Ceará inicia campanha de vacinação contra a poliomielite neste sábado

Meta do Ceará é vacinar 95% do público alvo até 14 de junho. Imunizante pode ser aplicado em bebês de 2 meses até crianças menores de 5 anos

16:09 | Mai. 24, 2024

Por: Lara Vieira
A PRIMEIRA dose contra a poliomielite é aplicada aos dois meses de idade (foto: Samuel Setubal)

O Ceará inicia no sábado, 25, a campanha de vacinação contra a poliomielite. Também conhecida como pólio ou paralisia infantil, a doença é causada pelo poliovírus e, nos casos mais graves, pode causar paralisia nas musculaturas.

Seguindo até 14 de junho, a campanha de imunização é voltada para crianças menores de cinco anos de idade. De acordo com a Secretária de Saúde do Ceará (Sesa), a meta é alcançar a cobertura vacinal de, no mínimo, 95% em todos os 184 municípios do Estado.

No Brasil, são os dois imunizantes disponíveis para proteger contra a poliomielite: a vacina oral poliomielite (VOP), administrada em gotas, e a vacina inativada poliomielite (VIP), por meio de injeção.

De acordo com a plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), neste ano foram aplicadas aproximadamente 72 mil doses da VOP e 104 mil doses da VIP no Estado. Dessa forma, atualmente, a cobertura vacinal no Ceará é de 95% (VIP) e de 87,75% (VOP). Em 2023, o Ceará obteve cobertura vacinal média de 93%.

Já em Fortaleza, ainda conforme o IntegraSUS, foram aplicadas 15 mil doses da vacina oral contra a poliomielite (VOP) e 21 mil doses da vacina inativada contra a poliomielite (VIP). A Capital, até o momento, conta com cobertura de 95% (VIP) e 75,3% (VOP).

Confira o esquema de rotina nacional de vacinação contra a Poliomielite:

1ª dose: aos 2 meses através de vacina injetável (VIP);
2ª dose: aos 4 meses através de vacina injetável (VIP);
3ª dose: aos 6 meses através de vacina injetável (VIP);
1º reforço: 15 meses (1 ano e 3 meses) por meio da vacina oral (VOP)
2º reforço: menores de 5 anos (4 anos, 11 meses e 29 dias), por meio da vacina oral (VOP)

Além do esquema vacinal, doses de reforço também serão aplicadas durante a Campanha em crianças menores de 5 anos (até 4 anos, 11 meses e 29 dias) de forma indiscriminada.

“Os pais ou responsáveis que acreditam que a carteirinha de vacinação da criança está devidamente completa também devem comparecer aos postos de saúde. Esse processo também é de checagem dos profissionais de saúde. Se a criança já estiver com o esquema de vacinação completo, mesmo assim vai precisar de uma dose de reforço”, destaca a coordenadora de Imunização da Sesa, Ana Karine Borges.

“Além das unidades de Saúde dos 184 municípios, estaremos também ofertando a vacina durante toda a Campanha nas três unidades do Vapt Vupt (Antônio Bezerra, Messejana e Papicu), de 8h às 17h, de segunda a sexta-feira”, ressalta a coordenadora.

Em Fortaleza, as vacinas contra a poliomielite estão disponíveis nos 119 postos de saúde, de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18h30. Neste final de semana, as unidades Irmã Hercília (bairro São João do Tauape) e Mattos Dourado (Edson Queiroz) também estarão abertas das 8h às 16h30. Não há necessidade de agendamento.

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Entenda a poliomielite

A poliomielite é uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus e que pode infectar crianças, de forma mais frequente, e adultos que não foram imunizados. Com três sorotipos (I, II e III), a doença se destaca por causar paralisia nas musculaturas do corpo.

“Ela causa paralisia desde a musculatura respiratória, sendo essa a forma mais grave, até a paralisia nos membros. Isso deixa a criança com deficiência física para o resto da vida”, comenta Robério Leite, infectologista pediátrico do Hospital São José e professor de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).

O infectologista explica que o vírus causador da polio é disseminado através do trato digestivo, pelas fezes, que contaminam o ambiente. “A transmissão é fecal-oral e é muito fácil a disseminação, o que torna difícil o controle ambiental. Há algumas décadas ela ocorria tanto em países desenvolvidos, com excelentes condições de saneamento, quanto em países em desenvolvimento”, ressalta.

A poliomielite foi erradicada no Brasil desde 1989. No entanto, há preocupação com a possível reintrodução do vírus devido à baixa cobertura vacinal contra a doença. Desde 2016, a taxa de vacinação contra a poliomielite está abaixo da meta de 95%. Em 2023, a cobertura vacinal atingiu 74,6%, segundo o Ministério da Saúde. Em 2022, apenas 67,1% do público alvo foi vacinado.

O infectologista detalha por que a baixa cobertura vacinal coloca o Brasil em alto risco de volta da pólio. “Com as atuais condições de deslocamento, as chances de disseminação do vírus são muito grandes. Ainda temos o poliovírus selvagem circulando no Afeganistão e Paquistão, além de algumas regiões da África. Foi identificado poliovírus em esgotos de Londres, Nova York e, há uns anos, inclusive, aqui no Brasil, em Campinas”, diz Robério Leite.

O infectologista pediátrico ressalta a importância da vacinação contra a doença. “As vacinas têm essa contradição: ao controlarem as doenças, passam a percepção à população de que não há risco. Mas o risco ainda existe! Os pais não podem abdicar de proteger os filhos contra uma doença extremamente grave, que pode causar sequelas e até a morte”, destaca.

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Vacina “gotinha” contra a pólio será substituída pela intramuscular

Ainda em 2023, o Ministério da Saúde anunciou a substituição gradual da vacina oral contra a poliomielite (VOP), realizando a aplicação apenas da versão inativada (VIP) do imunizante a partir de 2024. A VOP, também chamada como "gotinha", ficou popularmente conhecida devido às campanhas de vacinação lideradas pelo personagem Zé Gotinha.

A VOP atualmente é administrada em crianças a partir de 1 ano e 3 meses. Segundo o professor de Medicina da UFC e infectologista pediátrico, Robério Leite, a substituição da VOP pela VIP ocorreu por uma reação adversa bastante rara.

“Como a VOP é feita com o vírus enfraquecido, muito raramente, as crianças podem eliminando-o pela saliva e pelas fezes. O agravamento acontece quando o vírus eliminado no ambiente sofre uma mutação para a forma selvagem, podendo infectar quem não está imunizado", aponta.

Mesmo com a transição do imunizante, o Ministério da Saúde destacou que o personagem Zé Gotinha permanecerá sendo símbolo de incentivo para a imunização de crianças no Brasil.