Assistência a vítimas de violência armada no Ceará é discutida em evento na Alece
Encontro tem como objetivo reunir ideias de contribuições para a formatação de políticas de atendimento às vítimas de violênciaA atenção às famílias de vítimas de homicídios no Ceará foi discutida em encontro que reuniu servidores e gestores públicos na Assembleia Legislativa. Ocorrido na manhã desta sexta-feira, 1°, o “2º Encontro Cuidando em Rede" teve como foco o fortalecimento do trabalho no atendimento às famílias junto a entidades e instituições, além de produzir diretrizes para formulação de políticas públicas para a redução das vulnerabilidades sofridas por famílias em decorrência da violência armada.
De acordo com o sociólogo Thiago de Holanda, coordenador do Comitê de Prevenção e Combate a Violência, a grande maioria das famílias acolhidas é pobre e proveniente de territórios hoje marcados pela violência.
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“É essencial entender como as famílias das vítimas estão sendo atendidas pela rede de acolhimento. Vemos muitos casos adoecendo mentalmente após uma morte e até serem ameaçados por conta desse parentesco. Se nada for feito, outra pessoa da família pode ser morta ou a própria família vir a buscar vingança, resultando em mais mortes. Portanto, é crucial interromper esse ciclo de vingança, risco e vulnerabilidade para prevenir homicídios”, comenta o coordenador.
A psicóloga Lorena Brito integra a equipe da Rede Acolhe, núcleo da Defensoria Pública que atende famílias vítimas de violência. Ela aponta alguns desafios vividos durante o acolhimento de vítimas de violência.
“Essas situações produzem muitas mudanças na vida dessas pessoas, como no aspecto financeiros e, muitas vezes, a necessidade de mudar de residência, de território. É muito difícil acompanhar essa movimentação porque não executamos esses serviços que seriam necessários”, aponta a servidora.
Para Lorena Brito, ainda há a dificuldade das famílias se reconhecerem como vítimas, por não compreenderem que também têm o direito de serem acolhidas, independentemente de seus históricos. “Pensando em saúde mental, também há o desafio do tempo de luta pela justiça, pois os processos judiciais costumam demorar bastante”, conclui a psicóloga.
Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania, o deputado Renato Roseno, apesar da violência não poder ser esquecida, ela pode ser superada. “No entanto, precisamos de um conjunto de ações do poder público. Muitas vezes, o próprio profissional da rede pública se encontra em situação de vulnerabilidade e enfrenta o medo. Isso requer que proporcionemos segurança a esses profissionais, ofereçamos formação, sensibilização e permitamos a implementação de um protocolo de cuidado”, pontuou o presidente.
O deputado declarou que uma das ideias é oferecer ao Ministério Público contribuições para a formatação de uma política nacional de atendimento às vítimas de violência. O encontro é realizado no mês onde se comemoram os 75 anos da Declaração dos Direitos Humanos.
O evento é viabilizado pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, por meio do Comitê de Prevenção e Combate à Violência (CPCV), da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) e do Escritório Frei Tito de Alencar (EFTA).
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