisas científicas com ações locais e políticas públicas coordenadas, são necessárias. “Somente com monitoramento contínuo, educação, investimentos em reciclagem e participação ativa em fóruns internacionais será possível reduzir a presença de plásticos nas praias do Nordeste e proteger o ambiente marinho e a economia da região”.
Ele ainda pontua que existe uma grande limitação no monitoramento das praias brasileiras. “Atualmente, monitora-se vários parâmetros ambientais, como a qualidade da água, mas ainda não existem programas de monitoramento regulares, com frequência mensal ou sazonal, voltados especificamente para o acompanhamento da poluição plástica nas praias”.
“Isso é particularmente preocupante para estados como o Ceará, cuja economia depende fortemente do turismo nacional e internacional atraído pelas suas praias. Para combater a poluição plástica de maneira eficaz, é fundamental consolidar programas de monitoramento contínuos que identifiquem as áreas mais afetadas e orientem ações corretivas. Sem esses dados, é impossível implementar soluções e medidas de mitigação adequadas para lidar com o problema”, pontua.
Poluição plástica causa problemas à economia, saúde e meio ambiente
O acúmulo de plásticos no oceano não impacta apenas o meio ambiente. Também afeta a saúde da população e a própria economia. “Os microplásticos já foram detectados em frutos do mar, peixes e até no ar, água potável e alimentos. A ingestão desses plásticos, e das toxinas que eles carregam, pode trazer riscos à saúde, incluindo efeitos hormonais e doenças crônicas”, explica o pesquisador.
A poluição, além disso, gera mais gasto público. “Governos e comunidades locais precisam investir em ações de limpeza das praias e áreas costeiras, o que gera um custo significativo para a administração pública e a sociedade”.
O estudo é parte do projeto ‘Detetives do Plástico’, financiado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), que visa compreender e combater a poluição por plásticos na costa semiárida do Ceará.