Após dez anos, 998 fósseis do Cariri são repatriados pela França
O Governo do Ceará investiu cerca de R$ 400 mil no transporte dos fósseisApós uma década de tratativas com a França, 998 fósseis contrabandeados do Cariri cearense foram repatriados ao Ceará. O material chegou na quarta-feira, 13, e foi apresentado à imprensa nesta qunta, 14. Entre os quase mil espécimes, estão pterossauros, tartarugas, escorpiões e plantas em ótimo estado de conservação datados do período Cta quintaretáceo, entre 90 a 110 milhões de anos atrás.
De acordo com a secretária de Ciência do Ceará, Sandra Monteiro, o governo estadual investiu ceca de R$ 400 mil para o transporte dos fósseis, incluindo o valor do seguro. Além disso, mais R$ 700 mil foram investidos no Cariri para reforçar a pesquisa paleontológica e os trabalhos locais que utilizam os "restos" da pedra Cariri como matéria-prima.
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"Foi a primeira vez que se pensou nessa logística (de devolução) e de quantificar, em valores, o seguro de um fóssil. Imagina, 998 fósseis: como quantificar isso? Como falar desse valor monetariamente, se ele tem também um valor cultural agregado?", reflete a secretária.
Atualmente, existe um Grupo de Trabalho entre o governo estadual e o federal para resgatar fósseis caririenses em outros países. "O grupo do trabalho é contínuo justamente para essa essa finalidade, de que os fósseis retornem para sua origem. Não só porque eles pertencem, mas porque eles têm uma uma valiosa memória de tudo que somos, de como evoluímos e como isso é produzido depois em conhecimento científico", afirma Sandra.
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Fósseis repatriados: pedido à França ocorreu em 2013
O esforço para a devolução dos fósseis presentes na França começou após denúncia da paleontóloga Taissa Rodrigues, professora na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ao Ministério Público (MP).
Habituada a monitorar sites de venda de fósseis, a pesquisadora identificou um pterossauro praticamente completo em pedra Cariri que estaria à venda e usou o link do site para denunciar o caso ao MP do Ceará.
Após contato do Brasil à França, descobriram-se outros materiais de origem suspeita. Os países estão desde 2013 discutindo sobre a possibilidade de devolução, resultando nos 998 repatriados nesta semana. Ano passado, o país francês já havia feito uma solenidade oficializando o retorno dos fósseis.
Faltava apenas resolver o transporte dos espécimes, a parte mais difícil do processo, opina o paleontólogo Allysson Pinheiro, diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens (MPPCN/Urca).
"Uma das grandes dificuldades foi encontrar uma empresa que aceitasse fazer o seguro da carga para realizar essa repatriação. Só a carga estava avaliada, lá no processo da justiça francesa, em aproximadamente um milhão de euros. Então, o seguro é em cima desse valor", explica. Além disso, também é preciso considerar os gastos padrão de transporte e acondicionamento.
Fósseis repatriados: materiais vão para o acervo do Museu Plácido Cidade Nuvens
De Fortaleza, os fósseis serão encaminhados ao MPPCN para integrar o acervo e serem estudados pela Universidade Regional do Cariri (Urca). Uma vez lá, também poderão ser emprestados a outras instituições nacionais e internacionais, cumprindo os requisitos por lei, para que todos os materiais sejam objeto de pesquisa.
"Não é o museu da Urca que está pedindo os fósseis, é o governo brasileiro. Certamente a gente vai ter outras felicidades, porque essa discussão de direitos de patrimônios e bens esculturais precisa ser feita e está sendo feita e caminhando para essa devolução às comunidades, onde esses bens culturais fazem mais sentido", comemora Allysson.
O governo brasileiro segue em articulação para a repatriação de mais fósseis na França, incluindo o pterossauro denunciado pela professora Taissa, e na Alemanha, de onde veio o fóssil do Ubirajara jubatus, dinossauro bandeira da luta contra o tráfico e contra a colonização científica.
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