Duas escolas cearenses são indicadas ao Prêmio Melhores Escolas do Mundo
Unidades estão entre as representantes brasileiras em categorias que reúnem instituições de outros países
18:13 | Jul. 04, 2023
Duas escolas do Ceará estão entre as dez melhores do mundo em categorias do prêmio internacional Melhores Escolas do Mundo 2023. A escola campeã receberá 50 mil dólares.
As Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Jaime Tomaz de Aquino, do município de Beberibe, e Joaquim Bastos Gonçalves, de Carnaubal, foram destaques nas categorias de “Ação ambiental” e “Apoiando vidas saudáveis”, respectivamente.
As instituições concorrem nas categorias com escolas de outros países, como Argentina, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Índia e Malásia.
Ação Ambiental
Criada em 2019, a Jaime Tomaz de Aquino desenvolve ações ambientais e de sustentabilidade desde o início do funcionamento, realizando o plantio de árvores nativas, jardins suspensos com produtos recicláveis e teto verde.
A instituição criou uma Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida, intensificando as iniciativas, que são realizadas com a participação ativa dos estudantes, e garantindo o selo Escola Sustentável, do Governo do Estado do Ceará.
A partir disso, a agenda verde na escola ganhou forças, com iniciativas como a criação de um biodigestor, coleta da água do ar condicionado e dos bebedouros — que são utilizados para aguamento das plantas — construção de uma horta escolar, de onde são extraídos produtos para a merenda dos alunos, como o cheiro verde e a pimentinha, e um clube de reciclagem.
Além das ações promovidas dentro do ambiente escolar, a unidade realiza ações que levam os alunos para além dos muros da instituição e até comunidades vizinhas. Os estudantes já visitaram as associações de catadores e recicladores, ONGs e parques.
Segundo o coordenador escolar Cojardo Silva, a implementação dessas ações gerou impactos positivos no espaço dos alunos. A escola, que tem cerca de 10 mil m², conta com poucos cestos de lixo espalhados e há baldes de coleta seletiva próximos ao refeitório, sendo suficiente para manter o espaço limpo e com pouca produção de lixo.
A diminuição dos gastos de água e de energia também foi observado pelo coordenador, que aponta ainda a conscientização dos alunos como responsável por essas mudanças.
“Nós conseguimos inspirar e motivar os nossos alunos a terem essa preocupação com a limpeza do ambiente escolar. É uma questão sustentável também”, pontuou.
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A instituição também realiza iniciativas que promovem a acessibilidade, com a construção de rampas, e a diversidade. Para o coordenador, ser reconhecido pelas iniciativas de sustentabilidade também é de grande importância.
“O trabalho que a gente faz aqui não é com vistas a ganhar um prêmio monetário. É um trabalho feito para a vida, porque a questão ambiental é muito importante e muitos de nós estamos desligados dela. Os alunos têm a missão de replicar isso nas comunidades onde eles estão e a gente vê isso repercutindo. A nossa responsabilidade, agora, aumenta, porque nós temos que manter todas essas ações”, explicou.
Caso a escola de Beberibe seja a campeã da categoria, o coordenador aponta que o objetivo é reforçar e aprimorar os trabalhos já realizados e ampliar as ações para outras regiões.
“Nós poderíamos ter um galpão, com melhores ferramentas e telas, para poder produzir o material reciclável, porque nós ainda fazemos de uma forma muito primitiva. O nosso intuito seria melhorar e reforçar essas ações e replicar para outras escolas”, explicou.
Apoiando vidas saudáveis
Com o aumento do número de alunos que enfrentavam problemas relacionados à saúde mental na escola Joaquim Bastos Gonçalves, principalmente com a pandemia, o professor de Educação Física Guilherme Barroso criou o projeto “Adote um Estudante”.
Após entrar em contato com uma rede de psicólogos pelas redes sociais e convidar os profissionais para o projeto, a ação iniciou os trabalhos de atendimentos on-line gratuitos voltados aos alunos da instituição.
De acordo com Guilherme, psicólogos de vários estados do Brasil atuam voluntariamente na iniciativa. Ele explica que, a partir de uma divulgação e apresentação do projeto nas salas de aula, os alunos procuram o atendimento. O docente conta que, em 2020, muitos alunos da instituição estavam ansiosos, deprimidos, com a autoestima baixa e dificuldades de socialização em grupo.
“Nós, professores em sala de aula, encontramos uma realidade totalmente diferente. A gente teve necessidade de criar esse projeto e botar em prática. A gente fala que tem psicólogos disponíveis. Quando o aluno vai atrás, é porque sente a necessidade, vê que está precisando, e a gente encaminha o termo de autorização para os pais”, contou.
Atualmente, mais de 30 psicólogos fazem parte do projeto Adote um Estudante. No total, cerca de 33 estudantes já receberam atendimento e alguns alunos seguem com o acompanhamento mesmo após a conclusão do ensino médio.
Por conta da repercussão, escolas de outros estados, como Paraíba, Piauí e Paraná, chegaram a procurá-lo para implementar a iniciativa nas unidades escolares.
Uma das psicólogas que buscaram o projeto é Daiana Cristina, da cidade de Londrina. A especialista deseja implementar a ação no município onde mora e em regiões vizinhas, como Cambé, onde ocorreu o ataque à escola que deixou dois estudantes mortos.
“A demanda é muito grande para a quantidade de psicólogos que se encontra nas escolas. Não é todo mundo em uma escola pública que consegue pagar uma psicoterapia. Se cada profissional adotasse três adolescentes, ou um que seja, já seria a diferença. Se fosse um projeto que caminhasse para outras regiões, com certeza poderia evitar o que aconteceu em Cambé”, explicou.
Além dos atendimentos, o projeto promove oficinas de teatro, aulas de crochê e bateria, atividades esportivas e passeios para pontos turísticos do Estado.
Desde o surgimento da ação, o professor Guilherme Barroso analisa que os alunos tiveram grande progresso.
“A gente tinha alunos que não conseguiam socializar, nem para falar o nome deles em sala de aula. Hoje, tenho alunos que conseguem se comunicar, com a autoestima mais alta, que retornaram à escola. Temos alunos que hoje são capazes de andar com as próprias pernas”, considerou.
Para ele, estar na categoria do Prêmio Melhores Escolas do Mundo 2023 é gratificante. O professor considera que o projeto tem grandes chances de ganhar a categoria, mas destaca que o objetivo maior é levar a iniciativa para outras instituições do País.
Caso garantam o prêmio, o diretor da escola Joaquim Bastos Gonçalves estabeleceu que parte do valor será destinada para a construção de uma sala de acolhimento para os alunos.
Promovido pela T4 Education, as três melhores escolas de cada categoria deverão ser anunciadas pela organização global em setembro e as unidades campeãs serão divulgadas em outubro.