Tampas de quentinhas eram usadas para comunicação de facção dentro do presídio, aponta MPCE

Operação do Ministério Público desarticula esquema de facção criminosa para divulgar os "salves" dentro das unidades prisionais

09:13 | Abr. 05, 2023

Por: Jéssika Sisnando
Tampas de quentinhas eram usadas para comunicação dentro de presídios, conforme investigação do Ministério Público (foto: Divulgação/MPCE)

O Ministério Público do Ceará (MPCE) deflagrou uma operação para desarticular um esquema de comunicação de "salves" de facção criminosa dentro de um presídio cearense. As mensagens eram divulgadas por meio de tampas de quentinhas.

Com apoio da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) e do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), foi cumprido um mandado de prisão preventiva e outro de busca e apreensão na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Jucá Neto (CPPL 3), em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza.

De acordo com o Ministério Público, o alvo da operação é integrante de facção e tinha função de "salveiro geral". É uma pessoa responsável por repassar e receber os comunicados da organização criminosa dentro e fora das unidades. Além disso, o objetivo do grupo também era a comunicação entre diferentes unidades prisionais.

Foram apreendidas sete tampas de quentinhas com mensagens encaminhadas a outros presos. O investigado relatou, em depoimento, que pegava a parte de alumínio da quentinha e afinava a ponta. O alumínio solta uma substância que, molhada com sabonete, faz o traço ficar espesso e é possível utilizar o material com um lápis.

As investigações relacionadas ao esquema começaram em abril de 2022 depois de ser apreendido um material na ronda noturna. Depois de examinar as mensagens nas tampas, houve a verificação de informações sobre o funcionamento da facção dentro do presídio e orientações para serem compartilhadas com familiares, além de uma "campanha" para cooptar integrantes para a facção.

O material apreendido foi submetido à perícia, que comprovou a autoria das mensagens. O alvo cumpre pena por tráfico de drogas. Caso condenado por novos delitos, ele responderá por integrar organização criminosa com agravante de atuar como liderança do grupo.

Meta de facção seria conseguir 70 denúncias de agressão por cada visitante

Em um dos bilhetes apreendidos foi identificada a mensagem da facção para que os detentos incentivassem os familiares a denunciarem supostas agressões que estariam sofrendo dentro do presídio.

A meta seria conseguir 70 denúncias por visitante, pois dessa forma conseguiriam chamar atenção da imprensa e, consequentemente, da sociedade para a situação dos detentos.

O intuito seria expor de forma negativa o funcionamento do sistema prisional no Ceará. A meta não foi alcançada, pois 40 denúncias foram formalizadas.

Outros bilhetes tentavam promover a organização criminosa em busca de mais integrantes, e havia ainda mensagens motivacionais destacando valores como "união, coragem e confiança".