Cearense volta ao Brasil uma semana após terremoto na Turquia: "Foi um livramento"

Morando em Missão Velha, cearense pede ajuda com mantimentos, já que perdeu tudo durante terremoto

21:10 | Fev. 14, 2023

Por: Alexia Vieira
Aminah Naham, cearense, e o marido, Fahd Al Awaj, refugiado sírio, voltaram ao Brasil após sobreviver ao terremoto na Turquia (foto: Arquivo Pessoal)

“Um dia estava tudo bem e, em um minuto e meio, tudo revirou”.

Essa foi a sensação de Aminah Naham, 47, cearense que morava há quatro anos na Turquia, após o terremoto que causou a morte de mais de 30 mil pessoas. A profissional da saúde morava em Gaziantep, cidade que foi o epicentro do terremoto, com o marido, Fahd Al Awaj, um engenheiro refugiado sírio.

Aminah perdeu a casa, os animais de estimação e diversos amigos na tragédia.

A cearense chegou ao Brasil em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) após ser repatriada. “Graças a Deus foi uma coisa que causou até espanto [pela rapidez]”, conta.

Aminah entrou em contato com o consulado brasileiro no país para pedir ajuda. A embaixada do Brasil conseguiu um visto para o marido de Aminah e, depois de horas em estradas destruídas pelo terremoto até a capital, Ancara, os dois conseguiram sair do país.

“A sensação é dividida. Estamos felizes por estarmos em segurança, mas destruídos por tudo que a gente passou. Foi um livramento grande de Deus”, afirma. A volta para o Brasil, segundo Aminah, foi decidida em meio ao desespero. “Ou a gente aproveitava ou ficaria correndo risco de morrer em outros desabamentos.”

Seis dias dormindo em uma praça após casa desabar

Nos dias anteriores ao terremoto, Aminah conta que seus gatos estavam agitados, miando muito pela casa. Ela chegou a achar que os animais estavam doentes. Pouco antes do primeiro tremor, ela foi acordada pelos gatos. “Eu sentei e o prédio começou a balançar de um lado para o outro. Eu ouvia um som como se a terra estivesse se revirando.”

Apesar de já ter passado por outros terremotos, nenhum tinha a magnitude dos que assolaram a Turquia e a Síria no dia 6 de fevereiro e marcaram mais de 7 pontos na escala Richter. Aminah se encaminhou para outras unidades do prédio em que morava para avisar aos vizinhos e ajudar a garantir a segurança de todos. Ela estava na escada quando o segundo terremoto atingiu a cidade.

Horas depois, quando já via prédios caindo, pessoas gritando por socorro e andando sem destino pela vizinhança, a cearense ainda não tinha noção do tamanho da tragédia que atingia os dois países.

Sem ter onde ficar, as pessoas foram se organizando em uma praça. Foram seis dias sem dormir, segundo Aminah, com pouca comida e sem água ou acesso a banheiros. No início, tendas eram improvisadas com cobertores e plásticos em meio a um frio de temperaturas negativas. Depois de alguns dias, o governo conseguiu barracas.

“Ainda me sinto sem equilíbrio. Dizem que isso acontece com vítimas de terremoto. Todo barulho me assusta”, relata. Para Aminah, só tem dimensão da tragédia quem viu de perto o que acontecia. Do lado das cidades da Síria atingidas, famílias inteiras de amigos do marido morreram. Devido à situação econômica precária da Síria, que vive em guerra civil há 12 anos, os recursos para resgates são ainda mais escassos.

Recomeço no interior do Ceará

Agora o plano de Aminah e do marido é de se estabelecer no Ceará. O casal está morando em uma parte da casa cedida pela vizinha da mãe de Aminah, em Missão Velha, na região do Cariri. “Minha mãe não tinha estrutura para receber a gente”, conta. A residência em que estão teve a luz elétrica cortada e não tem gás de cozinha.

Aminah pede doações de alimentos, roupas ou qualquer ajuda para conseguir se manter. Ela também procura um emprego para o marido, que é engenheiro e trabalhava como mestre de obras na Turquia. O objetivo é também ajudar os familiares e amigos que ainda estão na Síria e na Turquia. “Os tremores continuam. Não sabemos se vai parar, quando vai ser possível reconstruir.”

Serviço

Como ajudar Aminah Naham e o marido

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