Relembre a gestão Samuel Elânio à frente da segurança pública no Ceará
Após assumir em janeiro de 2023, secretário começou trabalho mantendo redução no número de homicídios, mas, depois de setembro de 2023, índice voltou a subir
08:01 | Mai. 28, 2024
Após 17 meses, chegou ao fim, nessa segunda-feira, 27, a gestão do delegado federal Samuel Elânio à frente da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). O secretário iniciou o trabalho, em janeiro de 2023, dando continuidade à queda no número de homicídios registrada nos dois anos anteriores, mas deixou a pasta com aumento no índices.
Samuel Elânio chegou à SSPDS em abril de 2021, sete meses após o também delegado federal Sandro Caron assumir a titularidade da secretaria. À época, Elânio era o secretário executivo da SSPDS, o segundo cargo dentro da hierarquia da pasta.
Antes disso, acumulava 15 anos de experiência na Polícia Federal, com passagens por Amapá e Rio Grande do Norte. No Ceará, Samuel Elânio chefiou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF local.
Foi com a saída de Caron para assumir a Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, ao término da gestão Camilo Santana (PT), que o governador eleito Elmano de Freitas escolheu Elânio para substituí-lo.
Quando o novo secretário assumiu a pasta, o Estado vinha de dois anos de redução no número de homicídios. Após os assassinatos subirem 78,95% de 2019 para 2020, os anos seguintes apresentaram redução de 18% e 10%, respectivamente, em 2021 e 2022. Em 2020, ocorreram 4.039 homicídios, enquanto, em 2022, ocorreram 2.970.
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Dentre as iniciativas adotadas pelo novo secretário a partir de 2023, destacaram-se a criação da Patrulha Rural, empregadas em distritos do Interior; a criação do Grupo Integrado de Inteligência e Investigação da SSPDS e Polícia Civil; e a entrega do Centro Integrado de Segurança Pública.
Em fevereiro deste ano, Elânio reestruturou o sistema de inteligência das forças de segurança do Estado. Ele aumentou o número de vagas de profissionais que atuam na área de 135 para 719, aumentou suas remunerações e anunciou a criação do Departamento de Combate ao Crime Organizado e de uma delegacia para combate ao tráfico de armas.
Outra iniciativa implantada neste ano foi a ferramenta Meu Celular, que identifica celulares roubados e furtados para que seja feita a devolução para o verdadeiro proprietário do aparelho. Em 10 de maio, a SSPDS anunciou que 450 celulares foram recuperados no primeiro mês de funcionamento do Meu Celular.
Por outro lado, iniciativas de outros secretários no campo foram postas de lado, a exemplo do Comando da Polícia Militar para Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac), da Polícia Militar, que, em 2023, teve apenas duas bases entregues.
Homicídios aumentaram em 2024 no Ceará
Até setembro, o ano de 2023 apresentava queda no número de homicídios no Estado — foram registrados 2.124 assassinatos nos nove primeiros meses do ano, 5,09% a menos que os 2.238 crimes registrados no mesmo período de 2022.
No último trimestre de 2023, porém, ocorreram 846 homicídios, número 15,57% maior que nos três últimos meses de 2022. Com isso, o ano de 2023 terminou não com diminuição, mas com o exato mesmo número de assassinatos de 2022: 2.970.
O ano de 2024 começou pior. Nos quatro primeiros meses deste ano, foram registrados 1.139 homicídios, aumento de 20,27% na comparação com o primeiro quadrimestre de 2023. Conforme o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o Ceará foi o segundo estado mais violento do Brasil no primeiro trimestre do ano.
Os índices retrocederam a patamares semelhantes aos de 2020. Em 17 de fevereiro de 2014, duas chacinas foram registradas, em Aracoiaba (Maciço do Baturité) e Caucaia (Região Metropolitana de Fortaleza), ambas deixando quatro mortos. Com 22 assassinatos, esse foi o dia mais violento no Estado desde 12 de julho de 2020. Já abril foi o mês mais violento no Ceará desde novembro de 2020.
Durante a gestão Elânio, ocorreram oito chacinas: Ibicuitinga, Itarema, Camocim, Maranguape, Caucaia (duas, uma no bairro Mestre Antônia e outra no bairro Urucutuba), Aracoiaba e Cascavel.
Os números da segurança tornaram a área a principal vitrine para adversários do governador Elmano. Em meio a críticas que partiam de maneira mais incisiva dos grupos do prefeito de Fortaleza José Sarto (PDT) e do pré-candidato Capitão Wagner (União Brasil), Elânio fez uma declaração que foi alvo de muitas críticas.
Durante evento de entrega simbólica de celulares identificados como furtados ou roubados por meio da ferramenta “Meu Celular”, o secretário declarou que o aumento de homicídios em 2024 era ressaltado pela redução em 2021 e 2022 e que, levando em consideração um período maior de tempo, a taxa ainda estava em patamares “razoáveis”.
“Estamos falando de um aumento considerando reduções em cima de reduções. Obviamente, se tivermos um homicídio hoje e amanhã tivermos dois, aumentamos 100%. Mas comparado com todo o período, um período bem maior do que esse, nós ainda estamos com um número razoável. Mas sabemos que devemos melhorar e vamos melhorar”, disse o secretário.
Elânio publicou artigo no O POVO em que dizia que a expressão foi "inadequada" e que "não condiz com o que penso". Cinco dias após a declaração, o governador Elmano decidiu exonerá-lo. O POVO tentou entrar em contato com o agora ex-secretário durante essa segunda-feira, 23, mas as ligações não foram atendidas.