Ex-secretário nacional de segurança comenta desafios de Roberto Sá no Ceará

Novo chefe de segurança do Estado precisará enfrentar uma alta média de homicídios e forte atuação de facções criminosas, dentre outros problemas

Após a saída de Samuel Elânio do comando das forças de segurança do Ceará, na segunda-feira, 27, o delegado federal Roberto Sá foi nomeado para substituí-lo no cargo. Em entrevista à rádio O POVO CBN, o ex-secretário nacional de segurança, José Vicente da Silva, comentou quais serão os principais desafios do novo chefe da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). 

Assim como Sá, Elânio e o seu antecessor Sandro Caron são delegados federais. Para José Vicente, essa é uma frequente aposta dos governos do Ceará que não vem mostrando resultados. 

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“Os delegados federais não têm preparo para as atividades de policiamento típicas das polícias militares, nem da atividade policial da Polícia Civil que fazem investigação de problemas, dos menores aos maiores. Eles não têm essa experiência. Outro aspecto é que a formação de delegados federais é uma formação muito rápida, direcionada para a investigação de crimes federais”, comenta o coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo. 

Segundo o ex-secretário, essa formação voltada para outro tipo de atuação, não competente à SSPDS, prejudica o planejamento estratégico das ações no Ceará. José também pontua que a escolha por delegados federais seria uma terceira via, a fim de evitar rivalidades inflamadas pela escolha de um militar ou policial civil para a cabeça da pasta.

Silva pondera, no entanto, que esse poderia ser um caminho promissor para a escolha de um chefe de segurança, a partir do conhecimento que eles possuem da criminalidade no Estado.

“Nós temos delegados [de Polícia Civil] na Paraíba, que vai bem, tivemos oficial no Espírito Santo, que não lembro se continua lá, e em vários outros estados, e eles têm mais intimidade, primeiro, com a realidade de segurança do Estado e, segundo, eles têm vivência policial. No País, variando um pouco de estado para estado, 80% das forças policiais são de Polícia Militar”, acrescenta.

Desafios do novo secretário

Silva aponta o enfrentamento das facções criminosas como um dos grandes desafios da segurança pública no Ceará. Para ele, esse embate só poderá ser vencido se as forças de segurança realizarem um refinado trabalho de inteligência, para conhecer os grupos criminosos e como afetá-los.

“Elas precisam de um raio x, o mais detalhado possível, de como as facções funcionam. Saber suas lideranças, seus pontos de apoio da estrutura de gestão dessas facções, onde elas atuam, isso é trabalho de inteligência. Raio x é feito com inteligência da Polícia”, orienta o coronel.

Para José Vicente, esse é o caminho que poderá levar à prisão dos líderes de grupos criminosos e à interrupção estratégica de seu funcionamento, com a interceptação do abastecimento de armas e drogas desses coletivos.

“Eu lembro que um líder do Comando Vermelho morreu no Rio de Janeiro e a facção impôs dias de luto ao comércio local. Impor conduta, essas coisas que cabem apenas ao estado, é que são intoleráveis e precisam ser colocadas como prioridades”, adiciona.

Além da atuação das facções, outro desafio de Sá será o chamado “crime desorganizado”, ou seja, aquele que não tem a ver com o tráfico de drogas e facções.

Para ele, esse pode ser tão prejudicial quanto o crime organizado. Com pequenos roubos de celulares, automóveis e bem pessoais, a sensação de insegurança tende a ser cada vez maior.

“É uma experiência traumática que atinge dos mais poderosos aos mais pobres e causa uma interferência enorme nessa percepção da segurança, nesse medo da violência”, destaca José Vicente.

O que esperar de Roberto Sá?

Segundo o coronel, Roberto Sá tem um diferencial em relação aos outros secretários devido às experiências anteriores dele. Silva acredita que as passagens pelas secretarias de segurança do Rio de Janeiro e do Espírito Santo podem ajudar o delegado nos desafios que terá no Ceará.

“Ele teve primeiro um preparo para ser oficial, que é um preparo de quatro anos. Segundo que ele se envolveu profissionalmente com muitas das atividades do policiamento no Rio de Janeiro, uma das praças mais complicadas de segurança do País. Depois, acabou indo para a secretaria de segurança pública do Espírito Santo. Ficou um tempo lá onde os resultados são controversos. Ajudou em primeiro momento e depois perdeu um pouco a mão”, pontua o coronel.

José Vicente vê Roberto Sá como uma aposta do Governo do Estado, mais uma em delegados federais, mas que terá um vasto repertório a seu favor.

“É uma nova aposta da secretaria e dele também. Esperamos que ele leve a experiência dele, da formação dele, da experiência como oficial de policiamento e duas secretarias. Ele tem repertório, portanto, para tentar mudar a situação trágica de segurança do Ceará, que é uma das piores do País”, conclui o ex-secretário nacional.

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