Dengue tipo 3 é identificada novamente, e Prefeitura de Fortaleza alerta a população
Sorotipo 3 foi registrado em Roraima e no Paraná. Há 15 anos não havia incidência da doença, segundo dados do Ministério da Saúde
10:35 | Jun. 19, 2023
Com quatro casos de dengue sorotipo 3 confirmados no Brasil — três em Roraima e um no Paraná —, a Prefeitura de Fortaleza alerta os cearenses sobre o retorno da doença ao País após 15 anos da última epidemia registrada.
A dengue conta com quatro sorotipos, ou seja, um indivíduo pode ser infectado pelo vírus e adoecer quatro vezes. De acordo com Nélio Morais, coordenador da Vigilância em Saúde de Fortaleza, a cada infecção, a tendência é que a forma da doença seja mais grave do que a anterior.
“Toda vez que há um processo infeccioso por um sorotipo, você fica imune a esse sorotipo. Se você teve dengue pelo sorotipo 1, por exemplo, você não voltará a ter dengue do sorotipo 1, mas poderá ter por 2, 3 ou 4."
Porém, complementa Nélio Morais, "cada vez que você tem um caso a mais de dengue, a tendência é que, clinicamente, esse caso seja mais grave por reações imunológicas que ocorrem no indivíduo em relação aos anticorpos formados da dengue anterior com a infecção nova”.
O sorotipo 3 não circula, ou circula com pouca força de transmissão, no Brasil há anos. Apesar de o Ceará ainda não ter registrado casos recentes, o retorno desse tipo da arbovirose representa uma ameaça à população, que tem uma baixa imunidade para a doença.
“Hoje, nós temos uma população em Fortaleza quase que totalmente suscetível ao sorotipo 3. Essa é a grande ameaça. Quando a chikungunya chegou ao Brasil e depois aqui no Ceará e em Fortaleza, ninguém tinha adquirido chikungunya anteriormente para ter defesas contra ela. A mesma coisa, praticamente, vai acontecer com o sorotipo 3”, afirma Nélio.
Dengue tipo 3: quais os sintomas
Os sintomas da dengue tipo 3 são semelhantes em todos os sorotipos. Segundo o Ministério da Saúde, a doença pode ser assintomática ou variar de quadro leve, sinais de alarme e de gravidade. Os principais sintomas são febre alta, dor no corpo e articulações, dor atrás dos olhos, mal estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas pelo corpo.
Nélio explica que há a possibilidade de um sorotipo apresentar sintomas mais agressivos, como no caso do tipo 2, mas a resposta imunológica é individual e depende de aspectos particulares de cada paciente.
“São vários aspectos que podemos configurar. Em linhas gerais, qualquer sorotipo poderá ter quadros leves e quadros graves de dengue. Depende da correlação de forças de defesa do organismo de cada pessoa ou se por acaso o paciente tiver dengue sendo uma pessoa de terceira idade, com comorbidade como diabetes, hipertensão, dentre outros”, destaca.
Balanço da dengue no Estado
No Ceará, houve uma queda de 55,2% das notificações de dengue, chikungunya e zika nos primeiros quatro meses do ano em comparação com o número registrado em 2022 no mesmo período.
Os dados são do último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), levantados no período de 1º de janeiro a 14 de abril. Segundo o documento, a dengue foi a doença mais registrada entre as arboviroses, com 2.653 casos confirmados no período.
Segundo Juliana Borges, orientadora da Célula de Vigilância e Prevenção de Doenças Transmissíveis e Não Transmissíveis da Sesa, a redução no número de casos ocorreu por conta da promoção de ações de combate ao mosquito.
“A gente tem a redução no número de criadouros de mosquitos, a diminuição de pessoas suscetíveis e a baixa circulação viral como exemplos. Então, diante desse cenário, nós reforçamos que a população continue atenta às ações de controle que devem ser rotineiras para eliminação de criadouros domésticos, evitando sempre o acúmulo de água em depósitos desprotegidos. Essa redução de criadouros impacta diretamente na redução do número de casos de arboviroses”, pontua.
