Mais de 4 mil crianças cearenses foram registradas sem o nome do pai em 2024
Reconhecimento tardio da paternidade biológica pode ser feito em qualquer cartório de forma gratuitaO nome do pai não está na certidão de nascimento de 4.633 crianças cearenses registradas de janeiro até esta quinta-feira, 8. Em Fortaleza, são 1.614 certidões com pais ausentes.
Os dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) mostram que a falta do reconhecimento da paternidade é um problema para 100 mil crianças brasileiras registradas apenas até o início de agosto deste ano.
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Jacks Filho, diretor da Associação dos Notários e Registradores do Ceará (Anoreg-CE), afirma que a falta do nome do pai na certidão pode prejudicar a criança caso a mãe se torne incapaz de cuidar ou venha a falecer.
Além disso, há consequências patrimoniais, como a impossibilidade de requisitar a pensão alimentícia, de usufruir de heranças ou pensões por morte.
“O nome também é um reconhecimento de vínculo. O direito da convivência é do pai, mas é da criança também. Isso influencia na formação de valores, de vivências. Não só do indivíduo, mas da sociedade como um todo”, afirma a defensora pública Aline Pinho.
Apesar do processo ser facilitado e gratuito, ainda há desconhecimento sobre como realizar o reconhecimento tardio da paternidade.
Jacks explica que para casos de reconhecimento do pai biológico, basta ir em qualquer cartório com a documentação da criança, da mãe e do pai. Não é necessário pagar taxas.
Neste ano, municípios como Eusébio, Juazeiro do Norte e Sobral, não tiveram nenhum reconhecimento de paternidade.
Já Fortaleza, teve 47 certidões averbadas com o nome do pai em 2024 e 85 no ano passado; Maracanaú teve 52 e 55, respectivamente; Caucaia, 37 e 69.
Já quem quer ser reconhecido como pai de forma socioafetiva, sem ser o genitor biológico, precisa pagar uma taxa. Nesta modalidade, a criança precisa ser maior de 12 anos. Há ainda uma entrevista realizada no cartório antes da aprovação do documento.
Caso a família não tenha como arcar com a taxa cartorial, o processo pode ser resolvido por meio da Defensoria Pública do Estado (DPCE). O órgão pode solicitar a isenção da cobrança.
Os dois tipos de reconhecimento podem ser feitos mesmo após a maioridade. “Pode ser um bebê de meses ou um senhor de 70 anos. É um direito que não prescreve”, diz Aline.
Crianças sem nome do pai no registro no Ceará
Fortaleza: 1.614
Maracanaú: 204
Caucaia: 180
Juazeiro do Norte: 146
Sobral: 121
Eusébio: 81
Ceará: 4.633
Fonte: Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil)
Crianças sem pai no registro: um panorama brasileiro
De acordo com o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Razeam) para 2024, produzido pelo Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, 4,3 milhões de mulheres chefiavam domicílios sem cônjuges e com filhos de até 14 anos, sobretudo mulheres pretas ou pardas (65,8%), durante o ano de 2022. Em relação aos homens, o número caía para 501 mil.
No Brasil, dos 2,5 milhões de nascidos, 172,2 mil possuem pais ausentes. O número é 5% maior do que o registrado em 2022, com 162,8 mil, segundo dados da Arpen-Brasil.
O maior percentual de pais ausentes fica na região Norte do País, com 10%, seguida pelo Nordeste, com 8% de pais ausentes do total de nascimentos.
No Portal da Transparência, ao avaliar um período entre 1º de janeiro a 1º de agosto de 2024, 99.634 crianças já apresentaram um registro com a ausência do pai, entre mais de 1,4 milhão de nascimentos.
Caso o pai seja ausente ou se recuse a realizar o registro de nascimento, a mãe pode indicar o nome do suposto pai ao Cartório, que dará início ao processo de reconhecimento judicial de paternidade.
O pai que deseja declarar o reconhecimento de paternidade deve se dirigir a um cartório de Registro Civil para requerer o reconhecimento tardio ou manifestar sua concordância. Se o filho for menor de 18 anos, este deverá ser acompanhado pela mãe.
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