Com projeto de conservante natural, aluna cearense é premiada em feira internacional

No segundo semestre deste ano, Gabrielle iniciará o curso de Engenharia de Alimentos na UFRN. Estudante planeja continuar a pesquisa e adquirir mais conhecimentos na área da ciência

Para reduzir o desperdício de alimentos, a cearense Gabrielle de Oliveira Rodrigues criou um conservante natural para frutos feito à base de mandacaru e da cera de carnaúba. O projeto, desenvolvido em uma escola pública de Maranguape, representou o Ceará na Feira Internacional de Ciências e Engenharia (ISEF), realizada no último mês de maio em Los Angeles, nos Estados Unidos. O trabalho da aluna foi premiado com o segundo lugar em uma das categorias.

Todas as etapas de criação do projeto, intitulado “RCMC - Revestimento comestível à base de mandacaru e carnaúba: uma nova alternativa como conservante de frutos”, foram realizadas pela estudante na Escola de Ensino Médio Luiz Girão, em 2023, sob a orientação do professor Carlos Eduardo Oyama.

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Gabrielle conta que a ideia para o desenvolvimento do trabalho surgiu após a estudante perceber os impactos do desperdício alimentar, que também afeta agricultores da região onde mora.

“Eu percebi que havia muita perda ao longo da cadeia, de frutas e de hortaliças [...] Eu também decidi criar essa pesquisa porque na minha região há um grande trabalho de agricultores que sofrem com esse tipo de perda. Os estudantes da minha escola, normalmente, são filhos de pessoas que trabalham nas cooperativas de agricultura familiar, e, para auxiliar essas pessoas, eu decidi criar essa alternativa.”

Após pesquisas, Gabrielle descobriu sobre o uso e o funcionamento dos conservantes. Porém, a estudante observou que parte dos produtos é tóxica ou não apresenta ação antimicrobiana. A partir disso, ela resolveu criar um conservante natural com base em duas espécies nativas da região onde mora: o mandacaru e a carnaúba.

“Eu cheguei nessas duas espécies estudando no repositório da Universidade Federal do Ceará. Eu percebi que elas já eram utilizadas e têm um potencial de conservação muito grande. Passei a estudar em outros artigos e percebi, por exemplo, que tem vários cactos de mandacaru próximos da minha escola. Eu percebi que poderia colher esse mandacaru na natureza, e foi o que eu fiz. A cera de carnaúba é largamente vendida, principalmente para exportação, mas ela também é vendida em lojas locais próximas aqui”, explicou.

Após as observações, Gabrielle iniciou a fase de testes em tomates, goiabas e maçãs. Os frutos eram revestidos pela forma líquida da solução e, após as primeiras tentativas, a estudante percebeu que o tomate se adaptava melhor ao revestimento.

“Todo o processo é muito simples. Eu misturava em um liquidificador, verificava uma mistura homogênea, colocava na geladeira por 24 horas em uma temperatura de 2 ºC e depois eu vi uma mistura heterogênea trifásica. Eu usava a fase líquida da solução para revestir os frutos."

Segundo ela, o tomate é um sofre de muitas perdas ao longo da cadeia produtiva, no pós-colheita, até chegar à residência do consumidor final. "É um fruto que apodrece muito rápido”, apontou.

Com isso, Gabrielle chegou aos primeiros resultados da pesquisa: o fruto com o RCMC consegue ficar 21 dias em prateleira, enquanto os frutos sem o revestimento ficam de seis a nove dias.

O desenvolvimento de todo o projeto foi feito pela estudante com a orientação do professor da escola. Porém, ela também destaca que, em alguns processos recebeu a ajuda de colegas da unidade.

“Fazer um projeto científico é sempre uma coisa muito interessante, porque você nunca vai fazer algo completamente sozinho. Inúmeras pessoas me ajudaram durante todo esse processo. Tiveram alguns alunos que não necessariamente queriam trabalhar na parte do desenvolvimento da pesquisa em si, mas trabalharam no auxílio das práticas laboratoriais. Isso foi uma coisa muito interessante para mim, porque, ao mesmo tempo, eu poderia compartilhar minhas experiências com outros estudantes”, disse.

O projeto para além dos muros da escola

Gabrielle apresentou a pesquisa pela primeira vez na Mostra Científica do Cariri, em Juazeiro do Norte, em outubro de 2023. A estudante alcançou o primeiro lugar na categoria Ciências Agrárias e garantiu “passagem” para a Febrace, a maior feira de ciências e engenharia do País, promovida pela Universidade de São Paulo (USP).

A Febrace foi realizada em março deste ano, e o projeto da estudante conseguiu sete premiações, incluindo uma credencial para a Regeneron ISEF (International Science and Engineering Fair) 2024, a Feira Internacional de Ciências e Engenharia que é realizada todos os anos nos Estados Unidos.

Gabrielle representou o Ceará no evento científico e conseguiu mais uma grande conquista com o projeto, alcançando o segundo lugar na categoria "Plant Sciences".

“A ISEF é uma experiência de outro mundo. Você conhece estudantes como você, que passam pelas mesmas dificuldades ou que têm outras realidades pelo mundo afora. Esse projeto de uma escola pública, de uma região metropolitana do Ceará, diz muito. É muito importante para o País, é muito importante para a região e é importante também para incentivar outros alunos, principalmente meninas, que estão aí e que sonham em trabalhar com a iniciação científica.

Gabrielle conta que chegou a receber mensagens de outras jovens estudantes depois de conquistar o prêmio na feira internacional. “Eu vejo meninas de 14, 16 anos, que me mandam mensagem apoiando a iniciação científica e dizendo ‘meu sonho é ir para ISEF’. Isso é incrível, poder ter esse espaço para incentivar todas essas pessoas”, enfatizou.

Prestes a iniciar o curso de Engenharia de Alimentos na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Gabrielle tem grandes planos para o futuro.

Um deles é dar continuidade ao projeto com novas testagens, verificando outras composições para o revestimento e utilizando outros tipos de instrumentos e materiais. Gabrielle também conta que está analisando alternativas sobre o que pode fazer para desenvolver mais conhecimentos no âmbito da ciência, área que planeja seguir.

“Eu tenho pensado muito, em paralelo à Universidade, verificar o que eu posso fazer para, quem sabe, fazer um intercâmbio ou uma universidade fora do país, mestrado ou doutorado, porque o meu sonho é realmente trabalhar na área da ciência. Essa premiação é uma ajuda muito grande para que eu possa alcançar meu objetivo, que é trabalhar com ciência, com a minha pesquisa, até com outras pesquisas da área pelo resto da minha vida. É desenvolver isso pelo resto da minha vida e fazer acontecer”, finalizou.

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