"Meus pais só sabiam escrever o próprio nome", diz estudante cearense que faz doutorado em Oxford

Natural de Aratuba, cidade na serra de Baturité, no Ceará, Marcela conquistou seus sonhos por meio dos estudos. Hoje, faz doutorado em Oxford, na Inglaterra, com uma bolsa disputadíssima

Filha de agricultor e dona de casa, Marcela Alves, 32 anos, cresceu em um ambiente simples, mas desde cedo demonstrou curiosidade e vontade de aprender. Nascida em Aratuba, cidade da serra de Baturité, a 98,24 quilômetros (km) de Fortaleza, ela conseguiu realizar um de seus maiores sonhos: uma bolsa de doutorado na Universidade de Oxford, na Inglaterra.

A trajetória nos estudos começou muito cedo, com apenas 5 anos Marcela já começava a se destacar na escola. Estudante de escola pública, sempre gostou de ler livros e participou de competições acadêmicas e culturais, conquistando medalhas em olimpíadas de matemática e astronomia.

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Após concluir o ensino médio, Marcela ingressou no Programa Universidade para Todos (ProUni) e ganhou uma bolsa para cursar Ciência da Computação. Apesar das dificuldades financeiras, que a obrigaram a estagiar em dois locais simultaneamente, dedicou-se intensamente aos estudos. 

Durante a faculdade, foi selecionada para o programa Ciência sem Fronteiras, que a levou para os Estados Unidos. Como ainda não dominava a língua inglesa, este foi o primeiro desafio. 

“O Ciência sem Fronteiras foi um divisor de águas na minha carreira, minha família nunca teve condições de pagar um curso de inglês para mim e muito menos um intercâmbio. Esse programa abriu caminho para o meu mestrado e certamente para o meu doutorado”, lembra Marcela.

Marcela superou as dificuldades com determinação e, após seis meses, já participava de disciplinas universitárias e se destacava em um curso de verão organizado pelo renomado cientista Stephen Wolfram. Este evento abriu portas para uma nova fase na sua vida, conectando-a com importantes contactos académicos e profissionais.

Conquistas, contatos e Inglaterra

De volta ao Brasil, Marcela estudou e trabalhou na Universidade Estadual do Ceará (Uece), onde participou de um projeto de desenvolvimento de software para pessoas com deficiência. As conquistas e contatos adquiridos a levaram para São Paulo, onde fez mestrado na Universidade de São Paulo (USP) e depois recebeu uma oportunidade de emprego na Bélgica como engenheira de software.

Com o desejo de realizar seu maior sonho, Marcela decidiu fazer doutorado na Universidade de Oxford, um dos cursos de Ciência da Computação mais prestigiados do mundo. Sua história, que começou no sítio de Aratuba, tocou profundamente os professores de Oxford, e sua dedicação os impressionou tanto que ela foi aceita no programa de doutorado com uma bolsa extremamente competitiva. Desde outubro de 2023, Marcela vive esse sonho na Inglaterra.

“Com os estudos entendi que poderia chegar cada vez mais alto, então comecei a sonhar alto, pois sempre fui muito dedicado. Quando fui aprovado foi uma sensação muito maravilhosa, porque uma menina que veio do interior do Ceará agora está estudando no exterior e com uma bolsa tão rara. Estou realmente muito feliz por viver esse sonho”, disse o estudante.

O estudante destaca como foi difícil conquistar a bolsa em Oxford, pois é a universidade que seleciona os alunos.  “A minha bolsa tem muito prestígio porque é uma bolsa que o aluno não se candidata. A universidade seleciona os alunos com os melhores currículos, com potencial para serem líderes em suas áreas de pesquisa, mas não temos condições de custear o curso”, disse Marcela.

Modelo computacional e dinâmica do mercado de trabalho

Atualmente, no primeiro ano do doutorado, a aluna trabalha no aprimoramento do modelo computacional da dinâmica do mercado de trabalho, construído por seu grupo de pesquisa.

Marcela ressalta que apesar dos altos salários dos professores, o doutorado é a realização de um sonho. “Estou aproveitando a oportunidade, me dedico muito e me dou muito bem com os professores, é a realização de um sonho”, disse o aluno. 

Marcela ressalta que, para os pais, a conquista é motivo de muito orgulho, principalmente para a mãe, que sempre a apoiou. Mas a alegria da aprovação também foi marcada pela perda do pai na mesma semana.

"Meus pais só sabiam escrever meu próprio nome. Embora eu não entendesse o que é doutorado ou pesquisa acadêmica, minha mãe sempre diz que mereço tudo que busco, pois sempre fui muito estudioso. A semana da minha aprovação foi um misto de alegria e tristeza pela perda do meu pai, queria que ele visse que estudar era o meu destino", disse o aluno.

Marcela dá um conselho a jovens e adultos com sonhos parecidos: “não desistam”. As condições e o acesso aos estudos estão melhorando e com dedicação e atenção às oportunidades é possível transformar sonhos em realidade.”

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