Estudo aponta probabilidade de terremotos nas cidades de Acaraú, Cascavel e Palhano

Eventos sísmicos podem chegar até 5.1 de magnitude da escala Richter. Nos primeiros cinco meses deste ano, o Ceará registrou 14 abalos sísmicos em nove municípios

07:00 | Jun. 05, 2024

Por: Mirla Nobre
Imagem de apoio ilustrativo. Pesquisadores afirmam que as regiões citadas são historicamente propícias aos eventos sísmicos (foto: reprodução NÚCLEO DE FISCALIZAÇÃO COGERH)

Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Instituto de Geofísica da Academia Polonesa de Ciências aponta a probabilidade de 50% de ocorrências de terremotos nos municípios de Acaraú, Cascavel e Palhano, no interior do Ceará, no intervalo de tempo de 50 anos. Os eventos sísmicos podem chegar até 5.1 de magnitude na escala richter.

Dentre as zonas sísmicas analisadas na pesquisa, Acaraú, a 233,5 quilômetros de Fortaleza, apresentou a maior ameaça, com possibilidade de terremoto até 5.1 no espaço de tempo. Enquanto, Cascavel e Palhano, no Noroeste do Estado, os eventos podem chegar até 4.7 de magnitude, apesar de Cascavel ter registrado historicamente o maior evento sísmico do Nordeste, com 5.2, no ano de 1980.

De acordo com um dos autores do estudo e coordenador do Laboratório Sismológico (LabSis), Aderson Farias do Nascimento, a pesquisa trata-se de um “estudo de ameaça”. “Ele é probabilístico e não se trata de previsão, como acontece com o tempo”, afirma. O pesquisador explica que para chegar ao resultados foram coletadas todas as ocorrências sísmicas no Nordeste no período de 1990 a 2020 através do catálogo da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR).

Diante dos resultados, foram reveladas as regiões com a maior possibilidade dos eventos a partir da janela de tempo utilizada na pesquisa [50 anos]. Além do Ceará, outras localidades foram destacadas: Leste da Bacia Potiguar, em torno da cidade de João Câmara, no Rio Grande do Norte, com chance de ocorrência até 5.0, e no Lineamento Pernambuco, nas regiões de Caruaru e São Caetano, com probabilidade de 4.9.

Conforme o estudo publicado na revista científica Cell, no último dia 2 de maio, terremotos com magnitudes entre 4,7 e 5,1 têm 50% de probabilidade de ocorrer, afetando estruturas civis como casas e prédios. Já os terremotos com magnitudes entre 5,5 e 6,2 têm 10% de probabilidade de ocorrer, representando riscos para grandes obras civis, como barragens, parques eólicos, mineração, usinas hidrelétricas e nucleares.

“A importância desse estudo é que, muitas vezes, você quer planejar a construção de infraestruturas, como barragens e usinas, e essas estruturas vão ficar nas regiões por décadas. É preciso que quando você faça um planejamento para esse tipo de estrutura você tenha noção que exista uma possibilidade de ter eventos desse tipo com essa magnitude e que possa vir a comprometer a sua estrutura”, comenta o coordenador do LabSiS.

Segundo o também pesquisador do estudo, o doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica da UFRN, Augusto Fonsêca, as regiões citadas são historicamente propícias aos eventos sísmicos e as razões estão relacionadas a alguns fatores, entre eles as falhas geológicas. “O que a gente pode dizer é que a sismicidade é maior, a região da crosta é mais frágil. Nessas zonas de fraqueza maior, é onde terremotos podem ocorrer mais. A razão, no entanto, ainda é motivo de estudo”, explica.

O pesquisador também destaca que o intervalo de tempo de 50 anos utilizado no estudo não está relacionado às próximas cinco décadas. “Não estamos prevendo para os próximos 50 anos. Nós utilizamos essa janela de tempo para encontrar essas probabilidades”, informa. Augusto afirma ainda que, caso o período exemplificado seja colocado em outro ano com o mesmo intervalo de tempo e as mesmas premissas, os resultados seriam os mesmos.

Ceará tem o menor número de abalos sísmicos em dois anos

O Ceará registra o menor número de abalos sísmicos em dois anos. Entre os meses janeiro e maio deste ano, o Estado teve 14 eventos sísmicos. No mesmo período no ano passado, a região contabilizou 32 eventos, enquanto em 2022, o número foi de 42 ocorrências. Os dados são do Laboratório de Sismológico (LabSIS), da UFRN.

Neste ano, foram registrados eventos de magnitude de 1.5 até 2.4. Os municípios que registraram os eventos foram: Jaguaretama, Camocim, Santana do Acaraú, Maranguape, Ipaumirim, Pereiro, Tejuçuoca, Maranguape e Jaguaribe. Ao longo do ano passado, o Ceará registrou o total de 52 abalos sísmicos. Já em 2022, o quantitativo foi de 64.

O pesquisador da Rede Sismográfica Brasileira, Augusto Fonseca, destaca que os eventos são originários de atividades , assim como eventos naturais. “Os sismos de magnitude menor são muito mais frequentes do que os de magnitude maior. É normal que os terremotos sejam registrados mensalmente ou até mesmo semanalmente em determinadas regiões onde as atividades são maiores porque as falhas geológicas se movimentam mais, ou seja, o chão está sempre vibrando”, comenta o pesquisador.

Diante dos eventos, há a probabilidade de ocorrência capazes de causar riscos imensos, como prejuízos humanos, danos a edificações, perdas econômicas e impactos ambientais. “O preparo não é uma função do laboratório. O que a gente alerta a Defesa Civil e demais autoridades competentes diante dos estudos”, comenta o coordenador do LabSIS, Aderson Nascimento.

Em relação aos danos as regiões, o pesquisador comenta que vai depender das estruturas que a região possui, como o tipo de construção, a distância que ela está das ocorrências. Em locais mais próximos dos eventos, é possível que tenha danos mais graves. O estudo cita que, em casos mais graves, há a possibilidade de destruição de casas e que quanto mais preparadas as regiões menores as consequências.

Confira o balanço de eventos sísmicos 2022 a 2024 no Ceará