Unicef: oito em cada 10 crianças e adolescentes vivem na pobreza no Ceará
Estudo do Unicef apresenta múltiplas dimensões da pobreza que impactam o grupo populacional. Renda, educação e acesso à alimentação pioraram na pandemiaNo Ceará, cerca de oito em cada dez crianças e adolescentes (83% do total) vivem na pobreza. É o que indica a pesquisa "As múltiplas dimensões da pobreza na infância e na adolescência no Brasil", lançada nesta terça-feira, 14, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O estudo analisa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
A baixa renda é uma das privações que mais impactam o grupo populacional. No Estado, 58,6% das meninas e meninos estão vivendo em casas cuja renda por pessoa é de no máximo 5,50 dólares por dia (o equivalente a até R$ 28,45 por dia, conforme cotação atual). É a quarta pior situação no Brasil, atrás apenas de Maranhão (68,5%), Alagoas (68,2%) e Manaus (63,4%). A melhor está no Rio Grande do Norte (1,2%).
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Outro fator preponderante é a falta de acesso ao saneamento, contribuindo para o nível de pobreza. Mais de seis em cada dez crianças (62,2%) não têm acesso a banheiro e rede de esgoto, o que coloca o Ceará na 13ª posição mais preocupante do País. A pior situação acontece no Piauí (90,9%), e a melhor está em São Paulo (8,7%).
"Saneamento exige um nível de investimento que é muito superior ao que hoje os municípios podem realizar, e a resposta é de médio e longo prazo. Por isso, a universalização do saneamento está entre os maiores desafios no Ceará para reduzir a pobreza multidimensional", analisa Rui Aguiar, chefe do escritório do Unicef em Fortaleza, apontando que a questão também está relacionada a doenças transmitidas pela água não tratada.
Aguiar nota ainda que saneamento e renda estão atrelados. "Os percentuais estão muito próximos,e podemos entender que tem a ver com a localização da família. A questão é qualidade das moradias, do local onde as crianças moram", diz.
Também são considerados o acesso à alimentação adequada, à educação sem atraso, à moradia adequada, à água potável e à internet em casa, além da incidência de trabalho infantil. O último ano em que todos esses indicadores foram avaliados foi 2019.
Liliana Chopitea, chefe de políticas sociais, monitoramento e avaliação do Unicef no Brasil, aponta que, “na maioria das vezes, essas privações se sobrepõem, agravando os desafios enfrentados por cada menina e menino”. “Por isso é urgente olhar para a pobreza de forma ampla e colocar a infância e a adolescência no orçamento e no centro das políticas públicas”, defende Liliana.
Observando o conjunto dos fatores, Aguiar afirma que há duas notícias boas para o Ceará: o acesso à educação e o combate ao trabalho infantil. "Nessas duas áreas houve um investimento público mais concentrado, com programas específicos e continuidade de política pública."
Segundo ele, para reduzir a pobreza multidimensional no Estado será necessário um "tremendo esforço" para aumentar a conectividade com a internet, melhorar as condições sanitárias que afetam as comunidades mais pobres e promover políticas de elevação da renda familiar.