A fé e a chuva: agricultores e devotos de São José esperam boas colheitas
O POVO conversou com agricultores, com um especialista na vida de santos e solicitou informações à Funceme para mostrar as relações entre as chuvas e a fé neste 19 de março
21:20 | Mar. 18, 2024
O ano era 1621, quando o papa Gregório XV decretou o dia 19 de março como o dia de São José. Por causa disso, no Ceará, todos os anos milhares de fieis se reúnem para celebrar o dia que homenageia o santo que é também padroeiro do Estado. Nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, a associação do santo com a chuva se tornou parte da cultura popular e das tradições religiosas.
A história do Ceará com o São José começa por causa de Aquiraz, a primeira capital do Estado, que também tem o santo como protetor após uma imagem de São José do Ribamar chegar de barco ao Ceará. Graças a esse evento, a primeira vila fundada no estado foi batizada com o nome do Santo.
O POVO foi até o município de Itaitinga, na comunidade Parque Genezare, e conversou com os agricultores para saber a expectativa para as chuvas neste dia de São José. Alguns estão cuidando da lavoura, outros planejando plantar no dia de São José na certeza que o santo irá proporcionar chuvas para as plantações. Campos já verdes por causa das primeiras chuvas do ano devem gerar boa colheita de milho, feijão e macaxeiras.
Seu Raimundo Pereira de Lima, agricultor de 68 anos, diz que “vai chover até o mês de junho” e que neste mês deve cair o maior volume de chuvas no Estado. “É a bênção mesmo de São José, a bênção de chover pro caba plantar né”.
Todos os anos a comunidade se reúne para realizar a procissão no dia de São José. Seu Antônio Pereira Ponte, de 83 anos, fala que estão esperando as chuvas depois da procissão. “Estamos esperando aqui com essas plantas já quase morrendo no seco, aí a gente vai para a procissão de São José, aí começa a chuva”. Emocionado, ele diz que começou a plantar desde os sete anos de idade, e criou sua família com a agricultura e com a fé nas chuvas de São José.
A fé estampa o olhar e o sorriso do agricultor cearense, na lavoura e na esperança de ver as chuvas. Seu Antônio diz que se chover no dia de São José, chove durante todo o restante do período chuvoso. E lembra que Deus é quem manda na chuva, mas que “ele dá esse poder a São José”.
Seu Raimundo Nonato Vieira da Silva de 66 anos, diz que trabalhou durante vários anos em pedreiras e que, por já não ter mais saúde, decidiu voltar à roça. Com olhos marejados, o agricultor conta que várias vezes plantou em janeiro e que a plantação morreu. Uma vez, porém, ele plantou no dia de São José, e "deu o milho roxo. Foi um milho medoni”.
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A história de São José com a chuva
De acordo com o mestre em filosofia e membro da Academia Brasileira de Hagiologia -estudo da vida dos santos- (ABRHAGI) Ordem dos Carmelita Descalço Seculares, Moisés Rocha Farias, há um fato científico que explica a ligação de São José com as chuvas, principalmente para os nordestinos, no início do outono, nos dias 20 e 21 de março. Dessa forma, com a proximidade com a data, se criou a tradição de reverenciá-lo como provedor de boas chuvas, já que o mês conta com aumento do índice pluviométrico para as região Nordeste.
A tradição das chuvas com São José é exclusividade do Brasil, que começou no Norte e no Nordeste, mas que com as imigrações internas e o êxodo de nordestinos, foi levada para outras regiões. Através da cultura e das crenças, a tradição continua viva.
Moisés conta que a associação entre a chuva e o santo foi acontecendo de forma natural à medida que se percebeu que as datas comemorativas de São José coincidiam com o início da intensificação da quadra chuvosa no Estado. “Se a chuva é sinal de fartura, e porque não dizer de felicidade, atribuir isso a um santo dessa religião que quer se estabelecer é uma forma de aproximação”
Moisés explica que a importância de São José é incomensurável. “Glorioso São José que merece nossa primeira veneração antes de todos os santos, seu grau de importância no plano da salvação o coloca à frente de todos os santos desde o Antigo Testamento”.
O que diz a meteorologia de São José
A Fundação Cearense meteorologia (Funceme) informou que as chuvas são historicamente comuns em março, que é o mês com a maior média histórica em precipitações, com 206,5 milímetros.
Explicando as chuvas, a Funceme explica que há uma dependência da localização da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) para que as chuvas sejam intensas no Ceará. Quanto mais próximo do norte do Nordeste, maiores as chances de chuva no Estado.
A Fundação explica que, para a Ciência, não há relação entre o dia do Santo e os fenômenos climáticos ou a quadra chuvosa no Estado. “Chover ou não no dia 19 de março, não fornece indicativo de como será a qualidade do período chuvoso do Ceará, que é de fevereiro a maio de cada ano”, descreve a Funceme em nota.
Nesta terça-feira, 19, as previsões da Funceme são de que as regiões centro-norte e a região metropolitana da capital apresentem maiores condições para chuvas. Porém, as regiões centro-sul, indicam precipitações isoladas.
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