Maciço de Baturité: quebra de sigilo telefônico expõe organograma de facção; 22 são denunciados

O trabalho investigativo da Polícia Civil, por meio da Draco e do Departamento de Polícia Judiciária, montou um organograma da atuação do Comando Vermelho no Maciço de Baturité e em comunidade de Fortaleza

As investigações da Polícia Civil do Ceará, por meio da Delegacia de Repressão as Ações Criminosas Organizas (Draco) e do Departamento de Polícia Judiciária, resultaram na quebra de sigilo de dados telefônicos que identificam conversas de WhatsApp por mensagem escrita e áudios que descrevem toda a articulação da facção criminosa Comando Vermelho (CV) na região do Maciço de Baturité, no Ceará

A Polícia Civil montou um organograma de hierarquia criminosa por município mapeando os traficantes que mantém vínculo com o chefe da organização. O POVO teve acesso ao documento do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) que denunciou 22 pessoas no dia 8 de agosto, muitas delas sendo dos municípios de Mulungu, Baturité e Guaramiranga.

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O grupo também tinha ligação com Fortaleza e com a cúpula da facção no estado de origem (RJ). Esse contato aconteceria com um dos criminosos mais procurados do Ceará, que segue homiziado em comunidades do Rio de Janeiro. 

São 174 páginas que transcrevem as conversas e mostram o cotidiano dos integrantes de facção se articulando sobre o fornecimento de drogas, armamentos e a administração de finanças na hierarquia dos integrantes do CV.

A investigação foi desencadeada após a prisão de um dos principais investigados. Antônio Gillieard Oliveira dos Santos, conhecido como "Gilliard" ou "Cabra da Peste", natural de Mulungu, a 118,85 km de Fortaleza, atualmente recolhido na UP Sobreira Amorim. Ele é apontado na investigação como uma liderança e a companheira, Lara Maria Primo Belchior Germano, seria o braço direito do chefe da facção. 

Os áudios e fotografias extraídos a partir da apreensão do aparelho celular de Cabra da Peste mostram o fornecimento de drogas, sendo comercializado uma espécie de "kit" com diversos tipos de entorpecentes como maconha, cocaína e crack. Além disso, o chefe do tráfico gerenciava os outros traficantes e os penalizava quando havia situações de prejuízo. Em uma das situações um homem teve os dois braços quebrados em razão de um derrame O derrame é quando a droga é usada ou desaparece sem render qualquer valor.   de droga. 

A investigação mostra que "Cabra da Peste" também era procurado por integrantes de facções criminosas de outras localidades, que pretendiam residir em Mulungu, para que pudesse "autorizar" a moradia. Ele também se utilizava de adolescentes para guardar drogas. As conversas também envolvem pessoas responsáveis por armazenar e realizar manutenções em armamentos.

O chefe de organização possui conversas com um ex-militar do Exército Brasileiro (EB) que relatava o objetivo de conseguir um "despachante" para obter um registro de Caçador, Atirador e Colecionador (CAC) de arma de fogo e, dessa forma, realizar a venda do material para a liderança do CV por preços abaixo dos que são comercializados no mercado do crime. 

As finanças do tráfico na região eram contabilizadas e organizadas e, constantemente, valores, em torno de R$ 5 mil, eram enviados ao chefe do tráfico no Rio de Janeiro. Essa conexão entre a região do Maciço do Baturité, de Fortaleza e do Rio de Janeiro também era marcada por relatos de crimes de morte, planejamento de invasão de territórios. O CV, no Mulungu, pretendia expandir os negócios ilícitos para Baturité, invadindo e matando integrantes da facção Guardiões do Estado (GDE). 

Material sendo embalado por traficantes de drogas do CV
Material sendo embalado por traficantes de drogas do CV Crédito: Reprodução/MPCE

O MPCE, por meio do Departamento de Polícia Judiciária Especializada e da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), montou o organograma do grupo criminoso em Mulungu, em Guaramiranga e em Fortaleza. 

As transações do tráfico de drogas ocorriam via PIX com contas de integrantes das organizações criminosas. Nas conversas a maconha é tratada como "café", a cocaína em algumas conversas e anotações é citada como "branco". 

Os aplicativos de mensagens também eram usados para avisar sobre a presença e atuação da polícia na área e citar nomes de agentes de segurança que agem no combate ao tráfico de drogas, o que incomoda a facção. 

Nas conversas com integrantes de Fortaleza também é citada a comunidade chamada de "Favela do Arroz", localizada no bairro Maraponga/Jardim Cearense, onde há presença do CV. Os criminosos alertam sobre a presença do Comando Tático Motorizado (Cotam). "favela é foda. Vira e mexe embaça (SIC)", aponta.

As conversas também descrevem a situação de traficantes insatisfeitos com os municípios onde atuavam e que procuravam "Cabra da Peste" para serem liberados para mudar de cidade, mas destacando que continuaram "trabalhando" para o chefe da organização criminosa. 

Confira a lista dos denunciados pelo MPCE 


- Antônio Gilliear Oliveira dos Santos, conhecido como Gilliard ou Cabra da Peste, natural de Mulungu, no Ceará, atualmente recolhido na UP Sobreira Amorim

- Lara Maria Primo Belchior Germano, natural de Mulungu, residente na Barra do Ceará, atualmente presa

- Paulo Ricardo Fraga Barroso, natural de Baturité, morador de Mulungu, atualmente recolhido

- Erisson Galdino de Freitas, conhecido como Novato, Mulungu, recolhido

- Antônio Claudemir Oliveira Clara, conhecido como Bibi, Mulungu, foragido

- Maria Michele Terto Barros, brasileira, moradora de mulungu, foragida

- Luiz Bruno Mendonça Costa Alves, conhecido como Cagão, foragido

- Wualame Coelho de Oliveira, conhecido como louro, foragido

- Antônio Etevaldo da Silva Souza, Teté, atualmente recolhido

- José de Sousa Martins, conhecido como Roberto, preso

- Alex Ferreira Soares, conhecido como Lelé, Guaramiranga, preso na Sobreira Amorim

- Guilberto Lima dos Santos, conhecido como Mirim, Guaramiranga, recolhido

- Igor Ferreira Lino, preso UP Itaitinga II

- Larissa Baldino Alves, conhecida como Lary

- Elielton Alves de Sousa, conhecido como Paosa/Paonça - foragido

 

 

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Facções criminosas

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