Operação "Falso Advogado": grupo criminoso cearense aplicava golpes em vítimas de SC

Ao todo, nesta fase da operação, foram verificadas 200 vítimas do estado de Santa Catarina, com prejuízo de mais de R$ 3,5 milhões. Mandados foram cumpridos em Fortaleza e na Região Metropolitana

14:56 | Fev. 22, 2024

Por: Taynara Lima
COLETIVA reuniu policiais civis do Ceará e de Santa Catarina (foto: Taynara Lima)

terceira fase da operação "Falso Advogado", deflagrada nesta quinta-feira, 22, cumpre 56 mandados de busca e apreensão contra organização criminosa cearense que aplicava golpes em vítimas de Santa Catarina. A operação é coordenada pela Polícia Civil de Santa Catarina (PCSC), com o apoio da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE). 

Ao todo, nesta terceira fase da investigação, foram detectadas 200 vítimas apenas no estado de Santa Catarina. O prejuízo total chegou a ultrapassar o valor de R$ 3,5 milhões. 

Integrantes do grupo criminoso se passavam por representantes de escritórios de advocacia, advogados e até desembargadores e juízes para enganar as vítimas, conforme a investigação policial. Os alvos eram informados de que tinham valores de precatórios, mas para receber deveriam pagar taxas e emolumentos (valores de serviços em cartórios).

Em coletiva de imprensa realizada nesta manhã na sede da PC-CE, em Fortaleza, representantes das polícias civis de Santa Catarina e do Ceará falaram sobre o andamento das investigações.

Leonardo Silva, titular da Delegacia de Defraudações (Deic), da Polícia Civil de Santa Catarina, detalhou como os investigados acessavam dados públicos e entravam em contato com as vítimas. Após o pagamento, os falsos advogados cortavam o contato com a vítima, que ficava no prejuízo. Uma das vítimas do golpe chegou a perder R$ 50 mil.

“Todas as vítimas tinham esses processos judiciais. Em outras fases [da operação], a gente conseguiu fotos, teve investigado que abriu o celular e mostrou como fazia. Os dados eram reais, dos valores que as vítimas tinham para receber. Só que não estava ainda julgado, então eles fraudavam alguns documentos”, explicou.

Além do estado catarinense, foram registradas vítimas de outros estados. Segundo os policiais, 51 mandados já foram cumpridos e 33 alvos foram localizados. Por causa do sigilo das investigações, as forças de segurança não divulgaram as identidades dos envolvidos.

Os mandados foram cumpridos nas cidades de Fortaleza, Caucaia, Maracanaú, Pacatuba, Maranguape, Aquiraz e Guaiuba. Foram apreendidos telefones celulares, um computador, notebook e documentações.

O material apreendido será encaminhado para a Perícia, e, de acordo com Leonardo Silva, os próximos passos da operação consistem em localizar mais pessoas envolvidas. 

“Durante os interrogatórios e análise preliminar dos telefones apreendidos, posteriormente serão mais pessoas investigadas. Agora, a gente vai aguardar a análise desse material eletrônico e vamos focar em um possível pedido de prisão, identificar os responsáveis pelo núcleo financeiro e quem faz a divisão dos valores”, destacou.

Nesta terceira fase da operação, Leonardo apontou que os policiais buscaram identificar o responsável pelo aliciamento das pessoas que emprestavam as contas para o recebimento dos valores. 

O titular da Delegacia de Defraudações da PCSC também disse que o grupo tem envolvimento com facção criminosa, mas não forneceu mais detalhes para não prejudicar as investigações.

Investigação da operação "Falso Advogado"

A operação contou com outras duas fases, deflagradas no final de 2022 e no decorrer de 2023, todas no estado do Ceará. As investigações tiveram início em 2020 por meio do Núcleo de Inteligência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC).

Na fase inicial, foram identificadas cerca de 50 vítimas com um prejuízo de R$ 100 mil. Na segunda fase, os agentes verificaram que mais pessoas foram vítimas do grupo em Santa Catarina, além de outras vítimas no Espírito Santo, no Paraná, em Minas Gerais e em São Paulo.

O diretor da Delegacia de Defraudações (Deic) da PCSC, Daniel Regis, pontua que o alto número de vítimas em Santa Catarina pode ser explicado pela distância entre os dois estados e enfatiza a "engenharia social" por trás da aplicação dos golpes. 

“Os documentos que eles enviam às vítimas são bastante fidedignos. Se não houver uma apreciação minuciosa, uma pesquisa referente à fonte daquele documento que é enviado, passa mesmo por verdadeiro. O fato de nós deixarmos o estado de Santa Catarina para, pela terceira vez, vir ao estado do Ceará e fazer esse tipo de repressão, é porque realmente estamos diante de uma organização criminosa que sabe o que está fazendo.”

Os dados da coletiva também foram apresentados pela diretora do Departamento de Polícia Judiciária Especializada, Ruth Benevides, a delegada titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), Keyla Lacerda, e o delegado Fernando Menezes, diretor do Planejamento Operacional da Polícia Civil do Ceará.