Papel da imprensa no tratamento dos ataques às escolas no Ceará vira pauta do MP
Ministério Público do Ceará reflete responsabilidade dos veículos de comunicação na divulgação destes ataques. Cuidados no tratamento das mensagens é principal ponto de atençãoRepresentantes do Ministério Público do Ceará (MPCE) convocaram, na tarde desta quinta-feira, 13, uma reunião com veículos de comunicação de abrangência nacional e local a fim de tratar como a mídia pode lidar com a veiculação de notícias relacionadas às ameaças a escolas.
Juliana Silveira Mota, promotora de Justiça e coordenadora do Ministério Público, salientou que a confraternização não tinha o viés de dar respostas sobre o que está acontecendo ou possíveis novos casos, mas, sim, reforçar a responsabilidade da imprensa neste panorama atípico que o Ceará e demais estados brasileiros têm vivenciado.
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“Queremos tratar sobre esta onda de notícias que assolam e aterrorizam nossa sociedade, porque os órgãos de segurança não falam diretamente sobre o assunto.”, disse Juliana.
“Queremos que vocês sejam os responsáveis por disseminar os canais de inteligência, que sejam responsáveis por receber as notícias, notícias de perfis que podem ou não ser falsos, informações que precisam ser constatadas. Também de não divulgar as notícias sem a devida confirmação, e tratar assuntos como o de ontem (ataque a escola no município de Farias Brito), de maneira responsável, ou seja, sem a divulgação de imagens, porque pode estimular pessoas mal intencionadas”, reforçou a promotora.
Para quem trabalha diretamente no âmbito da infância e juventude na área legislativa, como o promotor do MPCE, Lucas Azevedo, este ato é uma: “Construção de pontes”.
“A situação que nós estamos passando é muito grave e complexa. O perfil dos autores deste tipo de agressão é um perfil que exige divulgação dos fatos. Quanto mais for divulgado o fato, menor a disseminação de novos ataques”, pontua Lucas.
O promotor também pede para que a imprensa tenha o máximo de cuidado ao tratar sobre o tema. “Quando tratamos de um infrator adolescente, a própria legislação (ECA) não permite a foto do infrator. Mesmo sendo adulto, não deve ser mencionado o nome, fotos, identificação com detalhes do local do crime ou como o crime aconteceu, pois isto também estimula novos ataques”.
Na manhã desta quinta, os responsáveis pelo monitoramento dos perfis de rede social da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), da Polícia Militar (PM-CE), e do MPCE, revelaram, em coletiva, que houve um aumento exponencial no número de perfis que mencionam o potencial de ataques às escolas. Há três dias, o número de perfis que estavam sendo monitorados eram 2, agora já são 49.
Destes, 35 foram identificados e outros 14 estão em análise. Ao todo, 22 pessoas foram conduzidas a unidades da Polícia Civil. “Amanhã isto deve pular para um número muito maior”, projeta Lucas.
O MPCE se organiza para criar um grupo para estudar e lidar de maneira multidisciplinar, ou seja, não só operadores do direito, mas também com profissionais da psicologia e da assistência social, no viés da segurança pública. A tendência é que também seja empossado, em breve, um representante da imprensa para estudar diretrizes e apontar saídas que o MP ainda não esteja percebendo.
“Não temos como afirmar que iremos acabar com todos os atos. Os estadunidenses convivem com isso a muito tempo e até hoje não conseguiram (média de 600 ataques por ano, segundo estudo). No território norte-americano, cerca de 90% dos atos dos infratores têm algum tipo de doença ou perturbação mental”, destaca Lucas. Segundo ele, este perfil está se repetindo (no Brasil).
Conscientização da família
Ambos os promotores bateram na tecla de que é preciso conscientizar os pais e familiares.
Azevedo atenta, por exemplo, para uma medida simples de prevenção: a revisão da mochila dos filhos antes de ir à escola. “Ou melhor, montem as mochilas dos seus filhos, para que uma arma branca ou uma arma de fogo não vá junto”, aconselha.
Juliana encerra sugerindo que a imprensa trate questões como o bullying e que os pais tenham um mínimo de controle no que os menores estão fazendo nas redes sociais. “São medidas educativas que, com certeza, minimizarão casos. Todos os perfis que chegam aos nossos canais de comunicação são verificados e constatados como verídicos ou não”.
Canais oficiais de atendimento do MPCE: 3101-0181 (WhatsApp) ou 181 por telefone.
NOTA DA REDAÇÃO
Em plenitude, O POVO atende às colocações apontadas durante a reunião realizada nesta imprensa na tarde desta quinta-feira, 13, entre os veículos de imprensa e o Ministério Público do Ceará.
Sendo assim, daremos seguimento a todas as instruções colocadas em pauta pelos promotores a partir do presente dia.
Toda a equipe de jornalismo do Grupo se dispõe a conduzir novas contribuições que, eventualmente, possam ser requisitadas por parte do órgão de Justiça do Estado, e manteremos, de maneira ininterrupta, o compromisso com os fatos.
Desde a semana passada, O POVO publica a seguinte nota em matérias relacionadas a ataques em escolas:
O POVO opta por não publicar foto, vídeo, nome ou qualquer detalhe sobre autores de ataques a escolas. A decisão atende a recomendações de estudiosos em comunicação e violência.
Entendemos que a divulgação dessas informações pode vir a estimular novos agressores, que usem a divulgação da imprensa profissional como forma de promoção de atos de violência.
O POVO pretende manter a postura em casos subsequentes, podendo reavaliar se novos estudos indicarem rumos que tragam maior segurança à sociedade.
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