Perigo no ar: como incêndios e queimadas afetam a saúde

Partículas levadas por correntes de vento chegaram a mudar a coloração do céu de capitais brasileiras nos últimos dias; fragmentos podem ser nocivos a saúde

Consequências de queimadas e incêndios foram evidenciadas no céu de cidades brasileiras nos últimos dias. Fortaleza, Goiânia e Brasília são algumas das capitais que registraram fumaça no espaço aéreo, partículas tóxicas que podem piorar a qualidade do ar e colocar em risco um bem precioso: a saúde. 

Na capital cearense a coloração celeste chegou a ser alterada, ganhando um cinza que atraiu a atenção de populares. Por trás da estética, uma realidade preocupante: alteração ocorre em razão da presença de fumaça oriunda de eventos incendiários no continente africano e de queimadas na região amazônica. 

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Quem dá a explicação é a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). De acordo com órgão, a baixa umidade relativa do ar, característica dessa época do ano, facilita o transporte de poeira e a poluição da superfície para a atmosfera, contribuindo para o cenário observado.

Assim como em Fortaleza, o evento também foi identificado em outras cidades do Estado como Horizonte, Pacajus e Maracanaú. Em âmbito nacional, conforme Agência Brasil, a fumaça encobriu de forma mais drástica capitais como Goiânia e Belo Horizonte, chegando a dificultar a visibilidade dos espaços aéreos.  

Flávio Rodrigues, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que queimadas são técnicas tradicionais utilizadas para fazer "a limpa de terrenos". Normalmente atividade é controlada, usada na agricultora familiar, mas pode fugir do controle.

Já o incêndio, de acordo com docente, é um fogo que pode ser "deliberado", apresentando vários pontos de calor e diversos focos. Ele pode ocorrer de forma acidental ou proposital e se tornar sem controle.

Ambas ações têm em comum o fato de liberarem partículas muito finas, vindas do fogo, e que podem ser levadas para outras localidades. Flávio explica que esses fragmentos se transportam facilmente pela baixa atmosfera, sobretudo naquela com até cinco quilômetros de altitude, que apresenta alta turbulência. 

"Você tem sistemas de ventos diferentes que fazem essa distribuição (das partículas) por regiões. Você pode ter partículas sendo geradas em uma determinada região, como a Região Norte, a amazônica, e ela se distribui ao longo do Brasil atingindo praticamente todo o território nacional", destaca o profissional. 

Ainda conforme professor, esses fragmentos podem chegar em regiões como Centro-Sul, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, em razão das correntes de ar se deslocarem preferencialmente para essas áreas. No entanto, partículas podem eventualmente se deslocar para outras localidades, como o Nordeste. 

O que seria uma qualidade ideal do ar?

Em paralelo ao evento, Fortaleza registrou a maior média de aerossois no ar em todo 2024, no sábado , 24, com 34,3 microgramas por metro cúbico (µg/m³). É o que mostrou dados da Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (Citinova), que mede a qualidade do ar em movimento.

Nível de concentração do material na atmosfera do Município foi o pior do ano e cinco vezes maior que o recorde anterior de 6,6 µg/m³, registrado no dia 17 de julho. Para se ter ideia, limite de concentração diária média recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 15 µg/m³.

Flávio Rodrigues explica que, de forma geral, ter um ar limpo é "praticamente impossível", uma vez que ele é misturado com gases e partículas em suspensão. Nesse sentido, uma qualidade do ar ideal seria aquela cuja contaminação de atividades humanas, como queimadas e incêndios, fosse "a menor possível".

Qualidade do ar ideal x como o ar fica com incêndios e queimadas

Qualidade do ar ideal:  é aquela que mesmo com uma certa quantidade de material particulado, seja poeira, sedimentos de areia, partículas mais finas ou pólens de flores, são aceitáveis pelas condições humanas de salubridade. Geralmente, um ar ideal apresenta transparência. 

Como o ar fica com incêndios e queimadas: quando o ar apresenta muita quantidade de partículas provenientes de atividades humanas ele pode indicar uma coloração modificada, com uma tonalidade mais acinzentada e chegando a mostrar uma espécie de névoa.

Fonte: Flávio Rodrigues, professor do Departamento de Geografia da UFC. 

Fumaça é tóxica e pode fazer mal a saúde

Fumaça observada no céu de cidades brasileiras podem fazer mal a saúde. Conforme Flávio Rodrigues, ela é "muito tóxica" e emite CO2 e outros gases, afugenta e queima seres vivos, prejudicando a flora e a fauna. Além disso, atinge o sistema respiratório, sendo nociva a pele e aos olhos. 

"A fumaça é tóxica para o ambiente, tóxica para a saúde das pessoas, podendo aumentar muito o número de internações", destaca, analisando todos esses impactos citados como "muito preocupante". 

Em entrevista concedida ao O POVO, no domingo, 25, André Alencar, médico otorrinolaringologista, explicou que essas partículas oriundas de queimadas e incêndios podem agravar problemas respiratórios.

"Essa fumaça que fica em suspensão no ar pode ocasionar danos a saúde, principalmente em pessoas que têm quadros alérgicos, asmáticos, idosos e crianças muito pequenas", pontua o profissional, que atua como segundo vice-presidente da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).

Médico lembrou que nessa época do ano (segundo semestre) a temporada de ventos e a queda da umidade do ar normalmente já contribuem para o ressecamento das vias aéreas, piorando quadros asmáticos e alérgicos. Com a fumaça presente no céu, os riscos sanitários aumentam.

Dicas de como se proteger

Para evitar o contato com a fumaça, o professor Flávio Rodrigues orienta que populares se mantenham longe dos focos de incêndio. Quando isso não é possível, o ideal é manter uma hidratação frequente, utilizar máscara e tentar permanecer em locais que tenham circulação de ar. 

"Uma outra alternativa é fechar as janelas, mas mantendo o sistema de ventilação em casa, [por meio de] janelas, ar-condicionado, e você ter umidificadores em casa", indica o docente universitário. 

Já o médico otorrinolaringologista André Alencar pontua que todas as pessoas que têm alergia e asma mantenham o tratamento "normalizado". Profissional orienta ainda que aqueles que não apresentam condições do tipo e nem doenças mais graves realizem a lavagem nasal.

"Você remove todo esse resíduo que fica acumulado nas vias aéreas, melhora a limpeza das vias aéreas, ajuda o organismo a fazer um serviço que já é fisiológico (...) É muito importante para a população que não tem doença manter a hidratação, com soro fisiológico", explica o médico.

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