Cultura popular: Mostra cearense celebra o Dia de Reis em praça de Fortaleza

Ação ocorre após os dois últimos anos de paralisação das celebrações oficiais de reisado, em decorrência da pandemia de Covid-19

A brincadeira como instrumento contra a tristeza foi o tema do encerramento da XV Mostra Estadual Ceará Ciclo Natalino, para celebrar o Dia de Reis, nesta sexta-feira, 6, na Praça do Ferreira, em Fortaleza. A ação acontece após os dois últimos anos de paralisação das celebrações oficiais de reisado, em decorrência da pandemia de Covid-19.

O evento desta sexta-feira marca o fim de um ano e a abertura de um novo ciclo de festividade para a cultura cearense. Para o calendário cristão, a data de hoje faz alusão a visita dos três Reis Magos após o nascimento de Jesus Cristo, presenteando o menino e seus pais, Maria e José, com ouro, incenso e mirra.

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As atividades promovidas no encerramento da Mostra incluíram apresentações de bois, pastoris, reisados, cortejos (realizados com os grupos de Tradição e Projeção Folclórica) e duas exposições artísticas. A programação também homenageia a Mestra Zulene Galdino, Tesouro Vivo do Ceará, referência da Cidade do Crato, em relação à cultura popular.

A dança e a festividade captaram o olhar de quem passava pela Praça. Maria Santana, 70 anos, mora em Pacatuba e trabalha em Fortaleza. “Eu vi diversas apresentações emocionantes agora. Eu nunca tinha visto o Estado organizar uma festa assim. Eu até perdi o horário para ir para Pacatuba, por causa da apresentação. Sentei aqui e fiquei muito envolvida com tudo isso” conta.

Um dos grupos a se apresentar no local foi o da Pastoril Mariinha da Ló (Paracuru), que atua há 47 anos. Jadson Sales é integrante do Pastoril e conta que o grupo é caracterizado por englobar linhagens de famílias inteiras em Paracuru.

"A geração que vemos atualmente é fruto de uma hierarquia familiar. Eu participo do grupo há 14 anos, já fui o personagem José, caçador, rei e agora sou anjo. Poder estar aqui é muito importante. Trazer nossa Mestra aqui tem um significado muito especial. O Pastoril resgata a cultura dentro da nossa Cidade", contou o artista popular.

Cultura popular como patrimônio imaterial

A nova secretária da Cultura do Ceará (Secult), Luisa Cela, esteve no local e comentou a importância da organização da ação sob o aparato do Estado do Ceará. “A Mostra traz a alegria e a brincadeira para evidenciar as tradições populares. O evento também presta homenagens aos Mestres da cultura popular do Ceará. Esses mestres são os grandes detentores da nossa sabedoria e do nosso fazer cultural como uma forma de ser cearense.”

“A política de patrimônio precisa preservar as tradições, mas também difundir isso. Não adianta preservar se as pessoas não vão conhecer. Eu estou feliz de estar chegando na Secult diante de um cenário em que as restrições estão mais brandas e nós temos vacina. A cultura vive de encontros e multidões, o contato é fundamental. Nossa perspectiva é voltar às ocupações e eventos.”

Quem endossou a fala da secretária foi a coordenadora de Patrimônio Cultural e Memória (Copam) da Secult, Jéssica Ohara. Nós tentamos entender quais as reais necessidades dos grupos tradicionais para preservar, valorizar e disseminar essa produção. A gente entende que o tempo faz com que as novas gerações tenham outros interesses, por isso temos buscado incentivar as manifestações tradicionais e preservar a tradição cultural.”

“O intuito da Mostra é fazer com que os Mestres da cultura popular continuem sendo relevantes, além de incentivar a inserção das novas gerações na construção e preservação da nossa identidade como cearenses”, explica Jéssica.

Alguns Mestres ou grupos são considerados “Tesouros Vivo”, representantes da identidade cultural, que guardam um aspecto da sabedoria tradicional do Ceará. “É uma forma de registrar um bem como algo além de um objeto, como um patrimônio imaterial que se renova”, conclui Jéssica.

A Mostra de 2022 faz uma homenagem à Mestra Zulene, da cidade do Crato, considerada uma das grandes guardiãs das tradições populares do Cariri cearense, onde desenvolve a manifestação da Lapinha Viva, que busca encenar os primeiros momentos da vida de Jesus Cristo após seu nascimento, além de outras expressões culturais (coco, maneiro pau).

Dois anos de pandemia

A coordenadora de produção da Mostra de Ciclo Natalino, Sheila Fernandes, conta que a organização desse novo ciclo acontece após um longo período pandêmico. “Apesar do momento triste para a Cultura durante a pandemia, acreditamos que, neste momento, a gente pode deixar um pouco a tristeza de lado para tratar esse momento com mais leveza.”

“Fomentar o evento através da Secult é realizar um resgate, manutenção e valorização das manifestações populares. A pandemia desarticulou grupos tradicionais e levou alguns Mestres ao encantamento. O encantamento é uma referência a morte de alguém. Quando alguém se encanta, ela morre fisicamente, mas continua viva entre nós através da memória”, explica.

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