Além de Icapuí, outras praias do Ceará têm erosão costeira

É possível registrar o fenômeno em diferentes municípios do Estado. Problema pode ser agravado por diferentes causas

A Prefeitura do município de Icapuí, localizado a 205 quilômetros de Fortaleza, anunciou, no ultimo dia 18, a construção de um espigão para conter o avanço do mar na Praia da Peroba. Apesar de ser um dos principais pontos em que a erosão costeira está presente, o estado do Ceará tem outras praias na mesma situação.

De acordo com o professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Daniel Rodrigues, algumas praias do Estado têm problemas de erosão costeira documentados, como o município de Caucaia, nas praias de Icaraí e Tabuba. Outros pontos em que o fenômeno pode ser registrado são a Praia de Jericoacoara e de Morro Branco.

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“As duas regiões de mais destaque ao longo dos últimos anos são, principalmente, a região do Icaraí, no município de Caucaia, e Icapuí. Às vezes, as causas são bem mais claras em Caucaia, mas em outros casos é um pouco menos compreendida. Claro que necessita de mais estudos locais, mas são regiões que têm apresentado vocação à erosão costeira por diferentes causas”, disse o docente.

O doutor em Oceanografia pela Universidade de São Paulo e professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará, Paulo Sousa, explica que a zona costeira é um sistema caracterizado pela entrada e saída de sedimentos, que pode ocorrer de forma natural ou por fatores externos.

“A erosão costeira é um processo natural e pode também ser antrópico. As atividades humanas aceleram esses processos relacionados aos sedimentos. Se a praia tem uma tendência à erosão costeira e pessoas começam a ocupar e usar o solo naquela região, pode causar uma aceleração do processo de erosão”, explicou.

Segundo Paulo, a ocupação próxima ao mar é o que agrava os problemas da erosão costeira.

“Se uma praia não tem gente morando e tem erosão, é um processo natural relacionado àquilo. A praia tem períodos em que perde areia, ganha areia, e é um jogo normal. Agora, quando o processo de erosão ocorre em locais ocupados, é um problema, porque causa prejuízos”, destacou.

Outros fatores que pode gerar impactos na zona costeira são as mudanças climáticas e a construção de barragens.

O professor da Universidade Estadual do Ceará e pesquisador associado ao projeto Cientista Chefe Meio Ambiente da Secretaria do Meio Ambiente e da Mudança do Clima (Sema), Davis Pereira, explica que, geralmente, as areias são transportadas a partir das bacias hidrográficas e os rios “jogam” essa areia na zona costeira, fazendo com que as praias cresçam. Se esses sedimentos não chegarem, o espaço passa a ser ocupado pelo mar.

“O Ceará é um estado que tem problemas de abastecimento hídrico. Para atenuar esse problema, foram construídos diversos reservatórios no interior. Esses reservatórios barram nossos rios para acumular água, e essa água é utilizada para abastecimento. Contudo, elas barram também as areias que deveriam caminhar até a zona costeira e chegar às nossas praias do nível do mar”, destacou.

Impactos da erosão costeira

Além dos prejuízos, como o avanço do mar em casas, pousadas e hotéis, a erosão costeira pode causar modificações na fauna e flora e mudanças no comportamento e na cultura local.

“A subida do nível do mar não afeta só a propriedade, ela também afeta o bem imaterial. Quando se pensa em bem imaterial, se pensa em uma cultura que tem o mar como base. Essas populações que estão no nosso litoral, que têm na pesca o seu sustento, poderão sofrer cada vez mais com as mudanças climáticas”, pontuou Davis Pereira.

Icapuí e a erosão costeira

Iran Felix, titular da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho, Agricultura, Meio Ambiente e Pesca (Sedema) de Icapuí, pontua que as principais praias do município que registraram maior avanço de erosão, foram: Redonda, Peroba, Barreiras e Barrinha.

De acordo com o secretário, parte desses pontos já recebeu intervenções da prefeitura, como a construção de paredões de pedra.

Em setembro de 2023, a gestão chegou a lançar uma licitação para construir o paredão na Praia da Peroba, porém parte da população se mostrou contrária à construção e a Justiça Federal determinou o cancelamento da licitação.

No dia 18 de janeiro, uma obra de construção do espigão na Praia da Peroba foi anunciada e contará com um investimento de R$ 11 milhões, sendo R$ 7 milhões recursos do governo federal.

Erosão costeira e medidas de contenção

Assim como em Icapuí, a construção de espigões ou paredões de pedra são algumas das principais medidas realizadas pelas gestões locais. Porém, o professor Paulo Sousa explica que essas construções não devem ser realizadas apenas em caráter emergencial. 

Ele enfatiza que há outras formas de lidar com o problema. “O ideal é tentar minimizar os danos antes que eles aconteçam. Geralmente, as pessoas só se importam com a erosão costeira quando está causando dano grave. Quando ocorre o prejuízo, a sociedade como um todo sempre busca uma solução rápida para um problema complexo”, pontuou.

Segundo o especialista, além das construções, outras medidas devem ser promovidas, como revisão das políticas de ocupação e de uso do solo, práticas de turismo sustentáveis e não exploratórias e educação ambiental.

“Quando a gente discute erosão costeira, não é uma coisa que pode ser que aconteça, é algo que já está em curso. Nós precisamos realmente pensar, adaptar e planejar [...] As pessoas precisam saber dos processos costeiros, é importante que essas comunidades sejam empoderadas a partir do conhecimento. Entender o que está acontecendo, entender o problema para saber lidar. Os povos do mar precisam de respeito e atenção”, finalizou.

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