CAC suspeito de comércio ilegal de armas de fogo na RMF teria forjado furto de fuzis

Registrado como colecionador, Mychell Egídio teria adquirido R$ 200 mil em armamentos. 16 armas de fogo estão "desaparecidas"

15:40 | Dez. 21, 2023

Por: Jéssika Sisnando
PROMOTOR Jairo Pequeno Neto, delegada Ruth Benevides e delegado Eduardo Tomé na coletiva (foto: divulgação)

Um Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) foi alvo de mandado de prisão temporária nessa terça-feira, 19, após um ano de investigação da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF). A Polícia Civil do Ceará (PC-CE) aponta que Mychell Egídio Torquato Oliveira, 40 anos, está envolvido em comércio ilegal de armas de fogo. As informações foram divulgadas em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira, 21, no Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), na Capital. 

Foram cumpridos dois mandados de prisão temporária — além do CAC, outro homem considerado "laranja" foi detido  e cinco de busca e apreensão no bairro Bom Jardim, em Fortaleza, e em Caucaia, na Região Metropolitana. 

A delegada Ruth Benevides, diretora do Departamento de Polícia Judiciária Especializada, informou que três veículos de luxo foram apreendidos nas ações.

Há um ano, Mychell registrou um Boletim de Ocorrência (B.O) na Delegacia Metropoitana de Caucaia afirmando ser CAC e noticiando o suposto furto, mediante arrombamento de apartamento localizado em Caucaia, na Região Metropolitana, de 16 armas de fogo, entre fuzis, espingardas e pistolas.

O registro ocorreu no dia 17 de novembro de 2022, no entanto, o comerciante relatava que o furto do arsenal teria ocorrido há quatro meses, no dia 15 de julho. 

O estatuto do desarmamento prevê que em caso de subtração ou perda do armamento, o Exército Brasileiro e a Polícia Federal precisam ser informados do fato em 24 horas. Segundo a investigação, um dia antes de registrar o B.O Mychel havia sido notificado pelo Exército sobre uma fiscalização de rotina.  

De acordo com delegado-adjunto da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), Eduardo Tomé, o objetivo inicial da investigação era verificar se houve o furto e apurar omissão de cautela devido à demora para comunicar as autoridades.

"A gente apurava esse suposto crime de furto e a omissão de cautela. Foram ouvidos funcionários, pessoas que venderam arma para ele e ao longo da investigação encontramos elementos que a versão apresentada por ele possuía diversas contradições", comentou o delegado. 

Conforme o promotor de Justiça de Caucaia, Jairo Pequeno Neto, a partir das informações da DRF houve um trabalho integrado, incluindo a participação do Exército Brasileiro.

As investigações mostraram que o suspeito se aproveitava da situação de CAC para adquirir armas de outros atiradores esportivos e revendê-las de forma ilegal, raspando numerações.

"As investigações vão continuar no intuito de identificar outras pessoas envolvidas e apreender o armamento. São armas de grosso calibre, muitos fuzis AR-15", explicou Jairo. 

Apos a prisão dos dois suspeitos, na terça-feira, 19, as investigações seguem para identificar os compradores ilegais desse armamento. Houve quebra de sigilo bancário fiscal e quebra de sigilo telefônico. Já as armas não foram recuperadas.

"Apreendemos três veículos de luxo, motocicleta de alta cilindrada, aparelhos notebooks e aparelhos celulares, que, após a análise do setor de inteligência, vamos extrair dados que vão corroborar na investigação", informou o delegado Eduardo Tomé. 

Suspeito tentou registrar 23 armas de fogo e adquiriu mais de R$ 200 mil em armamento

Mychell é apontado pela investigação como chefe da organização criminosa e, no período de três anos, ele tentou registrar 23 armas de fogo. Destas, foram registradas 16 armas. Ele não tinha antecedentes criminais e utilizava o meio legal para aquisição, conforme apuração. 

As armas eram de origem legal, no entanto a investigação aponta que ele falsificava documentos e, após o recebimento, raspava o sinal identificador, principalmente o número de série, para revender o armamento a terceiros.

De acordo com o delegado Eduardo Tomé, testemunhas relatam que o homem falsificava o registro do Exercito. "[Vamos] Tentar rastrear o armamento e saber quem adquiriu esse armamento. E essas pessoas sabiam que era ilícita, pois as negociações não passavam pelo Éxercito Brasileiro", comenta.

Entre as armas "desaparecidas", estão cinco carabinas calibre 556, duas carabinas calibre 14, 12 pistolas, três revólveres e uma espingarda.

"Levantamos que em menos de um ano e meio adquiriu R$ 200 mil em armamento, que é incompatível com a renda dele, um salário de R$ 10 mil. O que leva a Polícia a investigar o crime de lavagem de dinheiro. Ele afirma que foi vítima de furto, mas não tem elemento que confirme e confessou que comercializou ilegalmente duas armas de fogo, uma pistola e uma carabina calibre 40. Ele fala que comprou de um atirador e deu entrada no processo de trasnferência, no entanto o processo foi indeferido. Então, ele recebeu o armamento e raspou a numeração e repassou para terceiros", diz o delegado.

Homem apontado como "laranja" foi preso 

Francisco Paulo Henrique do Nascimento Lima, de 31 anos, foi identificado pela Polícia Civil como "laranja", conforme o delegado Eduardo Tomé. O delegado informou que o homem não teria condição financeira de adquirir o armamento, mas tinha os requisitos necessários para o registro de CAC. 

As investigações e depoimentos apontam Mychell convenceu Paulo a lhe ceder certificado de registro para que pudesse continuar comprando armas.