"Franquia" de facção paulista no Ceará tinha como alvo dois policiais penais

Os dois policiais penais tornaram-se alvo após terem desagradado integrantes da facção, que estão presos e possuem influência sobre o PCC.

13:22 | Ago. 22, 2023

Por: Jéssika Sisnando
Foto de apoio ilustrativo. Complexo Penitenciário em Itaitinga (foto: Mateus Dantas em 15/10/2018)

A facção criminosa com origem em São Paulo, Primeiro Comando da Capital (PCC), que possui uma "franquia" no Ceará, tinha como alvo dois policiais penais cearenses. A informação foi repassada pelo delegado Iuri Conti, coordenador da Força-tarefa de Combate ao Crime Organizado (FICCO), com base nas investigações da operação Syntonos, que foi deflagrada nesta terça-feira, 22. Duas mulheres são apontadas como responsáveis pelo gerenciamento da organização criminosa no Estado. Uma delas foi presa.

Em entrevista ao O POVO, o delegado informou que os dois policiais penais eram alvos de um atentado por meio de integrantes do PCC que estavam presos. Ele detalhou que esses criminosos, que fariam parte do núcleo no Ceará, possuem influência sobre a facção criminosa e estavam fomentando atentados contra os profissionais da segurança, que se estenderiam para fora dos presídios.  O coordenador da FICCO afirma que esse descontentamento da facção, possivelmente, foi causado pela disciplina imposta na penitenciária. 

A investigação da PF abrange mais de 50 pessoas que cuidavam da parte da gerência da organização criminosa. Nesta terça-feira, 22, cinco mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Sobral e Fortaleza. E um mandado de prisão temporária foi cumprido na capital cearense contra uma mulher, moradora de Fortaleza, que é considerada a responsável pela gerência de um núcleo ligado ao tráfico de drogas do PCC. 

"É uma franquia de uma facção criminosa de São Paulo. A mão de obra é local, mas há uma orientação do outro estado. O grupo tinha atuação em todo o estado do Ceará, pessoas com responsabilidade de gerência", reforça o delegado Iuri Conti. 

De acordo com a Polícia Federal, as condutas das investigadas podem configurar o cometimento, em tese, dos crimes de tráfico de drogas, tráfico de armas de fogo e constituição de organização criminosa armada, cujas penas podem superar 30 anos de prisão.

O nome da operação, Syntonos,  remete ao termo “sintonia”, utilizado por organização criminosa paulista para se referir aos “departamentos” ou “setores específicos” no organograma do grupo

PCC arrecadava dinheiro dentro do Ceará 

 

As investigações identificaram uma segunda mulher, responsável por arrecadar recursos financeiros para interesse do PCC. Ela é encarregada da contribuição dos seus membros para que a facção possa se sustentar. São as chamadas  "caixinhas" ou "cebola". 

Já a mulher que foi alvo do mandado de prisão, em Fortaleza, é suspeita do gerenciamento do tráfico de drogas e, neste ano, ela foi presa com entorpecentes. O delegado explica que dentro do setor financeiro há o setor de tráfico de drogas no PCC, que é de onde a organização criminosa tira boa parte do lucro. 

Sistema penitenciário do Ceará 

Essa não é a primeira vez que o sistema penitenciário do Ceará é alvo do PCC. Uma operação do Ministério Público do Ceará (MPCE) descobriu que tampas de quentinhas eram utilizadas pela facção criminosa no intuito de se comunicar e divulgar os "salves" da facção. Além disso, a meta da organização, segundo o MPCE, era de 70 denúncias de agressão por visitante, o montante ajudaria a expor de forma negativa o sistema penitenciário cearense. 

Os levantamentos do  MPCE descobriram o investimento de dinheiro do PCC para fomentar essas denúncias. Essas ações partiram da "Sintonia dos Bravatas". 

Além disso, O POVO também noticiou um motim que teria sido causado por integrantes da facção.  E também a reclamação dos policiais penais em relação ao número de policiais por plantão para 22 mil internos no sistema penal. 

O delegado da Polícia Federal, Iuri Conti, não descarta que as investigações da Polícia Federal venham a se entrelaçar com ações do PCC contra o sistema penitenciário, pois abrange a linha de investimento financeiro da organização criminosa. No entanto, ele ressalta que no momento não investiga, especificamente, as ações do PCC contra o sistema penal.  

Entenda o que é a FICCO

 

FICCO é a Força-tarefa de Combate ao Crime Organizado no Estado do Ceará, que é composta pela Polícia Federal (PF), Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), Polícia Militar do Ceará (PMCE), Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização do Estado do Ceará (SAP) e Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).

As ações policiais desencadeadas na FICCO são produtos da cooperação interagências, com foco na inteligência de segurança pública, e contaram com a participação do Batalhão Especializado em Policiamento do Interior (BEPI) e do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), ambos da Polícia Militar do Ceará.