Cuidados com a visão são necessários para frear avanço da miopia entre crianças

Visitas frequentes ao oftalmologista podem ajudar a acompanhar e corrigir o problema

Eleita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como "a epidemia do século XXI", a miopia tem se tornado mais frequente. O aumento do número de casos preocupa oftalmologistas, principalmente em relação às crianças míopes. A exposição às telas e a falta de atividades ao ar livre podem ser fatores que agravam a condição nesta faixa etária.

A oftalmopediatra Paloma Caviver afirma que a pandemia de coronavírus acelerou essa tendência. "Antigamente as crianças brincavam mais ao ar livre e, hoje em dia, tanto por causa da pandemia como pela mudança dos hábitos comportamentais, as crianças estão cada vez mais em casa, assistindo televisão, celular, tablet, participando de aula online", explica.

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Esses comportamentos podem ter relação com o aumento dos casos de miopia pois, segundo a vice-presidente da Sociedade Cearense de Oftalmologia (SCO), Hissa Tavares, com o foco da visão estando frequentemente em objetos próximos ao rosto, a contração dos músculos dos olhos é induzida.

Com essa contração, pode acontecer o aumento do tamanho do olho. E é com esse alongamento que a miopia é agravada, fazendo com que ocorra um erro no foco das imagens na retina e o indivíduo tenha dificuldade de ver com clareza objetos distantes.

Um estudo publicado no jornal científico The Lancet, em 2021, analisou mais de 30 pesquisas que relacionavam a miopia com o uso de aparelhos eletrônicos. Conforme a interpretação dos pesquisadores, a exposição a esses equipamentos pode aumentar o risco para miopia. No entanto, eles afirmam que mais pesquisas são necessárias.

No Brasil, sete a cada dez médicos entrevistados em um levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) constataram a progressão da miopia em crianças durante a pandemia. A pesquisa entrevistou 295 oftalmologistas entre abril e junho de 2021.

“Quando a criança já tem predisposição, se o pai tem ou a mãe tem miopia, ela pode ter um grau maior do que teria sem essa exposição”, afirma Hissa. “O que mais nos preocupa na miopia não é só a dificuldade visual, porque ela pode ser corrigida com o óculos. Mas a miopia tem uma tendência de aumentar ao longo da vida. Então, se uma criança começa com a miopia muito cedo, ela tem muitos anos para que a miopia aumente”, diz Paloma.

O aumento do grau de forma avançada, de acordo com Paloma, pode fazer com que a criança se torne uma pessoa com alta miopia, caracterizada por ultrapassar seis graus. Outras complicações, como glaucoma precoce, catarata e descolamento da retina, também são mais frequentes em pessoas com esse quadro.

Henrique Beltrão, que é alto míope, descobriu em 2021 que a filha, Flora Beltrão, de 10 anos, também tem miopia
Henrique Beltrão, que é alto míope, descobriu em 2021 que a filha, Flora Beltrão, de 10 anos, também tem miopia (Foto: Arquivo Pessoal)

Como perceber a miopia nas crianças?

 

Henrique Beltrão, pai de Flora Beltrão, de 10 anos, percebeu que a filha começou a levantar para ficar mais próxima da TV, principalmente quando havia algo para ler na tela. Em consulta com uma oftalmologista pediátrica, foi confirmado o diagnóstico de miopia no fim de 2021. A surpresa, para o pai da criança, não foi relacionada ao diagnóstico, já que Henrique e a mãe da menina, Karla Martins, são altos míopes.

“Nós achamos que isso aconteceria na adolescência, mas confesso que a miopia ainda criança e com um grau já significativo nos pegou de surpresa”, afirmou o radialista. Ele conta que o uso de telas aumentou durante os períodos de isolamento na pandemia, mesmo com as tentativas de propor brincadeiras como futebol dentro do apartamento e jogos de tabuleiro.

Procurar ver mais de perto as telas é um dos sinais que ajudam os pais a identificar uma dificuldade na visão das crianças. De acordo com Paloma, tropeçar e cair muito, ter sensibilidade à luz solar, ter dificuldade de ver o que está escrito na lousa na escola e aproximar muito os objetos do rosto podem ser sinais de alerta.

“Muitas vezes as crianças pequenas são assintomáticas, os pais não conseguem perceber nada. Por isso é importante trazer de rotina pro oftalmopediatra anualmente”, diz a médica. Hissa Tavares também recomenda o acompanhamento para crianças que têm casos de miopia na família.

Prevenção e cuidados

 

Além de controlar o acesso às telas, respeitando a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre o tempo de exposição diária conforme cada idade, a oftalmologista Paloma Caviver orienta que os pais deem oportunidade para as crianças brincarem ao ar livre.

“Na exposição solar, a criança não está com o olho contraído como na visão de perto, ele fica relaxado”, explica Hissa. Por isso, Henrique e Flora costumam passear em parques e praças. “A própria oftalmologista da Flora insiste muito nisso, que não é só tirar das telas. Devido a ser de uma geração bem anterior à da Flora, eu brincava na rua, o que já não é muito possível. Por ela ter poucas oportunidades, nós estimulamos”, afirma Henrique.

A frequência da visita ao médico especialista também ajuda na correção do grau. Hissa explica que o grau aumenta ao passo que a criança cresce e, portanto, é necessário trocar os óculos mais vezes.

Paloma também afirma que mesmo antes de aprender a ler, já é importante visitar o oftalmologista. “Os pais não têm costume de levar os pacientes de rotina porque acham que quando as crianças são pequenas não conseguimos examinar as estruturas oculares, mas isso é um mito. Desde que o bebê nasce a gente já consegue sim examinar o fundo de olho, o grau”, diz.

Tempo de tela por faixa etária recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria

Menores de 2 anos: nenhum contato com telas ou videogames;
Dos 2 aos 5 anos: até uma hora por dia;
Dos 6 aos 10 anos: entre uma e duas horas por dia;
Dos 11 aos 18 anos: entre duas e três horas por dia.

 

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