Transplante de órgãos no Ceará: 8 em cada 10 pessoas na fila esperam por um rim

Número baixo de doadores e chances de compatibilidade são fatores que influenciam na demora para conseguir o órgão

No Ceará, 1.259 pessoas estão na fila de espera para transplantes de órgãos. Desses pacientes, 1.066 aguardam por um rim compatível, o que corresponde a 84% da fila. Apesar da quantidade de transplantes ter aumentado em 2022, o número de doadores ainda não superou o total observado antes da pandemia.

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Segundo a coordenadora da Central Estadual de Transplantes (CET) do Ceará, Eliana Régia, em 2022 foram registrados 247 doadores. No ano de 2019, dez pessoas a mais foram doadoras de órgãos.

Apesar disso, o mesmo doador pode impactar a vida de mais de uma pessoa na fila, pois é possível retirar mais de um órgão para doação. O Ceará tem centros para realizar transplantes de coração, rim, pulmão, fígado, pâncreas, córnea, medula óssea e valvas cardíacas.

Eliana explica que a hemodiálise permite que as pessoas tenham mais tempo para encontrar um rim compatível. Essa alternativa faz o papel do órgão de filtrar o sangue, retirando resíduos e substâncias tóxicas.

O tempo de vida de pessoas que precisam de transplante de coração, pulmão, fígado, entre outros órgãos, acaba sendo menor e, por isso, a lista de espera por esses órgãos é mais dinâmica.

Fila de transplantes de órgãos no Ceará até maio de 2023

Os critérios para receber o órgão doado também fazem com que pessoas que esperam por um rim fiquem mais tempo aguardando. É preciso que o paciente tenha compatibilidade de grupo sanguíneo e do antígeno leucocitário humano (HLA).

“Quanto mais idêntico o HLA do doador e do receptor for, menores os riscos de rejeição. Então, eu posso estar há cinco anos na fila e outro paciente entrar hoje, se a compatibilidade dele for maior, ele pode ser beneficiado antes”, explica Eliana.

Transplante de órgãos no Ceará: espera gera angústia em pacientes e familiares

A demora e a incerteza da espera pelo rim gera angústia em pacientes e familiares. Carla Farias Moreira de Holanda, 54, mãe de Daniel Moreira de Holanda, jovem de 22 anos que aguarda o transplante, conta sobre a sensação de que a fila “não anda”. Carla explica que o filho nasceu com problemas nos rins, mas só em 2023 entrou na fila de transplante.

“Se a gente fosse compatível, ele já estava com esse rim”, diz a mãe sobre a vontade de doar o próprio órgão para o filho. No caso dos rins, é possível receber a doação de uma pessoa viva caso haja compatibilidade.

De acordo com ela, a família não procurou saber se há um tempo médio de espera para que o jovem encontre um doador como forma de não aumentar a ansiedade sobre o assunto. O estudante faz hemodiálise três vezes por semana, tendo dias com menos ou mais efeitos colaterais.

"Por fazer hemodiálise, eu não tenho condições de fazer mais de três cadeiras na faculdade, além de não ter condições físicas e mentais para estagiar nos dias que faço, pois volto muito cansado. Se a hemodiálise não ocorre do jeito que é para ocorrer, passo mal e no resto do meu dia fico sem forças para fazer qualquer coisa", conta Daniel.

Enquanto espera pelo órgão, Daniel explica que chega a perder momentos com amigos ou outras atividades das quais gosta e não consegue dar o foco que gostaria nos estudos. "Além de continuar num tratamento que me cansa tanto fisicamente quanto psicologicamente", frisa.

Apesar do tempo de espera indefinido, Eliana Régia afirma que a fila de transplantes não está parada no Ceará. “A fila continua andando, ela é dinâmica”, diz. A coordenadora conta que a Central Estadual de Transplantes também faz campanhas para sensibilizar mais pessoas a se tornarem doadoras.

Número de transplantes voltou a crescer no Ceará

Em 2022, 1.675 procedimentos foram concluídos no Estado, o que representa um aumento de quase 10% no número de transplantes feitos em 2021. Devido à pandemia, os anos de 2020 (1.122) e 2021 (1.524) tiveram diminuição do total de transplantes.

No entanto, segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), o total realizado em 2022 ultrapassou a quantidade observada em 2019. No último ano antes da pandemia, o Ceará fez 1.616 transplantes.

Nos primeiros quatro meses de 2023, de acordo com dados da plataforma IntegraSus, 538 transplantes de órgãos, tecidos e células foram feitos no Ceará.

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