"Batalha só tá começando", diz mãe de vítima da Chacina do Curió

Edna Carla Cavalcante, mãe do Alef Souza — uma das 11 vítimas da tragédia, concedeu entrevista ao O POVO News nesta segunda-feira, 26

O fim do julgamento dos quatro primeiros policiais militares envolvidos na Chacina da Grande Messejana — conhecida como Chacina do Curió, é apenas o "início de uma batalha" para Edna Carla Cavalcante, mãe do Alef Souza, uma das 11 vítimas da tragédia. Em entrevista ao O POVO News desta segunda-feira, 26, ela falou sobre a condenação dos PMs e a expectativa para os próximos júris. 

Primeiro julgamento foi concluído no último domingo, 24, e resultou na condenação de Wellington Veras Chagas, Ideraldo Amâncio, Marcus Vinícius e Antônio José de Abreu Vidal Filho. Decisão cabe recurso, mas réus devem cumprir a pena inicialmente em regime fechado e tiveram a prisão provisória decretada. 

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Sentença foi um alívio para mães e familiares das vítimas, que buscavam por uma resposta da Justiça cearense há mais de sete anos. Em participação no O POVO News de hoje, Edna Carla Cavalcante, mãe do Alef Souza, adolescente de 17 anos que morreu no massacre, disse ter ficado feliz com o resultado.

"Fiquei feliz de fato, porque era uma busca que eu estava fazendo há muito tempo", disse ao jornalista Italo Coriolano. Ela também destacou que o resultado é uma "vitória da periferia" e que serve como lição para outras mães que perderam seus filhos e "não têm coragem" de lutar por Justiça.

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Mas a condenação, no entanto, é apenas o início de um caminho que deve ser percorrido ao longo deste ano. Isso porque outros dois julgamentos referentes à Chacina do Curió ainda devem ocorrer nos próximos meses: o segundo no dia 29 de agosto e o terceiro tem previsão para o dia 13 de setembro.

"(Vamos) continuar lutando, que a batalha não terminou. A batalha só tá começando (...) A gente vai lutar com a mesma garra, com as mesmas falas, porque o que a gente fala é o que realmente aconteceu. A gente traz a verdade", frisou a mulher, dizendo "ter fé" no resultado dos próximos júris. 

“A polícia tem que ter consciência que dentro da periferia existem jovens que precisam viver. E a gente vai continuar trabalhando, continuar batalhando. A gente perdoa fala, a gente perdoa erro. Mas um crime? Um crime não se perdoa, crime se julga, crime se condena. Não estamos querendo o mal deles (policiais condenados), queremos apenas justiça”, destacou ainda durante entrevista. 

Edna se emocionou ao lembrar do filho

Durante entrevista, Edna Carla se emocionou ainda ao resgatar a memória do filho, que tinha apenas 17 anos quando foi assassinado. "Meu filho, como qualquer outro jovem, era vaidoso. Ele se olhava no espelho e dizia 'mãe eu tô bonito’? E eu dizia ‘claro meu filho, puxou a mamãe’.", relembrou. 

A mulher, que é fundadora do movimento "Mães da Periferia", contou ainda que o adolescente, neto de policial militar, havia dito que se alistaria no Exército. “Não deu tempo (dele se alistar), que em 2015 a polícia matou meu filho (...) O sonho dele foi interrompido em uma crueldade sem tamanho”, desabafou.

Edna disse ainda, em meio a lágrimas, que sente falta do "brilho" do jovem no espelho e de detalhes como quando ele acordava nas datas comemorativas perguntando o que ela faria para comer.

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"Hoje eu comemoro as datas (comemorativas) porque eu tenho que manter ele vivo. Eu vivifiquei meu filho na luta (...) Ninguém queira passar por essa situação. A gente tá fazendo justiça sim, começamos, mas não trará nenhum dos nosso filhos de volta. Isso é muito cruel",  frisou. 

"O sentimento que a gente fica é de um dever cumprido. Certo que ainda falta dois julgamentos, mas a gente já começou. Foram quase oito anos de muita comida entalada na garganta, de muita água que engasgava na hora do choro. Quantas noites todas as mães passaram sem dormir?", completou ainda. 

Confira entrevista:

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