Ceará tem menor percentual de seca do Nordeste, mas áreas afetadas aumentaram

Áreas impactadas pela seca aumentam no Ceará, passando de 1% para 5% entre junho e julho. Regiões Norte e Centro-Oeste são as mais impactadas pela estiagem

O Ceará é o estado do Nordeste com menor percentual de área considerada sob seca em julho de 2024. Atualmente, a unidade federativa tem 5% do território em seca fraca e 95% livre desse fenômeno, conforme dados do Monitor de Secas do Brasil, que faz o acompanhamento contínuo do grau de severidade das secas no Brasil.

No entanto, apesar dessa condição relativamente favorável em comparação com outros estados, o Ceará registrou um aumento nas áreas afetadas pela seca. Entre os meses de junho e julho de 2024, o percentual de seca no estado que era de 1% subiu para 5%. A área afetada corresponde a um total de 7.739 km², sendo a região mais impactada o extremo sul do Estado.

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Os dados do Monitor de Secas foram elaborados com base em dados extraídos até o último dia 20 de agosto, atualização mais recente da plataforma. O sistema é coordenado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), com o apoio da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

De acordo com o meteorologista Francisco Vasconcelos Júnior, da Funceme, o cenário atual do Ceará não é característico para esta época do ano, que geralmente apresenta condições mais severas de seca.

Durante a estação chuvosa de 2024 foram observadas chuvas acima da normalidade em algumas regiões do Estado. Esse cenário fez atenuar o cenário de seca até julho desse ano com apenas uma pequena área com seca fraca no estado”, explica.

Entre fevereiro e março deste ano, considerado período de quadra chuvosa no Ceará, houve um acumulo de 763.2 milímetros, um desvio positivo de 25,3% em relação à média histórica do Estado.

Não é apenas a falta de chuva que caracteriza a seca. A condição também leva em conta elementos como o balanço entre precipitação e evapotranspiração potencial (a quantidade de água que a atmosfera demanda), a saúde da vegetação e a umidade do solo.

Apesar do aumento nas áreas de seca no Ceará entre junho e julho, quando comparado ao mesmo período do ano anterior, contudo, o estado apresentou uma melhora significativa. Em julho do ano passado, 33,73% do território do Ceará estava sob seca fraca.

  • Confira a média histórica de seca no Ceará nos últimos anos:

Julho de 2020: 79.16% do território sem seca e 20.84% de seca fraca
Julho de 2021: 100% de seca fraca e 60.3% seca moderada
Julho de 2022: 83.39% do território sem seca e 16.61% de seca fraca
Julho de 2023: 66.27% do território sem seca e 33.73% de seca fraca
Julho de 2024: 94.8% do território sem seca e 5.2% de seca fraca

“A distribuição irregular das chuvas, tanto em termos espaciais quanto temporais, explica o aumento da área afetada pela seca nesses anos. Vale salientar o aumento de temperatura do ar nesses anos, que impactam principalmente na acentuação da evapotranspiração [evaporação da água do solo] em todas as regiões do Estado”, comenta Francisco Vasconcelos Júnior.

Embora o Ceará tenha mantido a severidade da seca estável, o risco de uma intensificação é muito provável. “[As áreas afetadas] Dificilmente serão reversíveis esse ano, pois o segundo semestre tem baixíssima pluviometria, nesse sentido as condições de seca podem se acentuar”, ainda destaca o meteorologista da Funceme.

Conforme dados da Funceme, o último dia em que o Estado registrou chuvas de maior intensidade foi em 8 de julho, quando 81 dos 184 municípios tiveram precipitações. Entre as cidades com maiores volumes, destacaram-se Granja (100 mm), no Litoral Norte, e Aurora (57 mm), no Cariri. Por outro lado, 103 cidades do estado não registraram chuva.

Durante o mês de julho, o Ceará registrou uma média de precipitação de apenas 10,7 mm. Já em agosto, o total de chuvas caiu para 0 milímetros, sendo que, dos 31 dias, apenas nove apresentaram escassas precipitações em alguns municípios do estado.

Situação de seca no Nordeste

Entre os estados do Nordeste, o Maranhão tem a maior área em situação de seca, com 73% do seu território enfrentando uma seca classificada como fraca. Em segundo lugar vem a Bahia, que, embora tenha uma área afetada menor, apresenta uma seca mais severa: 26% de seu território está sob seca moderada e 45% em seca fraca.

Em junho deste ano, o Nordeste registrou 8% de seu território com seca moderada e 33% com seca fraca. No mês seguinte, essas porcentagens aumentaram para 13% com seca moderada e 57% com seca fraca.

“Os prognósticos indicam chuvas de normais a um pouco abaixo da média para o próximo trimestre, o que sugere que a situação não se tornará tão grave quanto no Norte e Centro-Oeste” concluiu Alessandra Daibert, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

Situação de seca Nacional

A área afetada pela seca no Brasil aumentou, entre junho e julho, de 5,96 milhões km² para 7,04 milhões de km², o que corresponde a 83% do território nacional. Em julho, nove estados brasileiros enfrentaram seca em 100% de seus territórios: Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia e Tocantins.

“O que temos observado, especialmente no Norte e Centro-Oeste, é uma seca com uma severidade mais incomum, pois está abaixo da média para essa época do ano”, pontuou Alessandra Daibert.

O próximo período chuvoso é decisivo para uma melhora da condição de aridez. “Deve começar no final de setembro e início de outubro. No entanto, os prognósticos dos institutos de climatologia indicam chuvas abaixo da média nas regiões Norte e Centro-Oeste, o que pode agravar ainda mais a situação”, diz.

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