Na Capital, 2.323 casos confirmados de dengue foram registrados, com um óbito, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) — no período de 1º de janeiro a 5 de junho. A maior incidência de casos na Cidade foi em pessoas de 19 a 59 anos de idade, e o mês de março registrou o pico de casos, com 842 registrados.
Os bairros com o maior número de casos de dengue foram Barra do Ceará, Cristo Redentor e Pirambu. No caso da Barra do Ceará, entre janeiro e março deste ano, duas intervenções de combate a arboviroses foram realizadas pela Prefeitura devido ao aumento de infecções.
Fortaleza não tem epidemias de dengue há 11 anos, porém a presença da doença na Cidade é constante, principalmente durante a quadra chuvosa. Com as condições climáticas e ambientais, a junção de calor, chuva e umidade é fundamental para dar força ao vetor.
“Com ou sem epidemia, com uma endemicidade baixa, haverá sempre [dengue] em Fortaleza. Sobretudo, em abril e maio. Neste ano, houve uma antecipação, devido a questões climáticas e chuvas antecipadas, que fez com que essa força de transmissão fosse maior um mês mais cedo”, analisa Nélio Morais, coordenador da Vigilância em Saúde de Fortaleza.
Dengue: retorno do Sorotipo 3
O especialista Nélio Morais aponta que o sorotipo 1 da dengue é o mais registrado e está há mais tempo em Fortaleza. Casos de dengue tipo 2 retornaram em 2019, porém, devido às ações de combate da gestão municipal e da taxa de imunização da população por conta de outras epidemias, não é tão registrada na Capital.
O “retorno” de sorotipos específicos, como no caso do tipo 3, deve-se à questão biológica do vetor e da circulação de pessoas infectadas.
“Toda vez que há uma doença infecciosa em largas proporções, isso gera uma camada de imunidade na população. O sorotipo deixa de existir a partir do momento em que o processo transmissivo passa a ser limitado. Porém, há quatro sorotipos circulantes. Por exemplo, esse circulou em um ambiente, deixando muitas pessoas imunizadas, e outras chegam infectadas e esse vetor faz um repasse sanguíneo, infectando aqueles que haviam sido acometidos por outro sorotipo”, detalha.
Dengue Sorotipo 3: Município atuará em 60 bairros em situação de risco
Para o combate das arboviroses e, principalmente, a p0revenção da proliferação da dengue tipo 3, a Prefeitura de Fortaleza planeja intensificar as ações já existentes, como inspeções, intervenções em educação e saúde.
A participação ativa da população no combate da dengue também é fundamental, visto que grande parte dos focos estão nas residências.
“Nós sabemos que tem uma população resistente, nós ficamos até tristes e constrangidos com isso (...) as pessoas relutam um pouco em acatar as medidas de controle, desafiando a própria saúde e a saúde dos entes queridos que estão no lar”, diz o coordenador da Vigilância em Saúde de Fortaleza, Nélio Morais.
Além de ampliar as iniciativas já realizadas, a gestão municipal planeja realizar a nova edição da operação Inverno, prevista para ter início em novembro deste ano e prosseguir até fevereiro de 2024. Nélio Morais explica que a estratégia é realizar ações antes do período chuvoso para diminuir a força de transmissão da doença.
A operação selecionará cerca de 40 a 60 bairros de Fortaleza, onde a situação epidemiológica esteja mais precária, para a realização de ações de combate e conscientização. Na edição 2022/2023, 1.100 profissionais inspecionaram cerca de 695 mil residências na Cidade.
O profissional ainda aponta que o objetivo do alerta sobre a presença do sorotipo 3 no País não é causar pânico.
O ano epidemiológico da doença se encerra, normalmente, no dia 30 de julho, principalmente por conta do cenário climático. Por conta disso, Nélio antecipa a baixa possibilidade de uma epidemia de tipo 3 neste ano, porém reforça para a população a necessidade de manter os cuidados em relação à dengue.
“Possivelmente, não deverá haver epidemias de sorotipo 3 no Brasil no segundo semestre, mas cuidados estão sendo colocados, e o alerta está sendo colocado. Nós teremos seis meses pela frente para organizarmos o processo da base, de integração com o Ministério da Saúde e o Governo do Estado. É muito recente, mas temos que estar sempre em alerta”, finaliza.