Como sucatas clandestinas agravam furtos de cabos em Fortaleza
Somente no primeiro semestre deste ano, 37.838 mil metros de cabos foram furtados no Estado, conforme a Conexis Brasil Digital
15:00 | Nov. 20, 2023
O furto de cabos de empresas de telecomunicação tem causado transtornos recorrentes para a população cearense, especialmente de Fortaleza e da Região Metropolitana. Dados da Conexis Brasil Digital apontam que, no primeiro semestre deste ano, 37.838 mil metros de cabos foram furtados no Estado. Em todo o ano de 2022, o número chegou a 42.554 mil metros. O crime estaria sendo fomentado por sucatas clandestinas e ferros-velhos que compram o material proveniente de crimes.
Fortaleza é a cidade mais afetada pelo problema, seguida por Caucaia e Maracanaú. Uma fonte da Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) diz que os receptadores têm ciência de que o material é ilícito.
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“Ninguém chega com um pedaço de fio cortado, sem nota, sem dizer a procedência para vender em um lugar regulamentado. Esse material é sempre oferecido em sucatas clandestinas, que já são conhecidas por comprar esses cabos. Algumas já foram descobertas e estão sendo monitoradas”, afirma.
O policial disse que um desses pontos fica na comunidade do Lagamar, e o derretimento dos fios para extração do cobre tem sido feito nas proximidades do local. No Centro da Capital também existem pontos já identificados.
“Algumas dessas sucatas funcionam 24 horas. Isso nunca existiu. Estamos fazendo o mapeamento e percebemos que, infelizmente, a maioria das pessoas que realizam esses furtos são dependentes químicos, que arriscam a vida se pendurando em postes, em troca de alguns trocados para alimentar o vício”, explica.
No início do mês, um caminhão carregado com cabos de telefonia e outros materiais em cobre foi interceptado no Eusébio. A carga foi apreendida, e o condutor foi encaminhado à Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), onde foi ouvido e afirmou que estava em deslocamento para a Região do Cariri.
Emendar cabos
Um técnico da uma operadora conversou com o O POVO, enquanto atendia a uma ocorrência de interrupção de sinal de telefonia. Ele afirmou que existem outros problemas técnicos, mas muitas das reclamações em Fortaleza são consequência de cortes nas redes de transmissão. “Vai levar tempo para proteger a fiação, que é muito exposta. Nosso trabalho tem sido mais em emendar esses cabos cortados”, afirmou.
A diarista Lêda Ferreira estava próxima do local, em uma parada de ônibus, e disse que é uma das prejudicadas pela falta de sinal. Ela é moradora do bairro Itaperi e afirmou que chega a ficar dois dias sem sinal de telefonia, ou sem internet no celular.
“Pago as contas em dias e quero ter o direito de usar. Quando a gente liga para reclamar dizem que o problema vai ser normalizado em algumas horas, mas fica sempre oscilando. Pensei em mudar de operadora, mas a reclamação no bairro é geral”, pontua.
Procurada, a Conexis Brasil Digital informa que o setor de telecomunicações tem defendido uma ação coordenada de segurança pública e a aprovação de projetos de lei que aumentem as penas desses crimes e ajudem a combater essas ações criminosas.
“A conectividade é cada dia mais importante na vida das pessoas e esses crimes não podem mais ser vistos como de menor gravidade”, afirmou a diretora de Relações Institucionais e Governamentais, Daniela Martins, por meio de nota.
Registros de casos de cabos
Entre janeiro e setembro de 2023, foram registradas 257 ocorrências de furto de cabos, fios elétricos ou ópticos no Ceará, segundo dados da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). O número é 29,01% menor que o assinalado entre janeiro e setembro de 2022, com 362 ocorrências.
Os dados coletados pela Gerência de Estatística e Geoprocessamento (GEESP), da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), apontam que foram registrados 69 autos de prisão ou apreensão em flagrante por furto, roubo ou receptação do material entre janeiro de 2022 e agosto de 2023.
Desses, 28 foram registrados entre janeiro e setembro de 2023 e 34 no mesmo período do ano passado. Entre outubro e dezembro de 2022, a Polícia Civil realizou sete prisões ou apreensões por furto, roubo ou receptação por material apreendido
“O furto ou roubo de cabos, fios elétricos ou de telecomunicações atenta contra a segurança e o funcionamento de serviços de utilidade pública. Além desses, outro crime associado ao delito é o de receptação, quando os materiais são comercializados clandestinamente a terceiros”, informa a Secretaria, em nota.