Ceará recupera 81% dos presos que fugiram do sistema prisional, diz SAP
Desde 2019, com a criação da Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP), 215 internos se evadiram das unidades prisionais, sendo recapturados 176 foragidosO Ceará recuperou 81% dos presos que fugiram do sistema prisional do Estado desde 2019. Em cinco anos, 215 internos se evadiram das unidades prisionais, sendo recapturados 176 foragidos. Os dados são da Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP) enviados ao O POVO no dia 15 de outubro Atualmente, há 30 internos foragidos do sistema prisional após novas recapturas nesta quinta-feira, 17.
Durante as buscas, nove óbitos de internos foram registrados. A pasta afirmou que os episódios foram ocasionados “por causas diversas nas ruas”, sem detalhar os motivos das mortes. Um levantamento do O POVO revela que, neste ano, pelo menos 28 detentos fugiram de presídios no Ceará, em seis fugas registradas entre janeiro e outubro. Ao longo do ano passado, o número foi de 27 internos.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
O episódio mais recente foi registrado na noite do último domingo, 13, onde cinco detentos fugiram da Unidade Prisional Elias Alves da Silva (UP-4), em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Do total, quatro internos foram recapturados, sendo o primeiro localizado um dia após a fuga, na segunda-feira, 14, ainda nas proximidades da unidade prisional, e três nesta quinta-feira, 17, no bairro Mondubim, em Fortaleza.
No episódio, os cinco internos fugiram da ala C da unidade prisional, onde estariam presos da facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Na fuga, os internos teriam quebrado os cadeados que dão acesso a área de banho de sol, localizado na parte superior da unidade, escalado o muro com auxílio de uma corda feita com lençóis e pulado o muro da unidade.
De acordo com o Sindicato dos Policiais Penais e Servidores do Sistema Penitenciário do Estado do Ceará (Sindppen-Ce), entre os foragidos existiriam membros da facção PCC e do grupo criminosos cearense Guardiões do Estado (GDE).
Os internos são acusados pelos crimes de homicídio e tráfico de drogas. Eles são Diego da Costa, 28, Deivison Pereira, 19, Francisco Italo Mendes, 28, Kenney Xavier Rodrigues e Francisco de Assis Oliveira. Os três primeiros foram recapturados. O último segue foragido.
Conforme a SAP, nas recapturas foram utilizadas, inicialmente, drones e cães policiais no perímetro da unidade prisional em Itaitinga. Os agentes penais contaram com apoio das equipes do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio), da Polícia Militar do Ceará (PMCE), e policiais da Força Tática de Apoio (FTA), além do Grupo de Ações Penitenciárias (GAP).
Em agosto deste ano, outra fuga foi registrada na mesma unidade prisional de Itaitinga (UP-4). Ao todo, seis internos fugiram do presídio. Três dias após a fuga, os seis internos foram recapturados pela Polícia Penal. As prisões foram realizadas com o auxílio de drones termográficos, binóculos de visão noturna e cães policiais.
No primeiro semestre, quatro casos foram registrados. Em março, o detento identificado como Nilson dos Reis Feitosa, o "Nilsinho", fugiu da Unidade Prisional Francisco Hélio Viana de Araújo, em Pacatuba, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Ele é condenado por homicidio, estupro e roubo. Ainda no mesmo mês, sete presos fugiram da Unidade Prisional Professor José Sobreira de Amorim (UP-Sobreira Amorim), em Itaitinga.
Os outros episódios foram registrados em janeiro. Cinco presos fugiram da Unidade Prisional Francisco Hélio Viana de Araújo (UP), em Pacatuba, RMF. Seis dias antes, outros quatro presos fugiram da Unidade Prisional Professor Olavo Oliveira (UPPOO II) em Itaitinga, também na Região Metropolitana de Fortaleza. A maioria das fugas foram registradas aos finais de semana.
Sindicato aponta redução de 48% dos agentes penais em unidade no dia da fuga
Na segunda-feira passada, 14, o Sindicato dos Policiais Penais e Servidores do Sistema Penitenciário do Ceará (Sindppen/Ce) denunciou que no dia da última fuga, a UP-4 deveria contar com 35 policiais, mas, segundo a entidade, havia apenas 18, representando redução de 48% do efetivo no local.
No dia, conforme a denúncia, cinco agentes estavam em escolta e três na área administrativa, deixando apenas dez policiais no interior da unidade, para promover a segurança e realizar a vigilância interna.
Além disso, o Sindicato afirmou que o baixo efetivo impede a cobertura adequada de todos os postos de vigilância. Segundo eles, o déficit está relacionado ao elevado número de afastamentos relacionados a doenças mentais e a entidade reivindica melhores condições de trabalho para os agentes penais.
Ao O POVO, o Sindppen disse que, apesar dos últimos investimentos da gestão estadual no sistema penitenciário, ainda há um alto registro de fugas, tentativas de fuga e motins. A entidade afirma que a falta de valorização do trabalho dos servidores contribui para a persistência dos problemas.
“Para que haja controle efetivo no sistema penitenciário, é necessário não apenas investir em orçamento, armamentos, equipamentos e treinamentos, mas também em um ambiente de trabalho que seja seguro, respeitoso e digno para os profissionais responsáveis pela segurança pública”, disse, em nota.
O POVO procurou a SAP nessa quinta-feira, 17, questionando o número de agentes penais na UP-4 de Itaitinga no último domingo. Em nota, a pasta informou que no dia 13 de outubro a unidade tinha 23 policiais. "Número adequado para garantir segurança nos postos de vigilância da Unidade naquele momento", afirna.
A Secretaria ainda esclarece que "entende os desafios da profissão" e que, nos últimos anos, criou serviços de cuidado com a saúde mental dos policiais penais.
Entre eles o plantão psicológico, a implantação de psicológos em todas as unidades prisionais e a criação do Núcleo de Assistência ao Servidor Penitenciário (Nusep) para atendimentos psicológico dos agentes.
A pasta, no entanto, não informou o que vem discutindo para melhorar as condições de trabalho no sistema penitenciário do Estado junto ao Sindppen.