Seminário discute o papel da escola na violência contra mulheres indígenas

Encontro antecede a Semana Diana Pitaguary, realizada anualmente nas escolas indígenas do Ceará

O seminário de preparação para a Semana Diana Pitaguary começou na manhã desta quarta-feira, 9, e teve como temática o papel da escola no enfrentamento da violência contra a mulher indígena. O evento ocorre no Hotel Amuarama, localizado no bairro de Fátima, em Fortaleza.

As atividades incluem palestras e rodas de conversas. Participaram do seminário, nesta manhã, cerca de 95 professoras e coordenadoras das 39 escolas indígenas da rede estadual, além de representantes das sete unidades de ensino de redes municipais.

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De acordo com a orientadora Silvana Teófilo, da Célula de Educação do Campo, Indígena e Educação Contextualizada da Secretaria Estadual da Educação (Seduc), um dos principais objetivos do seminário é discutir formas de ampliar esse debate para dentro das escolas e promover ações educativas para os estudantes.

“A gente tem buscado construir esse diálogo, em especial com relação à Semana Diana Pitaguary. A partir desse seminário, busca-se preparar, qualificar esses professores que aqui estão para que possam multiplicar esse trabalho na escola de forma a ampliar o debate e buscar metodologias que possam trazer discussões que venham contribuir para o enfrentamento da violência”, explicou.

A mesa de abertura do seminário contou com a presença de nomes como Juliana Jenipapo-Kanindé, secretária dos Povos Indígenas, Naara Tapeba, vice-coordenadora da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará, Fábio Jenipapo-Kanindé, coordenador da organização dos professores e professoras indígenas do Ceará (Oprince), e Thiago Anacé, professor e assessor Especial da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince).

Dificuldades no combate à violência contra mulheres indígenas 

A advogada, educadora e integrante da organização Esplar, Magnólia Said, aponta que a violência contra a mulher é uma questão fortemente presente no Ceará, principalmente contra mulheres indígenas, em que a subnotificação esconde o verdadeiro cenário dessa problemática no Estado.

Magnólia destaca que esse problema ocorre, principalmente, pelo fato de muitas vítimas não denunciarem os crimes.

“As mulheres não denunciam por vários motivos. Há vários tipos de medo: medo de ser morta, medo de não ter mais onde morar, medo de perder os filhos, medo de ficar mal na própria aldeia, de não ficar bem quista”, afirmou. 

Além da subnotificação, Marciane Tapeba, coordenadora da Articulação das Mulheres Indígenas no Ceará (Amice) e secretária executiva do Conselho Distrital de Saúde Indígena, acrescenta que a violência de mulheres indígenas acaba sendo perpetuada pela dificuldade das leis chegarem até as aldeias.

“A gente tem um grande aliado que é a Lei Maria da Penha, mas, muitas vezes, não conseguimos fazer com que ela consiga chegar no chão da aldeia, porque a gente sabe que a realidade das aldeias é um pouco diferente. A gente tem núcleos familiares de comunidades que têm todo um vínculo de parentesco, então é muito difícil essa temática, mas a gente considera esse espaço muito importante, de dar visibilidade à luta das mulheres do Ceará.”

O papel da escola no enfrentamento da violência contra a mulher

Evania Lima, diretora da Escola Indígena Manoel Francisco dos Santos, localizado no município de Aratuba, é uma das educadoras que estiveram no encontro. Ela considera que o seminário é de grande importância e afirma que ações voltadas para o combate à violência já são promovidas na escola, que conta com cerca de 189 alunos e promove ensino da creche até o ensino médio, além da educação especial.

“A gente não pode estar abordando esse tema para uma criança de 5 anos, então trazemos amplas metodologias, como seminário, desenhos ou a fala de uma mulher. A gente coloca vários mecanismos dentro da cabecinha daquelas crianças, para elas saberem como lidar com isso, caso vejam algo dentro de casa, por exemplo.”

A diretora conta que busca intensificar a promoção de ações educativas sobre o combate à violência contra a mulher, principalmente após uma das professoras da unidade escolar ter sido vítima de feminicídio.

Em julho deste ano, a professora Gerlene Kanindé, de 34 anos, do Povo Kanindé de Aratuba, foi assassinada pelo marido na região de Sítio Fernandes, zona rural do município.

“Foi uma dor muito grande.. As crianças choraram muito, porque essa professora era muito querida. Isso aconteceu nas férias e, quando a gente retornou, foi muito difícil [...] É muito difícil você chegar e não ver aquela pessoa lá, naquele cantinho. É muito complicado para a gente.”

Semana Diana Pitaguary

A Semana Diana Pitaguary surgiu a partir de determinação da Lei Nº 17.041, que também leva o nome da indígena que foi assassinada pelo marido na presença do filho do casal que, na época, tinha 7 anos. A lei foi criada em 2019, pela então deputada Augusta Brito.

A Semana ocorre todo ano, no mês de agosto, e cada escola organiza a programação de forma específica.

O seminário preparatório ocorre nesta quarta, 9, e quinta-feira, 10, e é organizado pelo Projeto Tucum — A força da resistência indígena, das ONGs cearenses Adelco e Esplar, em parceria com a Seduc, a Amice e a Organização dos Professores Indígenas do Ceará (Oprince). 

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