Elo de cúpula de facção do RJ com o Pirambu é preso em Fortaleza
Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, enviava ordens a chefe de facção no Pirambu. O homem foi preso em operação da Draco nesta terça-feira
16:42 | Fev. 20, 2024
Um homem de 27 anos apontado como responsável pela conexão entre a cúpula do Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro com o Grande Pirambu, em Fortaleza, foi preso nesta terça-feira, 20, na operação Capto, da Polícia Civil do Ceará (PCCE).
A ação resultou no cumprimento de oito mandados de prisão preventiva, duas prisões em flagrante e 10 mandados de busca e apreensão. Dos oito mandados, três foram cumpridos no sistema penitenciário, com pessoas que estavam privadas de liberdade; os demais, foram exercidos no Pirambu.
Durante a coletiva de imprensa no Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), a operação foi descrita como uma resposta aos últimos fatos violentos ocorridos na área, que envolvem fechamento de comércio e homicídio de agente de segurança.
A ofensiva ocorre menos de 48 horas após uma operação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que também teve como foco a área e resultou na prisão de dois suspeitos da morte do militar Bruno Lopes Marques.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) não informou o nome do preso, que é apontado, nas investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) como um intermediador e braço direito de um chefe da organização criminosa no estado carioca.
Em Fortaleza, o homem era responsável por divisão de tarefas, hierarquia e pela concretização das ordens que chegavam do Rio de Janeiro, aponta a Polícia Civil.
O titular da Draco, delegado Alysson Gomes, confirmou que o homem preso na operação Capto tem ligação com Carlos Matheus da Silva Alencar, conhecido como Skidum, um dos criminosos mais procurados do Estado e apontado como responsável pela morte do jornalista proprietário do portal Pirambu News, Givanildo Oliveira, o Gig, que ocorreu no ano de 2022.
Skidum atuava com o traficante Fábio de Almeida Maia, o Biú, morto no dia 31 de janeiro em confronto com militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) no Complexo da Penha (RJ).
O POVO apurou que a dupla fugiu do Ceará e foi para o Rio de Janeiro para uma "especialização no crime", onde publicava vídeos ostentando em festas nos morros cariocas. Ambos são alvos de denúncias do Ministério Público do Estado (MPCE).
Após a morte de Biú, o núcleo da facção do Pirambu tentou decretar luto no bairro ameaçando comerciantes para que fechassem as portas, o que gerou prejuízo entre os proprietários de estabelecimentos.
O corpo do traficante, que possuía mais de 50 antecedentes criminais, a maioria por crime de homicídio, foi levado do RJ ao Ceará, onde foi velado no Pirambu.
Após a situação de fechamento de comércios, houve uma operação da Draco de cumprimentos de 23 mandados de busca e apreensão na área. Apesar disso, a situação de violência no Grande Pirambu não foi apaziguada.
No dia 12 de fevereiro um policial militar de folga foi morto no bairro Carlito Pamplona. Uma camisa com a fotografia de Biú foi deixada no local do crime. A 11º delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) prendeu suspeitos da ação.
Cinco dias após a morte do policial militar, na madrugada do dia 17 de fevereiro, outros cinco policiais foram balados. Dos cinco feridos, três receberam alta e dois seguiram internados em uma unidade hospitalar.
Após as situações, o reforço policial foi implantado na área. O subcomandante da Polícia Militar do Ceará (PMCE), em coletiva de imprensa, considerou a situação de homicídios e tentativas de homicídios como "inadmissível".
Mapeamento de facção e reforço permanente no Grande Pirambu
De acordo com o delegado Alysson Gomes, a operação da Draco ocorrida desta terça-feira, 20, atinge a "espinha dorsal" do Comando Vermelho (CV) e é uma resposta aos últimos epísódios protagonizados pela facção criminosa, que é oriunda do estado carioca.
A Draco fez um mapeamento da facção para a desarticulação dos criminosos. "O objetivo é atacar o grupo criminoso carioca da Área Integrada de Segurança 8, no Grande Pirambu, que tem participação nos últimos episódios. A investigação buscou mapear o conglomerante desse grupo criminoso", informa.
Dos nove presos, três estavam no sistema penitenciário. Conforme a delegada Ruth Benevides, diretora do Departamento de Polícia Judiciária Especializada, a Polícia Civil procura identificar, localizar e capturar integrantes de organização criminosa.
Conforme o delegado, as investigações demonstram que o homem de 27 anos tinha o contato direto com a cúpula da facção carioca.
"De lá (RJ) ele trazia as ordens, desde crimes de tráfico de drogas e crimes violentos. A prisão dele é estratégica e a Draco tem buscado mapear de forma permanente e entender a logística da organização criminosa e quem são os chefes", ressalta.
O subcomandante geral da Polícia Militar, coronel Vinícius Vineimar Rodrigues, também esteve presente na coletiva de imprensa e ressaltou o trabalho de reforço policial na área do Pirambu, que é feito pela corporação por meio do policiamento especializado do Comando de Policiamento de Choque (CPChoque), Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio). Não há previsão para a retirada do reforço.
Rotina de operações na regiãõ
A região formada por bairros vizinhos, como Pirambu, Barra do Ceará, Carlito Pamplona, foi alvo de diversas operações nos últimos meses. Uma dessas ações foi registrada após uma tentativa de chacina no Morro do Santiago, na Barra do Ceará, em Fortaleza, que deixou dois mortos e 15 pessoas feridas.
O principal suspeito de articular as ações foi preso no Parque Leblon, em Caucaia, município que tem limite com a Barra do Ceará, em Fortaleza. Foi montado forte aparato policial no Morro do Santiago no intuito de reprimir a disputa dos grupos rivais.
Em agosto, moradores do Carlito Pamplona e do Pirambu foram surpreendidos por ataques relacionados a briga entre facções. Grupos atearam fogos em automóveis em vias da região e causaram transtorno.
Moradores relatavam que não conseguiam sair de casa para trabalhar, pois não conseguiam passar pelos locais da "guerra".