Mortes em Maracanaú: racha dentro de facção causou pelo menos 20 homicídios, afirma Polícia Civil

O número 1 da GDE no Ceará foi decretado para morrer pela própria facção depois de exigir que traficantes comprassem droga dele. Investigação da PCCE revelou o racha da facção e prendeu os dois chefes

Um racha dentro facção Guardiões do Estado (GDE) causou a morte de aproximadamente 20 pessoas em Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Francisco Lucas da Silva Pereira, de 42 anos, chefe da GDE conhecido como "Chico da Barra", criou uma regra na organização criminosa para que as pequenas "chefias" da área de Maracanaú comprassem somente drogas vendidas por ele próprio e no valor que ele considerasse "justo".

A atitude do homem considerado o número 1 da facção, de monopolizar o comércio de entorpecentes, ação que não era aceita na facção, despertou a ira dos faccionados e gerou um racha. Chico foi "decretado", ou seja, ameaçado de morte, e teve que comandar o grupo criminoso por meio da Internet, longe de Maracanaú. Chico foi preso na sexta-feira, 10. No mesmo dia, Jonathan Bertoldo de Melo, de 27 anos, conhecido como "Jonathan Magão", também foi preso.

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Conforme o delegado do Núcleo de Homicídios da Delegacia Metropolitana de Maracanaú, Alan Pereira,  "Magão" entrou no radar da Polícia Civil devido à dissidência na facção criminosa a qual ele e Chico da Barra pertenciam. O delegado afirmou que integrantes da mesma facção começaram a matar entre si.

O Núcleo de Homicídios representou pela prisão de "Magão". Na sexta-feira, 10, ele foi localizado em Natal, no Rio Grande do Norte, em uma região de alto padrão da cidade, onde ele morava há um mês, conforme apontam as investigações. Ele foi preso dois dias depois.

Com ele foram encontrados uma arma de fogo, um veículo blindado, e a prisão em flagrante se deu pelo porte de arma de fogo. O flagrante dele foi homologado no RN e também está preso em função do mandado de prisão por homicídio e organização criminosa.

Hierarquia

 

Chico Barra e Magão são dois integrantes do topo da hierarquia da organização. De acordo com a Polícia Civil, Chico era o número 1 da GDE no Ceará, enquanto Magão era uma "liderança local".

O delegado adjunto da Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco), Huggo Leonardo, explica que Chico da Barra estava na divisa de Icapuí e Mossoró, residindo em um condomínio de alto padrão, escondido em razão do racha da briga interna na organização. Ele e Magão tiveram divergências na atuação das organizações criminosas.

"Conseguimos fazer um acompanhamento aproximado e demonstrar que ele estava mentindo afirmando que morava em Icapuí. Ele criava histórias para validar suposta vida lícita de que estava trabalhando de pescador, sendo que nem em Icapuí ele morava", detalha o delegado. 

"Ele era o número 1 da organização criminosa em liberdade e estava exercendo hierarquia em Maracanaú e em outras localidades da RFM e na Capital, gerando instabilidade por conta das decisões que ele tomava dentro", explica o titular da Draco. Chico da Barra foi autuado por integrar organização armada agravada pelo exercício do comando.

Huggo Leonardo explica ainda que uma das peculiaridades da GDE é que eles não monopolizavam as fontes de recebimento da droga. Os criminosos possuíam a "liberdade" de comprar droga de qualquer fornecedor que as lideranças locais quisessem, mas Chico da Barra começou a exigir que as lideranças menores só comprassem droga dele.

"Ele cobrava o preço que achava que deveria ser cobrado. As lideranças locais então passaram a se insurgir e várias decretaram a morte do Francisco Lucas, Chico da Barra, mesmo ele sendo o número 1 da organização criminosa", explica o delegado. Huggo detalha ainda que, apesar do conflito, as lideranças continuaram na GDE, se intitulando como puros e impuros. 

Apesar do conflito, todos continuaram na GDE e se intitulavam puros e os impuros, que seriam os chefiados pelo Chico da Barra. Foi então quando começaram os salves, que são comunicados nas redes sociais dando ordens aos subordinados para tomar condutas uns contra os outros. De acordo com o delegado Huggo Leonardo, da Draco, foi essa dinâmica que causou a elevação dos Crimes Violentos Letais Intencionais em Maracanaú.


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