El Niño: Sala de Crise busca diminuir possíveis impactos do fenômeno no Ceará

Diminuição das chuvas no Estado e aumento das temperaturas estão entre as principais preocupações para quadra chuvosa de 2024

Com o fenômeno El Niño instalado desde junho deste ano, algumas medidas de prevenção climática foram realizadas para discutir e preparar ações para amenizar seus possíveis efeitos no Ceará e demais estados do Nordeste. A partir do cenário, a Agência Nacional das Águas e do Saneamento Básico (Ana) abriu, pela primeira vez, a Sala de Crise da Região Nordeste para prevenção do fenômeno climático. A primeira reunião ocorreu na última quinta-feira, 13.

Nos encontros, serão compartilhados informações técnicas disponíveis sobre a evolução do El Niño, que entre os possíveis impactos estão: a diminuição de chuvas no Ceará no próximo ano e aumento das temperaturas no Estado.

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De acordo com a Ana, as articulações serão realizadas mensalmente entre instituições de gestão de recursos hídricos das regiões durante o período de atividade do fenômeno climático, que pode persistir até o fim do ano.

Os órgãos responsáveis em participar das discussões pelo Ceará são a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra) e a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). As reuniões da Sala de Crise serão realizadas no formato virtual.

Em cada reunião, segundo a Ana, a situação climática e perspectivas futuras serão apresentadas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Também será tratado sobre o panorama da situação dos sistemas hídricos locais.

De acordo com o diretor de Operações da Cogerh, Tércio Tavares, o trabalho dos especialistas na Sala de Crise será dividido em dois momentos. “No primeiro, acompanharão as informações científicas da instalação do El Niño e, em segundo momento, a partir dessas informações, serão tomadas decisões sobre o enfrentamento e as formas de mitigação desse impacto que o fenômeno poderá causar em 2024”, explicou.

Apesar da formação do fenômeno climático ser esperado, o que deve preocupar é a intensidade do evento durante sua passagem, que pode afetar a quadra chuvosa de 2024.

O doutor em meteorologia e pesquisador da Funceme, Francisco Vasconcelos Júnior, explica que os impactos desse cenário estão relacionados com a diminuição das chuvas, o que pode afetar diretamente no aporte dos reservatórios do Estado, além das altas temperaturas.

“As previsões mostram que o fenômeno vai chegar até o próximo ano. Nossa preocupação é se ele vai intensificar gerando impactos que podem ocasionar uma grande seca, que é a nossa maior preocupação. Além de ter uma quadra chuvosa ruim”, informa.

Maria Elisa Zanella, professora do departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e vice-coordenadora do mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade (Prodema), cita que é provável que o Ceará tenha um cenário de poucas precipitações em 2024 devido ao fenômeno climático.

“El Niño, geralmente, vem associado a seca do Norte do Nordeste Brasileiro, com chuvas abaixo da média na quadra chuvosa”, disse a geógrafa. A especialista considera, no entanto, que o cenário vai depender também das temperaturas do Atlântico.

O cientista do Clima Alexandre Costa explica que o fenômeno climático é caracterizado pelo aquecimento acima do normal das águas do oceano Pacífico equatorial associado a alterações da circulação atmosférica.

Esse aumento, segundo Alexandre, cria áreas com ventos mais quentes e úmidos que impactam na tendência de chuvas abaixo da média e alta nas temperaturas, ou seja, o Estado pode ficar mais quente e com poucas precipitações.

Conforme o diretor da Ana, Filipe Sampaio, a abertura da sala ocorreu após declaração da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA), no último dia 8 de junho, alertando que o El Niño se instalou no Pacífico tropical em junho de 2023 e que a expectativa é de que o fenômeno se intensifique nos próximos meses.

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Ainda segundo Filipe, esta é a primeira vez em que uma Sala de Crise é instalada pela agência na Região Nordeste visando prevenir e preparar ações de minimização de possíveis impactos do El Niño.

“Dadas as incertezas quanto à intensidade dos efeitos do El Niño sobre o regime de chuvas e vazões e seus impactos sobre os usos múltiplos da água, a Ana instalou as Salas de Crise na Região Nordeste”, disse.

Neste ano, o Ceará registrou cenário positivo nos reservatórios hídricos. O Estado encerrou a quadra chuvosa de 2023, de fevereiro a maio, com 51% de reserva hídrica, com 71 açudes sangrando. O número que não era observado desde 2009, quando sangraram 111.

Atualmente, 11 açudes sangram e 57 estão com volume acima de 90% da capacidade. Os dados são no portal de monitoramento da Cogerh, compilados nesta quarta-feira, 19. 

Apesar do bom aporte nos reservatórios neste ano, o especialista em Clima Alexandre Costa ressalta que é necessário atenção ao gerenciamento das águas dos reservatórios no próximo ano.

O pesquisador da Funceme Francisco Junior pontua que é fundamental uma análise do sistema hídrico para trabalhar o direcionamento da liberação de água dos reservatórios no Ceará diante dos possíveis impactos do El Niño, o que deve ser feito na Sala de Crise do Nordeste.

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