Esquema internacional de fraudes de cartões de crédito é desarticulado no Ceará
Dois turistas de São Paulo foram presos com equipamentos para fabricação de cartões de crédito com dados de outras pessoas
17:23 | Fev. 09, 2024
Um esquema engenhoso de fraude de cartões de crédito com vítimas do Nordeste e de outros países foi desarticulado no estado do Ceará por meio do trabalho do Departamento de Inteligência da Polícia Civil e da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur). Dois turistas de São Paulo, que estavam hospedados em um hotel no bairro Meireles, em Fortaleza, foram presos com material usado para as fraudes, que em cinco minutos da ação criminosa chegam a obter R$ 50 mil.
A Polícia Civil recebeu informações sobre a possível presença de um foragido da Justiça de São Paulo, que estaria no Ceará e identificou que o homem estava hospedado em um hotel. Ao chegar no local, a equipe policial identificou ainda outro indivíduo, ambos com equipamentos e comprovantes que indicam o golpe.
O titular da Delegacia de Proteção ao Turista, Andrade Júnior, aponta que com a tecnologia e a mudança de comportamento relacionada Internet, a antiga forma de clonagem de cartões foi modificada. Antes os criminosos utilizavam os cartões originais das vítimas e passavam em um aparelho de forma indevida para coletar os dados, faziam uso do "chupa-cabra", como eram conhecidos. Utilizavam-se dos cartões clonados para fazer compras presenciais. Atualmente a principal fonte para as fraudes de cartões de crédito tem sido a darkweb.
É por meio da darkweb que os criminoso compram as trilhas e numerações dos cartões de crédito. Mil trilhas podem ser compradas por US$ 10 mil. De posse desses dados, os criminosos utilizam um software de posse de um cartão virgem eles repassam as informações recebidas e concluem a clonagem. No entanto, a organização criminosa não vai ao mercado formal para fazer compras.
Começa uma segunda parte do golpe, que consiste em criação de empresas fantasmas, cadastra junto a um banco, conclui contratos com operadoras de cartões de créditos. "Ele passa a usar o cartão na maquineta da empresa que ele criou, que é uma empresa fantasma. Após passar o cartão, ele pode receber o valor em 30 dias, mas há ainda a opção de antecipar esse valor para receber na mesma hora pagando uma taxa para a operadora do cartão", destaca.
O delegado Andrade aponta extratos encontrados que mostram o recebimento de R$ 50 mil reais em cinco minutos. De posse desse dinheiro, os criminosos transferem as quantias para contas de terceiros e usufruem dos valores.
As vítimas vão ter conhecimento dos valores somente após receber a fatura do cartão. O prejuízo dos valores, após ser identificado o golpe, fica com a institução bancária.
Conforme o delegado, uma das atitudes a se tomar para evitar ser vítima dessa fraude é a de ativar os avisos de compra e também se certificar que os avisos de compras chegam por meio do aplicativo. Evitar clicar em links de avisos que chegam de forma aleatória por meio de SMS.
O delegado Daniel Diógenes, do Departamento de Inteligência da Polícia Civil, deve rastrear o dinheiro para verificar o destino e dessa forma também bloquear bens que foram comprados com os valores recebidos nas fraudes. O envolvimento de mais pessoas na organização criminosa também deve ser alvo de investigação. O Departamento de Inteligência analisará os notebooks e aparelhos apreendidos mediante autorização judicial.
Foi feita a prisão em flagrante de furto mediante fraude eletrônica e os dois suspeitos presos passaram por audiência de custódia e tiveram as prisões convertidas em preventiva. Parte do material apreendido aponta que há vítimas estrangeiras.
Conforme o delegado Andrade, é comum os criminosos envolvidos com esse tipo de fraude de cartão de crédito permanecerem hospedados em hotéis, pois eles utilizam a rede de Wi-Fi do estabelecimento com o objetivo de dificultar a identificação.
Um dos suspeitos chegou em 8 de janeiro deste ano e o segundo no dia 6 de fevereiro. O alvo da operação estava no Ceará há 25 dias e a Polícia do Ceará teve contato com a Polícia de São Paulo para verificar as ações criminosas praticadas pelo alvo. Ele responde a crimes e a um processo em São Paulo, onde foi preso com mais de dez pessoas.
A Justiça havia determinado medidas cautelares e uma das medidas impostas era de não se ausentar da comarca de São Paulo. A Polícia deve solicitar ainda as operadoras de cartão e as empresas cadastradas nas maquinetas apreendidas.
Entenda as fases do golpe
Criação da empresa que recebe o ativo do crime: o golpe começa a ser preparado com a criação das empresas no Estado. Apesar de ser um trâmite rápido, existe a vinculação da empresa a uma conta corrente, solicitação de maquinetas e os criminosos começam a "trabalhar" como se a empresa existisse.
Compra de dados de cartões de crédito: no segundo momento, com a darkweb, as trilhas são adquiridas. Os criminosos procuram trabalhar no estado onde adquiriu as trilhas. Se a a empresa é aberta em Fortaleza e começa a comprar em cartão de créditos do Rio Grande do Sul, a própria empresa bancária dispõe de ferramentas de segurança bancária que detectam a situação.
Utilização dos cartões: depois de implantar os dados em cartões virgens o grupo começa a usar o cartão na própria empresa e faz a antecipação dos valores. Esses valores são encaminhados a contas bancárias de terceiros.
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